terça-feira, 28 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – à distância, Topsius explica alguns ambientes do templo; a majestosa Torre Antônia e o poderio romano; o antigo burgo de Davi; Bezeta e suas construções modernas; enfim a caravana da Galileia

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Não se esqueça... Isso é só um sonho... Um longo sonho.

À distância, Topsius apresentou o templo ao Teodorico Raposo... Impressionava o tamanho e a capacidade que o local tinha para receber “todas as multidões de Israel”...
Depois de mostrar o “Pátio dos Gentílicos”, o alemão apontou para outros detalhes também impressionantes. Havia no meio do enorme pátio uma escadaria bem lustrosa cujos patamares podiam mesmo ser feitos de alabastro... Evidentemente ela dava acesso a outro pavimento. Para se chegar ao local era preciso passar por largas “portas chapeadas de prata”. Apenas os “fiéis da lei”, os que faziam parte do povo escolhido, tinham acesso ao terraço, “o orgulhoso Adro de Israel”.
Mais acima havia o “Átrio dos Sacerdotes” que, ainda mais restrito, era alcançado por outros lances de brancas escadarias... Ali havia um altar todo em pedra. Era possível notar uma fumaça regular que se elevava nas laterais. Aquilo só podia ser de algum ritual...
A brancura do mármore caracterizava os ambientes... Mais alto ainda estava posicionado o Hiéron (denominação grega)... Simplesmente o “santuário dos santuários”... Em ouro, essa “morada de Jeová”, parecia reluzir esplendorosamente às montanhas vizinhas.
Ainda sobre o Hiéron, Topsius destacou que de sua porta descia um véu “cor do fogo e cor dos mares” feito de um tecido todo especial na Babilônia. Uma folhagem de vinha subia as paredes, mas seus cachos eram constituídos de esmeraldas e outras pedras preciosas... A cúpula apresentava lanças douradas que a envolviam de tal modo que, de longe, tinha-se a impressão de que se tratava do sol.
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O sábio alemão fez questão de mostrar que ao lado do templo havia outra construção monumental... Inclusive mais alta e orgulhosa... Tratava-se da Torre Antônia, fortificação militar romana.
A fortaleza maciça tinha aspecto severo. Pelo visto era impenetrável a potenciais agressores... Podia-se ver também os trechos abertos e destinados ao posicionamento de armas... Naquele momento Teodorico notou a movimentação de militares e num ponto de destaque percebeu a presença de um tipo forte. Envolvido com seu manto de centurião, ele erguia o braço em saudação.
Outras torres pareciam se comunicar a toques de buzina com a Antônia... Algo simples e eficiente. Teodorico teve a impressão de que aquele símbolo militar e imperial se mostrava mais forte que o templo destinado a Jeová.
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Topsius apontou para uma posição mais afastada da fortaleza romana... Disse que o aglomerado de casebres brancos pertenciam ao antigo “burgo de Davi”. As casinhas pareciam seguir um traçado definido... Num determinado ponto elas circundavam “uma praça monumental”... Mais adiante via-se muitas outras casas na subida tortuosa da colina que separava Jerusalém da fortaleza de Acra, com seus ricos palácios e cisternas.
E isso não era tudo... Para além de uma murada decadente, estava Bezeta, um bairro recente e ainda em construção... Na localidade havia o bem desenhado circo de Herodes e “os jardins de Antipas” cujas folhagens chegavam a uma formosa colina e até o túmulo de Helena.
(...)
Teodorico encantou-se com tudo o que viu e ouviu...
Topsius completou que o Rabi Eliézer dizia que todos os que contemplassem Jerusalém admitiriam que nenhuma outra cidade era mais bela.
Os dois terminavam suas considerações quando algumas pessoas passaram às carreiras... Elas estampavam alegria em seus rostos e iam na direção de Betânia.
Foi um senhor de adiantada idade, negociante de molhos de palmas, que explicou havia visto que a caravana da Galileia estava se aproximando.
De fato, depois de se acomodarem numa pequena elevação, Topsius e Teodorico puderam conferir que incontáveis peregrinos chegavam pela estrada... Vinham da distante “Gescala e dos montes” e levantavam o poeirão... Estavam estafados, mas podiam sentir a boa acolhida de mulheres com suas crianças e dos demais acampados para a Páscoa em Jerusalém.
Quanto mais se aproximavam, mais podiam ser notados os ramos e as palmas que traziam... Seguiam firmes com seus fardos junto a um estandarte verde. Desde Tiberíade vinham escoltados por “cavaleiros da guarda babilônica” que deviam obediência ao tetrarca da Galileia, Herodes Antipas.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 25 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – percorrendo o acampamento dos que buscavam a Páscoa em Jerusalém; alojamentos, negociantes e afazeres de homens e mulheres; avistando Sião e o templo

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A respeito do acampamento alcançado por Teodorico e Topsius pode-se dizer que as instalações eram as mais diversas...
Os que vinham do deserto erguiam tendas negras feitas de pele de carneiro... Os que chegavam da Idumeia montavam barracas de lona... Os de Áscalon tinham “cabanas armadas com ramos”, enquanto os que haviam partido de Neftali armavam varas de cedro sobre as quais estiravam tapetes.
A concentração de peregrinos era oportunidade que os negociantes dos mais diversos artigos não perdiam. É por isso que entre os acampados viam-se “mercadores gregos da Decápola, tecelões fenícios de Tiberíade, e a gente pagã que, através da Samaria, vinha dos lados de Cesareia e do mar”.
(...)
Foi com dificuldade que Teodorico e Topsius percorreram o grande acampamento...
Sob as oliveiras notaram grande quantidade de camelos e éguas descansando da longa travessia e transporte de peregrinos e tralhas.
Através de uma ou outra fresta das tendas e barracas, os dois reconheciam armas, utensílios e outros acessórios indispensáveis aos viajantes.
Junto às armações, moças moíam grãos de centeio... Outras ordenhavam cabras, cuidavam do fogo e dos filhos. Muitas desciam enfileiradas à fonte de Siloé...
Os homens aglomeravam-se ao redor de negociantes. Eles notavam a passagem dos dois europeus... Estranhavam sua vestimenta, achavam graça dos óculos de Topsius e riam de seus modos.
(...)
O movimento era intenso... Muitos mendigos posicionavam-se em árvores. Expunham suas chagas e os cacos que usavam para raspá-las. Dessa forma esperavam obter a compaixão e as esmolas dos peregrinos.
Cansados e com fome, muitos reuniam-se em torno das refeições preparadas pelas mulheres... As frutas eram disputadas... Falava-se de tudo nas rodas... Um velho de Siquém postou-se em frente de sua cabana armada com ramos e passou a fazer proselitismo do vinho fresco que trouxera.
Um pastor que se movimentava graças a muletas conduzia seu rebanho de brancos cordeiros. Ele tocava uma barulhenta buzina para chamar a atenção de todos os que pretendessem comprar “o anho puro da Páscoa”.
Toda essa movimentação era vigiada de perto por soldados romanos... Eles podiam ser vistos por todos os lados com seus capacetes ornados com ramos de oliveira... Caminhavam aos pares entre o povaréu com ares de quem quer prestar auxílio.
(...)
O anteriormente exposto pretende dar uma ideia da passagem de Teodorico e Topsius pela multidão que acorria a Jerusalém por ocasião da Páscoa.
Enfim avistaram a cidade depois que se aproximaram de duas gigantescas árvores. Inúmeras pombas brancas revoaram os “frondosos cedros” assim que os dois se chegaram... Da elevada altitude puderam contemplar a cidade iluminada pelos raios solares da manhã. Emocionados, os companheiros reagiram abrindo os braços.
Viram a grande muralha, suas torres, portas bem trabalhadas e os detalhes em ouro. A secura do mês de Nizam repercutia na vegetação à sua volta... De modo simplificado, a muralha cercava o Sião e estendia-se para os lados “de Hínon e até aos cerros de Garebe”.
A visão que tiveram do templo era das mais espetaculares... Dava a impressão de que a grande construção (com seus “alicerces eternos”, granitos e “bastiões de mármore”) dominava toda a Judeia... Qualquer estrangeiro concluiria que o local só podia ser sagrado (uma cidadela de um deus) para o povo local.
