sexta-feira, 18 de março de 2011

Filme: Crash - No Limite

Indicação (14 anos)

E esse filme Crash - No Limite?
Acabei assistindo. Não tinha aqui a intenção de contar o que é a história escrita e dirigida por Paul Haggis (Oscar de melhor filme em 2006)... Acho que ele dá um panorama do que é a geleia geral da sociedade norte-americana.  E acho que faz isso muito bem. Mas, você sabe, não é fácil tecer comentários sem entrar nos detalhes. Há quem critique o filme, mas acho que ele tem potencial interessante para pensarmos um trabalho com os alunos.

O Crash é o contato, o “encontrão” das pessoas caminhando pelas calçadas, umas sem falar com as outras... Elas mal se olham.

Pois é, mas estão todos ali se misturando, sem saberem quem é quem... Isso é bem o que ocorre nas grandes cidades do mundo, como São Paulo ou Los Angeles (onde as tramas de Crash ocorrem).

Conforme o filme se desenvolve, assistimos ao entrelaçamento “não espontâneo” de diversos tipos que têm de conviver... São negros, asiáticos, latinos, miscigenados e brancos endinheirados (ou não). Cada um segue com sua “visão de mundo”... Em geral uns não aceitam aos outros... O outro é o “estrangeiro”, o “diferente”, o “pobre”... Essa relação é complicada porque parece que as pessoas vão permitindo crescer o preconceito, o racismo e a intolerância, e ao mesmo tempo se vêem sufocadas por tudo isso. Viver torna-se difícil demais.

Sandra Bullock vive a esposa, dona de casa, de um bem sucedido promotor. É uma das que se vêem nessa situação. O rico casal foi vítima de assalto à mão armada. Ela não consegue deixar de descarregar todo o seu ódio contra os negros que violentamente levaram o carro do casal. Mas ao mesmo tempo sabe que o marido procura aceitação na comunidade negra para obter votos, enquanto ele faz de tudo para se mostrar popular, a troca das travas da porta de casa gera preocupações para ela porque é um negro que faz o serviço... Sua empregada é latina e só isso já basta para que a milionária descarregue contra ela todas as suas insatisfações...

Há o segmento da família libanesa, proprietária de um mercadinho, alvo de tentativas de assalto... O velho libanês quer defender os negócios e a família, então quer adquirir uma arma. Para este fim conta com o auxílio de sua filha que é médica legista. O episódio na loja de armas mostra uma comunicação repleta de preconceitos entre o negociante americano e o libanês. Como não se faz entender com facilidade, o vendedor de armas e munições o destrata, qualificando-o de terrorista... Vê-se que a identidade do estrangeiro é abalada, “desconsertada”.

Esse episódio é interessante também porque após a discussão entre os dois, é a filha do libanês que escolhe a caixa de munição (isso determina o desfecho de uma das tragédias). O mesmo “chaveiro” que fez o serviço na casa dos ricaços aparece no estabelecimento do libanês... De fato o moço é competente e se mostra honesto com o comerciante ao afirmar que não é de seus serviços que eles estão precisando, mas sim de alguém para trocar a porta, que se apresenta vulnerável aos arrombamentos... Mais uma vez notamos dificuldades na comunicação entre os “diferentes”... A noite seguinte foi marcada pelo arrombamento do mercadinho, que apareceu com pichações grosseiras contra os “proprietários árabes” (!). O pobre imigrante quer fazer justiça com as próprias mãos, mas em sua interpretação o culpado é o “chaveiro”. 

Os carros que a dupla assaltante (lá do início do filme) conseguia tinham um destino certo. Os diálogos que mantinham enquanto dirigiam também revelam que os dois jovens não compartilham totalmente as mesmas ideias sobre o Movimento Negro ou sobre o racismo em seu país... No percurso atropelam um oriental, logo identificado por eles como “chinês” (mais ou menos como aconteceu com o libanês confundido com um árabe)... Despacham o carrão subtraído dos milionários... Mais tarde o mais exaltado dos rapazes leva a Van do oriental atropelado...

Pois é... A esposa desse oriental (que foi parar no hospital) havia se envolvido em um acidente de trânsito e discutiu com uma latina (isso é logo no começo do filme)... Essa é uma policial que trabalha com o investigador negro, Grahan Waters. O relacionamento dos dois policiais ultrapassa os “do ofício”... Ela é cotidianamente identificada como “branca”, “mexicana”... Embora sua origem seja porto-riquenha... Grahan Waters (Don Cheadle) também tem seus dramas pessoais. Sua mãe é viciada em drogas pesadas e vive, em condições degradantes, à espera do filho mais novo... Este é simplesmente o assaltante que forma dupla com aquele mais exaltado. Waters procura tranquilizar a mãe dizendo que encontrará o irmão.

Há dois outros policiais, os oficiais Hansen e Ryan (Matt Dillon). Ryan é o mais vivido na corporação, passa por situações bem complicadas. Seu velho pai enfrenta graves problemas urológicos e o Plano de Saúde não garante um tratamento digno ao paciente... Ryan parece descarregar sua ira nos cidadãos de bem que “cruza” nas ruas e estabelecimentos de L. A. Isso ocorre quando ele conversa com a enfermeira Shaniqua Johnson, que é quem responde pelo Seguro. O policial despeja uma série de ofensas à mulher, mais uma negra... Ryan não se conforma que o destino de seu pai, um contribuinte branco, esteja nas mãos dela.

Há o episódio em que a viatura de Ryan obriga Cameron a parar o seu veículo para checagem de documentos e outras indagações... Cameron é um diretor de TV e está acompanhado pela esposa, Christine (Thandie Newton), que na ocasião é molestada por Ryan. Este não esconde seu agressivo racismo. Cameron se mostra um negro “adaptado à cordialidade e modo branco de viver” e, assim, procura não provocar maiores complicações com a situação provocada pelo policial... Mas o ocorrido deixou traumas em Christine, que esperava outra reação do marido.

Hansen, o outro policial, se mostrou indignado com a atitude do parceiro e solicita mudança de dupla. Ryan disse a ele algo como “o ofício o fará mudar o modo de encarar a realidade”.

Dupla desfeita, e não é que os destinos se cruzam novamente? O “mais irado” dos jovens assaltantes do início atua sozinho e quer roubar ninguém menos que o nosso diretor de TV, que anda decepcionado com a vida depois dos últimos acontecimentos... Os dois discutem e Cameron tem uma arma apontada contra o corpo... O carro segue em disparada e passa a ser perseguido por veículos policiais, entre os tiras está o policial Hansen. É ele que, reconhecendo-o da última ocorrência, acaba evitando confusões maiores para Cameron.

Cameron também acabou protegendo o rapaz assaltante, que permaneceu no interior do veículo. O diretor de TV o deixa numa calçada... Cada um segue o seu caminho... Christine se envolveu em um sério acidente... O carro dela capotou e está prestes a explodir. A mulher é salva pelo policial Ryan, não sem antes demonstrar desespero e indignação ao vê-lo.

O mais jovem dos delinquentes, irmão do investigador Grahan Waters, pede carona na estrada, pois pretende assistir a uma partida de hóquei no gelo. Hansen está à paisana e é o motorista que decide fazer a gentileza... Os dois trocam algumas ideias e Hansen, em pouco tempo, imagina que o rapaz pode atentar contra sua vida. Um mal entendido leva o policial a assassiná-lo... O garoto fez um movimento para retirar uma estatueta de São Cristóvão (idêntica à do painel do carro de Hansen) do bolso e isso apavorou Hansen... Desesperado, o policial abandona o cadáver à beira da estrada e incendeia o próprio veículo. A neve começa a cair... Há uns tipos que se aquecem ao calor do carro queimando... Cameron chega e também se aquece... Telefona para Christine... Melodrama.

O investigador Waters chega ao local onde está o cadáver do próprio irmão... Ao reconhecê-lo, sabe que fracassou... A mãe não o perdoa. O corpo está aos cuidados da filha do libanês...

O pai da legista está encantado porque acredita que um milagre o impediu de assassinar a filha do “chaveiro”. A garotinha colocou-se nos braços do pai no momento em que o revoltado libanês disparava sua arma... Mas ele não sabia que a munição era festim. A legista parecia prever que o pai poderia se envolver em alguma confusão...

O rapaz mais radical (parceiro do jovem assassinado) levou a Van do oriental atropelado... No local de receptação do veículo roubado ficou sabendo que ela estava repleta de imigrantes ilegais... O atropelado traficava esse pessoal (tailandês, chinês, vietnamita?). O rapaz que havia passado por tantas situações conflituosas (também em relação aos seus conceitos) resolve deixá-los (livres) num bairro oriental...

E a esposa (Bullock) do candidato? Percebe que é uma solitária infeliz e que a pessoa em que mais pode confiar é a empregada Maria, a latina.

O policial Ryan? Prossegue confortando o velho pai nas noites mal dormidas...

Mais um crash, o derradeiro do filme... Shaniqua Johnson, a enfermeira negra que se mostrou indignada com as ofensas do policial branco, salta do carro despejando impropérios contra o outro motorista... Mais um latino. A vida segue na grande cidade com seus encontros e desencontros.


Um abraço,
Prof.Gilberto

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