terça-feira, 18 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 17 e 22 de novembro de 1895; de volta para a Cavalhada; época dos exames finais do segundo ano; lamentações pelas “vadiagens” e dificuldades de se adotar uma disciplina mais rigorosa; os exames de História e a condescendência do professor Teodomiro; contrapondo-se ao preconceito do pai

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_17.html antes de ler esta postagem:

De fato, o comandante do quartel deixou a casa da Cavalhada... A casa da família de Helena que ele havia alugado durante o curto período em que dona Carolina morou com as irmãs na casa da Rua Direita.
Sem entrar em detalhes a respeito do desenrolar das intrigas sobre o inventário de dona Teodora, Helena passou a escrever (os registros são de 17 de novembro de 1895) a respeito dos exames finais da escola.
(...)
Ela explica que chegava ao final do ano escolar sentindo inveja das colegas mais dedicadas aos estudos... Enquanto as demais moças estavam preparadas, seu caso era crítico e a levava a recorrer às promessas aos santos.
Cada um sugeria uma coisa diferente e isso a deixava confusa. Santo Antônio não parecia ser a melhor indicação, sobretudo porque dona Carolina havia contado a respeito de situações em que ele falhara. Mas muitos diziam que as promessas dirigidas a ele são certeiras quando o assunto é o matrimônio.
Ensinaram que para se obter êxito com Santo Antônio é preciso amarrar a imagem pelo pescoço e abandoná-la num tanque com água... Muitas “casamenteiras” garantiam que isso não falhava. Depois que o pretendente surgisse com  proposta de casamento era só liberar a imagem.
A desconfiança de Helena em relação ao sucesso nos exames era tanta que resolveu apelar para o santo com a fama de atender os desejos das desesperançadas.
(...)
As provas escritas e orais se aproximavam... Helena não estava preparada, pois não dominava a maioria dos “pontos” que deviam ser estudados. E eram muitos! Ela sabia que um de seus principais defeitos era o de se concentrar nas matérias que mais gostava... Sabia que em várias ocasiões contara com a sorte, mas isso vinha falhando com certa frequência.
Todo final de ano era a mesma coisa! Aproximavam-se os dias de exames escolares e ela se lamentava por ter se distraído com as amigas de “vadiação”. Nessas ocasiões dizia para si mesma que precisava mudar, mas logo que o ano seguinte de estudos se iniciava percebia que não conseguiria se corrigir.
Entendia que as demais colegas que não se envolviam nas diversões cotidianas se sacrificavam demais. Uma delas era certa Mercedes, que numa ocasião falou-lhe a respeito de seu método de estudo. Helena concluiu que não tinha a menor condição de “acompanhá-la” em sua disciplina.
O ditado que fazia sentido para Helena era “Mais vale quem Deus ajuda, do que quem cedo madruga”... Se Deus a ajudasse, como sentia que ocorria frequentemente, tudo terminaria bem... É verdade que o resultado em seu primeiro ano na Escola Normal fora um fiasco, todavia ela era ainda muito nova em 1893.
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Dona Carolina sempre se engajava nessas ocasiões... Mas ela era das que recorrem às orações e promessas.
Helena explica que a mãe estava “fazendo uma comunhão reparadora” na intenção de que os filhos se saíssem bem nos exames. Como as rezas dela eram “infalíveis”, esperava passar de ano... Não tinha tanta certeza em relação ao seu irmão Renato.

(...)

Em seus registros do dia 22 de novembro de 1895, Helena apresentou considerações dobre o primeiro dos exames finais. Naquela sexta-feira foram realizadas as provas escrita e a oral de História.
Suas colegas garantiram que não havia necessidade de estudar, pois era só preparar uma cola bem feita para a prova escrita... Em quinze minutos podia-se fazer uma revisão do ponto para a chamada oral e tudo se resolveria.
As meninas elaboraram uma “sanfona” e a utilizaram durante a prova escrita... Helena sentou-se na última carteira e resolveu abrir o livro para copiar as respostas diretamente de suas páginas.
Aconteceu que ela notou que o professor (Doutor) Teodomiro a observava... Obviamente isso a assustou e por isso guardou o livro na gaveta. Mas em vez de adverti-la, o mestre não disse nada, sorriu-lhe e abriu um jornal dando a entender que ela podia continuar a sua cola.
O exame oral também foi satisfatório... Helena explica que respondeu “umas datas e embrulhou umas coisas”.
Sobre o professor Teodomiro, acrescentou em sua redação que que ele era um tipo escuro... Por tudo o que se sucedera durante a prova, só podia considerá-lo um homem bom! Bem diferente da ideia que seu pai tinha a respeito dos negros (seu Alexandre dizia que “gente escura não presta”)...
Na opinião de Helena, além do doutor Teodomiro, outro bom professor era o seu Artur Queiroga, que também era negro. E os professores brancos? Eles eram “crus de ruindade”!
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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