(...)
Do alto de sua montaria, Topsius apontou para o “Pátio dos Gentílicos” de piso liso e límpido como a água das piscinas... O local era tão vasto que podia abrigar “todas as multidões de Israel” e mais as das terras pagãs... Enormes colunas de mármore do entorno formavam “os pórticos de Salomão”.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – a rica propriedade de um parente de Valério Grato; bela casa, belo jardim e hábitos latinos; a severidade da casa de Osânias e o dízimo da Páscoa; grandioso acampamento dos que buscam Jerusalém

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De fato, Teodorico só podia se impressionar com a magnífica paisagem que passou a contemplar... Uma rica vegetação, plantações e árvores frutíferas passaram a fazer parte do caminho. A atmosfera pesada e descorada verificada em Jericó havia ficado definitivamente para trás.
Evidentemente o ânimo do rapaz melhorou. Sequer se lembrava de refletir a respeito das incoerências daquela viagem. Quando passou a cavalgar por um trecho ladeado por belo e perfumado roseiral deu início a uma animada cantoria... E assim permaneceu até ser interrompido por Topsius.
(...)
O alemão quis mostrar-lhe uma casa no alto de uma elevação...
O lugar era tomado por cedros e ciprestes... O imóvel tinha o pórtico branco voltado para o leste... De acordo com o estudioso, a propriedade pertencia a um parente de Valério Grato (“antigo Legado Imperial da Síria”).
Topsius garantiu que o bom gosto latino decorava o interior daquela casa, onde um rico tapete exibia em destaque belas flores e as iniciais de Valério Graco... Vasos gregos (de Corinto) com acantos floridos se espalhavam pelo jardim repleto de rosas, açucenas e murta... Ali as aves abundavam e não eram poucas as que, não sendo as domesticadas, desciam para ciscar.
De onde estavam observavam tantas estátuas quanto as que podiam ser encontradas nos mais ricos templos... Pelo menos foi isso o que Topsius sustentou.
Teodorico notou que tudo ali transmitia tranquilidade e paz. Observou a presença de um velho servo atarefado... E também que, próximo a um caramanchão, havia uma fonte em que a água caía lentamente sobre um artefato de bronze.
Uma estátua de Esculápio (da mitologia greco-romana) completava o ambiente onde um senhor de toga lia registros em papiro. Uma jovem lhe fazia companhia enquanto fazia grinaldas de flores.
O trotar dos cavalos chamou a atenção da moça, que dirigiu o olhar aos dois viajantes. Topsius transmitiu-lhe uma saudação... Teodorico gritou-lhe “Viva la Gracia”.
(...)
Mais à frente, Topsius quis falar sobre outra vivenda... Esta tinha aspecto severo... Disse que pertencia a certo Osânias, “rico saduceu de Jerusalém, da família pontifical de Boetos, e membro do Sanedrim”.
Ali não havia ornamentos. O desenho da casa era quadrado e podia-se dizer que seu aspecto era resultado da lei austera do poder local. Tributos rendiam a riqueza acumulada nos grandes celeiros... Dez escravos estavam guardando sacas de trigo vinhos, carneiros e tudo o mais que vinha sendo arrecadado como pagamento pelo dízimo do dia de Páscoa.
Teodorico observou que na beira da estrada estava a “sepultura doméstica”.
(...)
Na sequência alcançaram Betfagé, povoado carregado de palmeiras...
Topsius parecia conhecer bem aqueles caminhos e decidiu que deviam seguir por um atalho que passava pelo Monte das Oliveiras. Seu objetivo era alcançar o quanto antes o local onde as caravanas costumavam parar no percurso que realizavam desde o Egito até Damasco. A paragem era conhecida por abrigar um importante lagar.
Teodorico encantou-se logo que chegaram ao topo do Monte Moabita...
O que ele viu de tão impressionante?
O lugar estava tomado por uma infinidade de barracas. Formou-se um “acampamento sem fim” e aquele povo todo se deslocava para Jerusalém!
