quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sobre o 21 de abril

Nesta data (em 1792) morria Tiradentes, como passou para a História Joaquim José da Silva Xavier. Ele participou entusiasticamente dos episódios que marcaram a Inconfidência Mineira. Dos envolvidos foi o único condenado à morte na forca, teve o corpo esquartejado e espalhado por caminhos e logradouros onde estivera durante a trama revoltosa.

Muitos conhecem pelo menos um pouco sobre o que foi enunciado anteriormente. Vários outros, porém, sequer sabem o motivo do feriado nacional em nosso país. Há aqueles que fazem brincadeiras com a alcunha do alferes mineiro... E param por aí.
Acho que convém refletir um pouco sobre alguns aspectos.

Um desses aspectos, não há dúvida, é o de que ele se tornou “herói” depois que o poder mudou de dono. É, porque ao tempo da Inconfidência contra Portugal e o Imposto da Derrama, obviamente ele foi perseguido por se tratar de um criminoso aos olhos do poder. Mais de cem anos depois sua personagem é resgatada. E por quê? Porque a República havia sido proclamada em 1889...

Ao tempo da Inconfidência nosso país era uma colônia explorada... Muitas revoltas aconteceram contra o mercantilismo português (as nativistas, entre meados do século XVII e inícios do XVIII, revelam insatisfação embora não fossem caracterizadas pelas tentativas emancipacionistas; as de emancipação, entre o final do XVIII e inícios do XIX receberam forte influência da Independência dos Estados Unidos, do Iluminismo, da Revolução Francesa e das Guerras Napoleônicas). Inclusive, à mesma época em que ocorreu a Inconfidência em Minas Gerais, a Bahia havia sido sacudida pela “Revolta dos Alfaiates”, um movimento popular que envolveu revoltosos negros e que resultou na morte de quatro condenados à forca apenas sete anos depois de Tiradentes. Interessante refletir por que o movimento mineiro (e não o baiano) é lembrado no calendário.
Podemos mesmo dizer que a Inconfidência Mineira foi um movimento articulado por brancos, que possuíam condição social acima dos demais. Se comparado ao movimento da Bahia, o lembrado episódio do qual Tiradentes participou pode ser considerado mais conservador. Os conjurados da Bahia pretendiam a libertação dos escravos; os inconfidentes mineiros eram intelectuais e funcionários públicos proprietários de escravos (o próprio “herói” da presente data celebrada foi senhor de uns cinco) e não cogitavam a alforria.

Os documentos relativos às investigações e processo (Devassa) contra os inconfidentes de Minas Gerais revelam que no início Tiradentes procurou esquivar-se de culpa, mas acabou assumindo sozinho ser articulador do movimento. Os demais inconfidentes negaram e tiveram como pena o degredo.
Se você fizer uma pesquisa constatará que o movimento que instaurou a República no Brasil em 1889 não contou com participação popular. O povo e os problemas sociais não eram temas das pautas dos republicanos brasileiros. A República possuía adeptos entre a elite cafeicultora e os militares do Exército muito mais por acharem que a mudança significava um “progresso” em relação ao “atraso” que era a Monarquia. Você verá que há “fatores desarticuladores” das alianças entre Monarquia e fazendeiros; e militares; e religiosos. Verá também que a causa republicana carecia de símbolos e heróis. Deodoro da Fonseca, que foi o proclamador da República, é considerado um “republicano de última hora!”. O livro de José Murilo de Carvalho, A Formação das Almas, explicita essas várias situações.

Tiradentes é, então, resgatado e surge como Republicano, Mártir da Independência e até como Abolicionista. Embora fosse militar (e por isso acostumado à disciplina de escanhoar-se), é retratado como um santo com fisionomia e trajes que em muito lembram o de Cristo do imaginário popular. Logo ele é homenageado por decreto republicano de 1890 com a instituição do feriado, e passa a ser identificado em monumentos em sua lembrança.
Leia: A Formação das Almas. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto 

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