“Aula
Magna com Stalin” (originalmente “Master Class” – 1983)
Na primeira quinzena de julho deste tumultuado
ano assistimos “Aula Magna com Stalin” – Teatro Paulo Eiró, em Santo Amaro.
A dramatização
dirigida por William Pereira tem conteúdo inspirado em “The Composer Plays”,
texto do britânico David Pownall.
O caderno que promove a peça apresenta trechos de uma entrevista do
dramaturgo a uma edição de “Seattle Star”, de 2012.
Vale
destacar que a produção textual de Pownall baseia-se em um pequeno livro que o
mesmo recebera de certo Julian Lee. Sobre este Lee podemos dizer que se tratava
de um colaborador, um tipo vinculado ao mundo das composições (de acordo com o
próprio Pownall, um “ex-compositor de sucesso”).
Foi graças a Lee que
Pownall teve acesso a “Carlo Gesualdo: Músico e Assassino”, de cuja leitura
resultou na produção da peça “Music to Murder By” (1976).
O
pequeno livro citado anteriormente apresentava o relato de um correspondente da
BBC à “Conferência dos Músicos” soviéticos, que ocorreu em janeiro de 1948. Foram
os registros apresentados neste documento que inspiraram Pownall a escrever o
enredo de “Master Class”.
O contexto em que a
conferência ocorreu (10-13/janeiro/1948) estava ainda marcado pelo fim da
Segunda Guerra Mundial e pela decisiva participação soviética na derrota do
nazismo.
Os combates contra as
tropas de Hitler vitimaram ao menos vinte milhões de soviéticos! Mas, enfim, o
projeto de Stalin para o país parecia triunfar e, mais que isso, a União
Soviética vinha herdando a influência política sobre os diversos países do
leste europeu.
O final de 1947 havia
sido marcado pelas festividades dos trinta anos da Revolução. O ditador e seus
colaboradores mais próximos desejavam que os compositores do país criassem
obras que expressassem a “alma soviética”.
Aconteceu que “A Grande Amizade”, ópera de Vano Ilich Muradeli para
percorrer o país em meio às celebrações, foi censurada pelo próprio Stalin. O “supremo
árbitro do bom gosto da URSS” não aprovou o que viu e ouviu durante um ensaio e
exigiu que todos os envolvidos no espetáculo prestassem esclarecimentos a Andrei
Jdanov, diretor máximo para os assuntos culturais na União Soviética desde 1946.
Jdanov era um conhecido correligionário stalinista desde os tempos da
Revolução e até o fim de sua vida manteve-se fiel ao líder. Ele aproveitou o “caso
Muradeli” e o fato de estarem às vésperas do Congresso de Compositores para “enquadrar
os demais músicos do país”.
Stalin era mesmo metido a envolver-se em
polêmicas com compositores soviéticos. Dez anos antes, ele e a sua “organização
stalinista de músicos” publicaram vários ataques contra Shostakovitch (mais
especificamente contra a ópera “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”).
O caderno que promove
a peça destaca ainda que, em suas memórias, o escritor Ilya Ehrenburg lembra
que no começo de 1948 Shostakovitch e Prokofiev foram convidados por Jdanov
para um encontro particular, pois este queria mostrar-lhes “o que era a música
melódica em contraste com as obras falhas” e para isso teria “tocado algo ao
piano”.
Ao
que tudo indica, Shostakovitch não aceitou a versão de Ehrenburg, pois escreveu-lhe
garantindo que na ocasião Jdanov faz suas considerações apenas verbalmente. O fato
é que o escritor aceitou as críticas do compositor e posteriormente alterou o
texto de suas memórias.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/01/aula-magna-com-stalin-segunda-parte-um.html
Um abraço,
Prof.Gilberto