Tendas foram ajeitadas entre as oliveiras da encosta e imaginava-se que elas se estendiam até o Cédron... Também os pomares do vale estavam tomados de peregrinos desde Siloé... Nada diferente do que se via na estrada de Hébron. A ocupação era simplesmente extraordinária.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 21 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – parada para descanso à sombra de formoso cedro; curiosa marcha de uma legião romana como nos tempos do império; Topsius saúda as armas imperiais; o caminho se torna ainda mais verdejante

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O trecho que se seguiu era dos mais agradáveis... Vários riachos faziam parte da paisagem... As colinas eram belas e sobre algumas delas haviam construído fortalezas admiráveis... Via-se que os camponeses trabalhavam a terra animadamente. Certamente a Páscoa teria abundante colheita de trigo. Também as hortas e os pomares estavam vistosos.
Eventualmente Teodorico notava os produtores de vinhos percorrendo os parreirais... Alguns tinham a ponta do manto sobre a cabeça e, com o olhar direcionado ao chão, pareciam orar enquanto trabalhavam.
A certa altura do caminho, ele e Topsius foram saudados por um oleiro que carregava a matéria-prima de seu ofício nos cântaros acomodados em seu burrico... O homem fez uma saudação bendizendo as mães dos desconhecidos e desejou-lhes Boa Páscoa.
Mais adiante um leproso perguntou-lhes se sabiam do Rabi que em Jerusalém curava os que como ele padeciam... O tipo falava ao mesmo tempo em que apresentava suas feridas asquerosas... Evidentemente não obteve a informação que desejava, mesmo assim perguntou se sabiam onde podia encontrar raiz do baraz (arbusto comum na Judeia).
(...)
Aproximavam-se de Betânia quando Topsius decidiu que deviam dar um descanso aos animais.. Pararam num local onde havia uma bela fonte sombreada por formoso cedro. O alemão começou a dizer que estranhava não terem topado com a caravana que vinha desde a Galileia para a Páscoa em Jerusalém... Mas interrompeu sua falação no mesmo instante em que notou um grupamento de soldados que seguiam em ruidosa marcha.
Suas armas eram de chamar a atenção... Teodorico assustou-se quando percebeu que se tratava de uma tropa romana... E, mais que isso, os soldados lembravam as odiosas figuras estampadas nos cartazes e folhetos da época da Semana Santa!
Os brutamontes barbudos tinham a pele queimada do sol da Síria, traziam pesadas “sandálias ferradas” e, às costas, escudos embrulhados em sacos de lona. Sobre o ombro levavam forquilhas, cada um com a sua, que serviam de suporte para acessórios como “pratos de bronze, ferramentas” e cachos de frutas (tâmaras)... Uns ocupavam as mãos com os pesados capacetes, outros com pequenos dardos.
O chefe do grupamento (o decurião) era um tipo gordo e louro... Sua montaria avançava lentamente e a monotonia das passadas o levava ao cochilo preguiçoso. Via-se que ostentava um manto vermelho... Logo atrás estavam as mulas que carregavam os suprimentos (lenha e sacos de trigo)... Os arrieiros assistentes seguiam cantando a melodia entoada por um flautista negro. Este seguia quase sem roupa... Em seu peito lia-se o número da legião anotado em vermelho.
(...)
Teodorico tratou de se esconder à sombra do cedro...
Bem ao contrário, Topsius lançou-se de joelhos ao chão e saudou as armas romanas... Agitou braços e capa enquanto gritou saudações a Caio Tibério... Longa vida a ele, “três vezes cônsul, ilírico, panônico, germânico, imperador, pacificador e augusto!”
Os legionários pouco se importaram com a manifestação do estranho e seguiram sua marcha... Alguns deles não se contiveram e riram a valer...
Um pastor que conduzia suas cabras apressou-se para a parte mais alta do morro onde se encontrava.
(...)
Uma legião romana incrivelmente paramentada e equipada em pleno final de século XIX! E no caminho para Jerusalém! Muito estranho!
Topsius decidiu que deviam retomar a viagem com toda naturalidade. Mas Teodorico seguiu desconfiado...
