quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Diálogo das frustrações pessoais e “líquidas”; constatações burguesas acerca de certos perigos e sobre a “liquidez” das relações de nosso tempo

Meu Deus!
O tempo passa e nem percebemos as mudanças que se processam!
De repente vemos que os pais envelheceram, que nossos filhos cresceram e chegaram ao estágio das primeiras decisões adultas.
Também nós estamos mais velhos e menos interessantes. Nosso semblante tornou-se mais carregado (decepções e amarguras explicam essa condição).
Não é isso o que desejávamos, mas parece que cedo ou tarde uma angústia mais aguda fatalmente nos atinge.
Pertenço a outra geração... E a tal Modernidade Líquida (aqui vai essa referência ao conceito tão em moda de Zygmunt Bauman) me faz sentir mais leve o coração... Suas fracas batidas parecem acusar um imenso vazio.

Recuerdos.
Uma criança e seu pai lá no passado...
Numa dessas manhãs (talvez do mês de outubro) me vi chorando no ônibus... É assim mesmo, a tristeza chegou e, com ela, o pranto.
No meio das minhas coisas de escola estavam alguns livros que a filha decidiu doar para as crianças... Por acaso peguei aquele “Noites Iluminadas”. Reli as palavras simples de algumas páginas e fui conduzido àquelas noites de sua infância, quando lia para ela antes de dormir.
Que sentimento de perda!
Deus concedeu-me aquelas oportunidades todas. Penso isso com sinceridade.
Aquela paz se foi... Está lá no passado.
É claro que não podemos deixar de agradecer pela jornada.
Quantas experiências inesquecíveis!
Superações e aprendizados; sucessos, fracassos, decepções e amarguras.
É claro que não podemos deixar de agradecer também pelo momento presente, pelo dom da vida, suas alegrias e esses pequenos dramas burgueses da existência.

(...)

A vida é mesmo repleta de desilusões...
Nos acostumamos a levar em conta apenas os bons momentos, a boa maré, o céu aberto, a tranquilidade... Por isso estranhamos a tristeza mais profunda.
É verdade que ela demora a chegar para alguns. Independentemente da condição social de cada um, as expectativas diante da realidade também podem retardar a percepção das amarguras.
Você pode dizer que essa “descoberta” se mostra tardia. E tem razão, pois a maioria conhece essa condição desde cedo. Muitos percebem suas mentes repletas de angústias em tenra idade.

De mais angústias burguesas...
Aquilo que parecia sólido (nossa confiança no mundo e vontade de viver) está ruindo a cada dia. Você dirá que a transformação é constante. De minha parte, poderia apostar que não são muitos os que querem experimentar isso.
Demoramos a acreditar que existem pessoas que se dedicam a nos golpear (quantos golpes!).
Criminosos nos sondam no conforto da distância e anonimato. Estão dispostos a faturar a todo custo. Infelizmente não posso dizer que você esteja totalmente seguro neste momento. A internet possibilita muitas armadilhas. Isso é absurdo e decadente, todavia há uma geração inteira devidamente adaptada à “liquidez” desses novos tempos (Bauman novamente).
Não gostaria que isso fosse verdadeiro, mas assim é. As manobras dos golpistas desgastam o nosso ser. Então o desassossego nos invade.
Deixamos de confiar nos conselhos (confiamos em algum momento?).
Houve ocasiões em que reagimos com agressividade. Os que nos cercam ficaram sem entender o motivo.
É que esses esperam de nossa parte a cordialidade “de sempre”... Além disso estão mais acostumados às manifestações comuns em suas “redes”, onde evidentemente tudo é “líquido” e seus adicionados podem ser facilmente evitados e até excluídos. Sentem-se satisfeitos porque aí podem preservar apenas “os bons momentos, a boa maré, o céu aberto, a tranquilidade”...

(...)

Isso não é um paradoxo.
Temos de agradecer por toda incerteza que nos invade. Ela nos lembra que somos limitados. Nos lembra que a “modernidade é líquida”...
Recusei o desabafo durante o tempo em que me afastei daqui.
Todavia é impossível superar os tropeços sozinho.

Meu Deus...
Quem lê essas coisas?
Como se vê, é difícil deixar claro os motivos da ausência prolongada. E olha que não devo satisfações a ninguém!
O receio persiste...
Agregar as forças para retomar é complexo demais!
Preciso tentar novamente.
Vou me esforçar.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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