terça-feira, 19 de dezembro de 2023

“O Caso dos Exploradores de Cavernas – No Superior Tribunal de Newgarth – Ano de 4300”, de Lon L. Fuller – uma introdução; sobre o ensaio enquanto peça didática para aprendizado e problematização do cotidiano dos tribunais; início do voto do Juiz Truepenny e apresentação do caso dos exploradores de cavernas; do acidente e esforços da Associação de Espeluncologia, do pessoal envolvido no resgate e da sociedade; rádio transmissor e contato dos acidentados com a área externa

O ensaio de Lon L. Fuller traz uma série de inquietações/problematizações para os estudiosos do Direito e os que “buscam o exercício da razão do justo”. Faz isso recorrendo a uma ficção em que somos levados a examinar o desenrolar de julgamento no “Superior Tribunal de Newgarth no ano de 4300”.
O caso em questão apresenta elementos a respeito do desenvolvimento do processo e os motivos de ele ter chegado à instância na qual os juízes se manifestaram. A narrativa evidencia que o Direito deve ser entendido como ciência devotada a colocar fim aos conflitos, mais especificamente (em relação ao que o texto apresenta) àqueles “gerados em momentos em que a necessidade tenta contrariar o ato ilícito”.
A exposição dos argumentos e justificativas de cada juiz nos revela muito da “realidade dos tribunais”. Cada um busca sustentar o voto avaliando a movimentação e decisões dos implicados, resgatando casos anteriores com o objetivo de afastar possíveis falhas no juízo. Notamos que a discussão no tribunal não desconsidera a opinião pública a respeito dos episódios que são objeto da análise dos magistrados.
Ricardo Rodrigues Gama, o tradutor da obra, destaca que a decisão do julgador se fundamenta no Direito, mas passa também pela “Sociologia, Filosofia, História, Teoria do Estado e pela Ciência Política”. Daí que as decisões acabam por refletir “a noção de justiça cultuada pelo povo do período em que se vive” no território mesmo em que os fatos se dão.

(...)

Os acusados foram processados por homicídio doloso e condenados à morte. A repercussão foi grande e marcada pelo inconformismo. A partir daí, “recorreram da decisão do Tribunal do Condado de Stowfield ao Superior Tribunal de Newgarth”. O juiz-presidente expôs as ambiguidades (contidas na decisão do tribunal) levantadas pelos processados em seu relatório.
O primeiro voto foi do Juiz Truepenny... Mas antes de manifestar sua decisão, coube a ele explicitar os eventos que os levaram à sessão.
O juiz esclareceu que os quatro acusados eram “membros da Associação de Espeluncologia” e naturalmente apreciadores de cavernas. Em maio de 4299 realizaram expedição a uma caverna de rochas calcárias, ocasião em que foram acompanhados por Roger Whetmore, também membro da referida associação. Quando já se encontravam em posição bem avançada, aconteceu um desmoronamento que obstruiu completamente a única passagem que dava acesso ao lugar. Decidiram permanecer junto à passagem obstruída na esperança de que em breve uma equipe de salvamento iniciasse o resgate.
De fato, não demorou e os familiares dos exploradores notificaram a Secretaria da Associação a respeito de seu não retorno aos lares. Como haviam declarado formalmente a localização da caverna, uma equipe de salvamento se deslocou para lá sem demora. O caso é que a tarefa revelou-se das mais difíceis e demandou o trabalho de especialistas geólogos e engenheiros, além de um número muito grande de operários e máquinas. O trabalho era constantemente interrompido devido a deslizamentos secundários e, como consequência, os gastos tornaram-se altíssimos.
A própria tesouraria da Associação anunciou o esgotamento de seus fundos por conta das operações de resgate. A sociedade apoiou as campanhas de arrecadação e os esforços do Poder Público, mas os homens foram resgatados somente trinta e dois dias depois de ingressarem na caverna.
Dado que os exploradores levavam alimentação suficiente apenas para o breve período que deviam permanecer na caverna, em pouco tempo ficaram sem provisões. O caso parecia se encaminhar para um final satisfatório quando no correr do vigésimo dia as equipes de salvamento ficaram sabendo que os desafortunados carregavam um rádio transmissor com a possibilidade de receber e transmitir mensagens. Resolveram instalar equipamento similar para estabelecer contato.
Leia: O Caso dos Exploradores de CavernasRussell Editores.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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