O tempo passa e nem percebemos as mudanças que se processam!
De repente vemos que os pais envelheceram, que nossos filhos cresceram e chegaram ao estágio das primeiras decisões adultas.
Também nós estamos mais velhos e menos interessantes. Nosso semblante tornou-se mais carregado (decepções e amarguras explicam essa condição).
Não é isso o que desejávamos, mas parece que cedo ou tarde uma angústia mais aguda fatalmente nos atinge.
Pertenço a outra geração... E a tal Modernidade Líquida (aqui vai essa referência ao conceito tão em moda de Zygmunt Bauman) me faz sentir mais leve o coração... Suas fracas batidas parecem acusar um imenso vazio.
Recuerdos.
Uma criança e seu pai lá no passado...
Numa dessas manhãs (talvez do mês de outubro) me vi chorando no ônibus... É assim mesmo, a tristeza chegou e, com ela, o pranto.
No meio das minhas coisas de escola estavam alguns livros que a filha decidiu doar para as crianças... Por acaso peguei aquele “Noites Iluminadas”. Reli as palavras simples de algumas páginas e fui conduzido àquelas noites de sua infância, quando lia para ela antes de dormir.
Que sentimento de perda!
Deus concedeu-me aquelas oportunidades todas. Penso isso com sinceridade.
Aquela paz se foi... Está lá no passado.
É claro que não podemos deixar de agradecer pela jornada.
Quantas experiências inesquecíveis!
Superações e aprendizados; sucessos, fracassos, decepções e amarguras.
É claro que não podemos deixar de agradecer também pelo momento presente, pelo dom da vida, suas alegrias e esses pequenos dramas burgueses da existência.
(...)
A
vida é mesmo repleta de desilusões...
Nos acostumamos a
levar em conta apenas os bons momentos, a boa maré, o céu aberto, a
tranquilidade... Por isso estranhamos a tristeza mais profunda.
É verdade que ela
demora a chegar para alguns. Independentemente da condição social de cada um,
as expectativas diante da realidade também podem retardar a percepção das
amarguras.
Você
pode dizer que essa “descoberta” se mostra tardia. E tem razão, pois a maioria
conhece essa condição desde cedo. Muitos percebem suas mentes repletas de
angústias em tenra idade.
De mais angústias
burguesas...
Aquilo que parecia
sólido (nossa confiança no mundo e vontade de viver) está ruindo a cada dia. Você
dirá que a transformação é constante. De minha parte, poderia apostar que não
são muitos os que querem experimentar isso.
Demoramos a acreditar que existem pessoas que se
dedicam a nos golpear (quantos golpes!).
Criminosos nos sondam
no conforto da distância e anonimato. Estão dispostos a faturar a todo custo. Infelizmente
não posso dizer que você esteja totalmente seguro neste momento. A internet
possibilita muitas armadilhas. Isso é absurdo e decadente, todavia há uma
geração inteira devidamente adaptada à “liquidez” desses novos tempos (Bauman
novamente).
Não gostaria que isso fosse verdadeiro, mas assim é. As manobras dos
golpistas desgastam o nosso ser. Então o desassossego nos invade.
Deixamos
de confiar nos conselhos (confiamos em algum momento?).
Houve ocasiões em que
reagimos com agressividade. Os que nos cercam ficaram sem entender o motivo.
É
que esses esperam de nossa parte a cordialidade “de sempre”... Além disso estão
mais acostumados às manifestações comuns em suas “redes”, onde evidentemente tudo
é “líquido” e seus adicionados podem ser facilmente evitados e até excluídos. Sentem-se
satisfeitos porque aí podem preservar apenas “os bons momentos, a boa maré, o
céu aberto, a tranquilidade”...
(...)
Isso não é um
paradoxo.
Temos de agradecer por toda incerteza que nos invade. Ela nos lembra que
somos limitados. Nos lembra que a “modernidade é líquida”...
Recusei o desabafo durante o tempo em que me afastei daqui.
Todavia é impossível superar os tropeços sozinho.
Meu Deus...
Quem lê essas coisas?
Como se vê, é difícil deixar claro os motivos da ausência prolongada. E
olha que não devo satisfações a ninguém!
O receio persiste...
Agregar as forças
para retomar é complexo demais!
Preciso tentar novamente.
Vou
me esforçar.
Um abraço,
Prof.Gilberto