A estrada revestida de basalto terminou... Então cavalgaram por um caminho repleto de pequenas árvores frutíferas. O frescor e o aroma aliviaram a tensão da última parada. Sem dúvida aqueles ares em nada se comparavam aos experimentados nos dias anteriores.
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Prof.Gilberto

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – na estrada pavimentada pelos romanos; uma velha estalagem com inscrições dos tempos de Horácio; topando com um agressivo fanático logo que o dia começou a clarear

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De repente Topsius parou diante de uma casa erguida em ambiente arborizado. Ela estava às escuras e nenhum som provinha de seu interior.
No alto da casa despontava a silhueta de uma cegonha em lâmina fina de ferro. Logo à entrada via-se o resto de uma fogueira... Teodorico a revolveu e assim pôde enxergar algo, pois uma tímida chama se levantou. Concluiu que se tratava de “uma antiga estalagem à beira de uma antiga estrada”.
Acima da estreita porta via-se uma tabuleta afixada em pedra branca... Teodorico espantou-se ao ler “Ad Gruem Majorem”. Ao lado havia outra pedra na qual haviam inscrito alguns dizeres favoráveis aos que chegavam àquele sítio... Em síntese, o proprietário, certo Septimano, garantia que Apolo prometia saúde aos que ali se instalavam. A estalagem oferecia banhos reparadores, vinho da Campânia e boa comida. Dava a entender que a acolhida era das mais favoráveis, pois ali as comodidades eram à maneira de Roma.
Então Teodorico estranhou... Perguntou-se sobre que tipo de lugar era aquele... Será mesmo que havia pessoas de tão diferentes costumes naquelas terras? Homens que bebiam em honra de outros deuses? Cultivavam os hábitos da época de Horácio?
(...)
Mais estranho ainda foi o fato de Topsius não dar nenhuma importância àquele disparate. Retomou a cavalgada em meio à escuridão sem nada dizer.
A estrada revestida de basalto chegou ao fim. Passaram a percorrer um caminho rústico cavado em meio a rochas... Os animais sofreram um pouco mais porque tinham suas patas atingidas por pedras soltas.
Foi a partir de então que Topsius passou a pronunciar críticas ao Sanedrim e à lei judaica... Ele entendia que esses eram obstáculos às propostas de melhorias do procônsul (referia-se ao governador romano na localidade!). Acrescentou que daí resultava a oposição dos fariseus aos aquedutos, à boa estrada e à medicina introduzida pelos romanos.
Sonolento e sem dar a devida atenção ao cerne da falação de Topsius, Teodorico emendou que os fariseus eram uns malditos.
(...)
As noites do mês de Nizam eram as mais curtas...
Teodorico sentiu que depois de suas imprecações contra os fariseus experimentou um breve sono... Ao perceber-se desperto, viu que o céu já estava claro para os lados de Moabe (a leste)... Rebanhos percorriam os cerros que pareciam carregados de alecrim.
O português notou que atrás de umas elevações estava um tipo que em tudo (barba e cabeleira emaranhada, vestimenta de pele de carneiro, olhar e gestos agressivos) lembrava Elias e os demais profetas cheios de cólera.
O homem notou-os e no mesmo instante passou a ofendê-los com todos os xingamentos... Chamou-os de cães pagãos... Gritou ofensas contra as suas mães. Eles nada podiam fazer, ainda mais porque as éguas cavalgavam mais lentamente. Topsius apenas se encolheu em sua capa.
Mas Teodorico não se conteve... Enfurecido, passou a gritar que o tipo não passava de um bêbado. Gritou vários palavrões.
Mesmo de longe dava para perceber que o desafeto parecia ser um fundamentalista devoto. Dava a entender que se pudesse alcançá-los os atacaria com instinto selvagem.
A desconfortável situação foi logo superada... É que alguns metros adiante atingiram outro trecho da estrada beneficiada pelos romanos, portanto mais larga e revestida. Pelo menos até Siquém se sentiriam mais seguros por adentrarem área “culta, piedosa, humana e legal”.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
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Prof.Gilberto

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