segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

“Aula Magna com Stalin” – Primeira Parte – um pouco das informações do caderno que promove a peça; do contexto da conferência dos músicos soviéticos em 1948; sobre Jdanov

“Aula Magna com Stalin” (originalmente “Master Class” – 1983)

Na primeira quinzena de julho deste tumultuado ano assistimos “Aula Magna com Stalin” – Teatro Paulo Eiró, em Santo Amaro.
A dramatização dirigida por William Pereira tem conteúdo inspirado em “The Composer Plays”, texto do britânico David Pownall.

O caderno que promove a peça apresenta trechos de uma entrevista do dramaturgo a uma edição de “Seattle Star”, de 2012.
Vale destacar que a produção textual de Pownall baseia-se em um pequeno livro que o mesmo recebera de certo Julian Lee. Sobre este Lee podemos dizer que se tratava de um colaborador, um tipo vinculado ao mundo das composições (de acordo com o próprio Pownall, um “ex-compositor de sucesso”).
Foi graças a Lee que Pownall teve acesso a “Carlo Gesualdo: Músico e Assassino”, de cuja leitura resultou na produção da peça “Music to Murder By” (1976).
O pequeno livro citado anteriormente apresentava o relato de um correspondente da BBC à “Conferência dos Músicos” soviéticos, que ocorreu em janeiro de 1948. Foram os registros apresentados neste documento que inspiraram Pownall a escrever o enredo de “Master Class”.

O contexto em que a conferência ocorreu (10-13/janeiro/1948) estava ainda marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial e pela decisiva participação soviética na derrota do nazismo.
Os combates contra as tropas de Hitler vitimaram ao menos vinte milhões de soviéticos! Mas, enfim, o projeto de Stalin para o país parecia triunfar e, mais que isso, a União Soviética vinha herdando a influência política sobre os diversos países do leste europeu.
O final de 1947 havia sido marcado pelas festividades dos trinta anos da Revolução. O ditador e seus colaboradores mais próximos desejavam que os compositores do país criassem obras que expressassem a “alma soviética”.
Aconteceu que “A Grande Amizade”, ópera de Vano Ilich Muradeli para percorrer o país em meio às celebrações, foi censurada pelo próprio Stalin. O “supremo árbitro do bom gosto da URSS” não aprovou o que viu e ouviu durante um ensaio e exigiu que todos os envolvidos no espetáculo prestassem esclarecimentos a Andrei Jdanov, diretor máximo para os assuntos culturais na União Soviética desde 1946.
Jdanov era um conhecido correligionário stalinista desde os tempos da Revolução e até o fim de sua vida manteve-se fiel ao líder. Ele aproveitou o “caso Muradeli” e o fato de estarem às vésperas do Congresso de Compositores para “enquadrar os demais músicos do país”.
Stalin era mesmo metido a envolver-se em polêmicas com compositores soviéticos. Dez anos antes, ele e a sua “organização stalinista de músicos” publicaram vários ataques contra Shostakovitch (mais especificamente contra a ópera “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”).
O caderno que promove a peça destaca ainda que, em suas memórias, o escritor Ilya Ehrenburg lembra que no começo de 1948 Shostakovitch e Prokofiev foram convidados por Jdanov para um encontro particular, pois este queria mostrar-lhes “o que era a música melódica em contraste com as obras falhas” e para isso teria “tocado algo ao piano”.
Ao que tudo indica, Shostakovitch não aceitou a versão de Ehrenburg, pois escreveu-lhe garantindo que na ocasião Jdanov faz suas considerações apenas verbalmente. O fato é que o escritor aceitou as críticas do compositor e posteriormente alterou o texto de suas memórias.

Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/01/aula-magna-com-stalin-segunda-parte-um.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

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