quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – o proêmio; condição de fragilidade das mulheres a quem as novelas são dedicadas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/01/decamerao-de-boccaccio-interesse-pelo.html antes de ler esta postagem:

 Na abertura do proêmio se lê: “Tem início aqui o livro chamado Decamerão, conhecido por Príncipe Galeotto, no qual estão contidas cem novelas, narradas em dez jornadas, por sete mulheres e três homens jovens”.
Notamos a amargura daquele que viveu uma grandiosa paixão... Tendo se entregado desmedidamente a ela, veio a se angustiar de modo depressivo... Calculamos sua desventura a partir da afirmação de que só não sucumbiu graças aos “raciocínios de algum amigo”... O trauma daquele sofrimento chegou ao fim, mas tal amor jamais seria totalmente dissipado.
É por gratidão que escreve... O texto que produz é uma oferta àqueles que o ajudaram... Reconhece que, naturalmente, os que se demonstraram verdadeiras fortalezas não tenham necessidade de nada do gênero... Nesse caso, é de se esperar que os que padecem infortúnios semelhantes ao que ele próprio viveu possam tirar algum proveito... Ao menos darão atenção especial às narrativas e as entenderão.
O proêmio ajuda-nos a conhecer a condição da mulher (de família abastada) do século e a dos homens do século XIV. Evidentemente não é este o objetivo desta parte do livro, mas não há como não tecermos observações a respeito.
O texto, enquanto “alívio e conforto” aos que sofrem, segue dedicado “mais às mulheres belas do que aos homens”. A partir das considerações do autor, elas se apresentavam mais vulneráveis que os homens, e por isso careciam amparo. Depreende-se que as mulheres amam ardorosamente, “receiam envergonhar-se e retraem-se”; possuem desejos sufocados pelas imposições de pai e mãe, e sofrem silenciosamente a condição de submissas aos homens... Não há como se imaginar que sua situação proporcionasse satisfação e deleite, já que apenas na solidão de seus pensamentos conseguiam consolação... Sem possibilidades de alcançar compreensão e mudança de seu estado de ânimo, permaneciam solitárias e necessitando de amparo.
Bem diferente era a condição masculina. Nos casos de melancolia, o homem tinha possibilidades de buscar entretenimentos diversos, fosse “armando armadilhas para os pássaros”, jogando, caçando, pescando ou cavalgando...
As novelas (parábolas, fábulas ou estórias) de O Decamerão destinam-se, então, às frágeis mulheres... Para aquelas que amam e não têm nenhum refúgio (obviamente não se trata aqui daquelas que em seu cotidiano lidavam com agulha, fuso e roca)...
“Prazer, conselho e exemplos”, embora direcionados para o bem e o reconforto, podem provocar certos aborrecimentos... É claro que o autor espera que seu livro não encaminhe os leitores para as mesmas sensações, todavia é ele mesmo quem adverte que as novelas relatam casos de amor, “uns agradáveis, outros escabrosos”... As mulheres que eventualmente tomarem conhecimento dos enredos poderão se beneficiar de algum conforto... Escolhas deverão ser feitas por elas, que deverão saber o que poderão seguir ou refutar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/01/decamerao-de-giovanni-boccaccio-o_17.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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