Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/12/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes
de ler esta postagem:
Vimos
que na França, ainda no começo da Revolução, ocorreu o debate em torno da
condição dos negros e da necessidade de estender-se a eles os direitos de
cidadania. Grupos como o da “Sociedade dos Amigos dos Negros” postulavam a
abolição da escravatura, mas eram minoria na Assembleia Nacional, sofreram
forte oposição e declinaram de suas intenções mais radicais diante dos ataques
do comitê colonial representado por seu porta-voz, Antoine Barnave.
(...)
Apesar disso, os ricos empreendedores brancos que haviam se instalado em
Saint Domingue (Haiti) perceberam a importância dos acontecimentos na metrópole
e, ainda em 1788, passaram a reclamar “reformas no comércio” e por
representação “nos vindouros Estados Gerais”. O exemplo norte-americano os aninava
e, caso houvesse interferências da metrópole no sistema baseado no escravismo,
ameaçavam dar início ao movimento de emancipação.
Também os brancos das
classes menos favorecidas (artesãos e comerciantes) esperavam que o processo
revolucionário na metrópole resultasse em melhorias e possibilidades de
participação política na colônia. Em relação a essas aspirações, enfrentavam a
resistência dos mais ricos.
Em Saint Domingue havia ainda o segmento dos “negros e
mulatos livres” que, sem dúvida, concentrava as maiores demandas e ameaças à
estrutura dominada pelos mais ricos. O Antigo Regime, através dos decretos da
monarquia, impedia o acesso de negros e mulatos livres à maioria dos ofícios e,
além disso, os proibia de “adotar o nome de parentes brancos”.
Lynn Hunt ressalta que apesar das restrições, “as pessoas de cor livres (...)
possuíam consideráveis propriedades: um terço das plantações e um quarto dos
escravos em Saint Domingue”. E era por isso mesmo que reivindicavam o mesmo tratamento
que era dispensado aos brancos, além de se mostrarem favoráveis à manutenção do
escravismo.
O mestiço Vincent Ogê foi eleito delegado e partiu para
a agitada Paris em 1789... Colocou-se como representante deste segmento social.
Fez contato com cultivadores brancos e procurou mostrar-lhes que possuíam
interesses em comum e, para destacar a necessidade de aprovarem os “direitos
iguais aos homens de cor livres”, dizia que:
“Veremos
derramamento de sangue, nossas terras invadidas, os objetos de nosso trabalho
destruídos, nossas casas queimadas (...) o escravo levará a revolta mais longe”.
Vincent Ogê insistia que a aliança dos cultivadores brancos com os
negros e mulatos livres (e proprietários, como era o seu caso) seria vital para
conter possíveis levantes de escravos. Todavia ocorreu que os que representavam
os proprietários brancos de Saint Domingue na Assembleia não se mostraram
favoráveis à aliança com negros e mulatos livres... A “Sociedade dos Amigos dos
Negros” tampouco se sensibilizou pela causa e não apoiou Vincent Ogê. Este
retornou a Saint Domingue e na segunda metade de 1790 liderou uma fracassada agitação
dos “homens de cor livres”. Como resultado, Ogê acabou preso e “supliciado na
roda”.
(...)
A “Sociedade dos Amigos dos
Negros” prosseguiu em sua campanha pelos direitos dos negros livres... Em maio
de 1791 obtiveram importante conquista com a aprovação do decreto que garantia
direitos políticos aos “homens de cor livres nascidos de mães e pais livres”.
Assim que as notícias da
rebelião dos escravos de Saint Domingue (agosto de 1791) se espalharam, os
deputados anularam o decreto... Oito meses depois aprovaram outro “mais generoso”.
As “idas e vindas” no processo revelavam a confusão que se estabelecera entre
os deputados. O motivo não era outro senão o panorama de convulsão nas colônias.
A rebelião de agosto desnorteava as autoridades, pois cerca de 10 mil escravos participaram
desde o início e rapidamente outros mais se juntavam a eles nos ataques aos
brancos e aos incêndios aos canaviais e às casas dos cultivadores.
Acuados, os ricos proprietários brancos passaram
a acusar a “Sociedade dos Amigos dos Negros” e a difusão dos “Direitos do Homem”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/12/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_19.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto