sábado, 11 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – Salomé e seu “bailado babilônico” durante as festividades pelo aniversário de Antipas; o futuro imperador Vitélio esteve presente na comemoração marcada pelo pedido da cabeça do Batista; num sítio aprazível às margens do Jordão

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_64.html antes de ler esta postagem:

Topsius deu a entender que a existência do Batista era uma imitação da existência do profeta Elias...
Teodorico quis saber se o encarceramento não foi suficiente para fazê-lo calar. Topsius explicou que, pelo contrário, João Batista passou a vociferar com maior convicção... E “do fundo daquela montanha” conseguiu envergonhar Herodíade, que se escondia logo que começava a ouvir os clamores de maldição.
O alemão explicou que, se dependesse apenas de Herodes Antipas, São João Batista não teria sido degolado... Disse que o tetrarca era galileu e, tal como os demais de sua região, levava os profetas em consideração.
A simpatia dos galileus por profetas era “irremediável”! E havia ainda a crença de que, no céu, Elias continuava a viver, era “patrono e amigo de Iocanã” e o protegia.
(...)
Salomé foi a mulher que decidiu a sentença que coube a João Batista.
Ela era filha de Herodíade e de Herodes Felipe... A jovem havia sido educada em segredo num bosque que abrigava o templo em honra de Hércules (na Cesareia).
(...)
Topsius esclareceu ao companheiro português que o mês de Esquebá (Heshvan?) era marcado por festividades em honra ao aniversário de Herodes Antipas... Maqueros se transformava por ocasião dessas festividades.
Vitélio (o militar romano, que por aquele tempo comandava tropas em expedição à Síria e que durante o ano 69 se tornaria imperador por oito meses) assistiu às comemorações, e participou das cerimônias em que bebia-se “à saúde de César e de Roma”. Também ele presenciou a entrada triunfal de Salomé no salão principal...
Todos contemplaram a nudez da virgem que dançou “à maneira babilônica”. Herodes Antipas inflamou-se de desejo... De fato, a jovem estava deslumbrante e isso o levou a prometer-lhe o que desejasse em troca do beijo de seus lábios.
A moça pegou um prato de ouro ao mesmo tempo em que olhou para a mãe... Os presentes esperaram com atenção as palavras que revelariam o seu pedido. Depois de breve silêncio, pediu a cabeça de João Batista.
(...)
Herodes espantou-se...
Sem demora ofereceu alternativas (a cidade de Tiberíade, tesouros, as aldeias de Genesaré...)... Salomé sorriu... Não se pode dizer que não tenha ficado confusa. Olhou novamente para a mãe e com voz vacilante voltou a pedir a cabeça do profeta encarcerado.
Criou-se uma situação desconfortável para Herodes... E ela tornou-se ainda mais desagradável para ele depois que os presentes (“saduceus, escribas, homens ricos da Decápola”), inclusive o ilustre Vitélio, insistiram que o prometido devia ser cumprido.
Ele dera a palavra... Estava diante de pessoas importantes demais para “voltar atrás”... Foi então que um negro da Idumeia recebeu a ordem de buscar a cabeça do Batista.
Não demorou e o tipo retornou ao salão... Em uma das mãos trazia um a alfanje (ferramenta ou arma de afiada lâmina) ensanguentado... Na outra agarrava os cabelos do mártir.
(...)
A narrativa foi extasiante...
Teodorico ouviu-a com atenção... Depois pensou nas festas das noites de junho, quando se canta e se queimam fogueiras em homenagem ao São João.
(...)
O rapaz estava mergulhado nessas divagações quando todos avistaram as amareladas areias que margeavam o Jordão... Foi Pote quem o anunciou aos gritos... Aceleraram o galope para alcançar as águas do “rio da escritura”.
O guia conhecia bem aquelas paragens. Então conduziu os romeiros a um local agradável para que pudessem passar o período mais quente do dia protegidos do sol. Ajeitaram-se num tapete e beberam a cerveja que haviam esfriado nas águas do rio que descia desde o Lago da Galileia até o Mar Morto.
O remanso era apropriado para quem pretendia descansar debaixo das grandes árvores... As águas transparentes corriam tranquilas e conduziam ramos de variados tamanhos à margem...
Teodorico notou algumas flores desconhecidas em meio à vegetação... Pensou que no remoto passado elas enfeitavam “as tranças das virgens de Canaã em manhãs de vindima”... À noite, quando “a voz terrível de Jeová” já não apavorava os viventes, aves deviam gorjear entre as ramagens.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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