sexta-feira, 21 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – procissão de cinzas; juntando os pedaços das imagens; penitentes, devotos e explicações das negras a respeito das imagens carregadas na procissão; opinião de seu Alexandre

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_20.html antes de ler esta postagem:

Os registros de 13 de março de 1893 feitos por Helena em seu diário nos dão conta de uma “Procissão de Cinzas”, algo que já fazia muito tempo que não ocorria na cidade.
O que mais a deixava admirada por ocasião desse ritual religioso era a grande quantidade de imagens carregadas pelos fiéis. Não se organizavam procissões como aquela porque a maioria das esculturas dos santos encontrava-se abandonada e com várias avarias nas sacristias das igrejas.
Seu Broa foi um dos que se animaram para organizar o evento. Helena dá a entender que foi formada uma comissão. Ela mesma ouviu do tio Joãozinho que o pessoal do seu Broa fez de tudo para remendar os santos. Assim acabaram juntando “o corpo de um com a cabeça de outro”.
Enfim a procissão saiu e pode-se dizer que isso só ocorreu porque as várias igrejas contribuíram para os arranjos.
(...)
Helena admirou-se com os resultados.
Evidentemente não entendia todos os paramentos e expressões beatas dos santos. O jeito foi perguntar aos mais velhos.
Pelo visto as imagens ficaram bem engraçadas.
São Domingos, por exemplo, “saiu com queijo e faca”. Na chácara disseram que se podia “saber se um casal é feliz quando a mulher é capaz de partir o queijo no meio certinho”.
Quem já viu um negócio desses? Helena não acreditou que esse fosse o motivo de o santo “carregar o queijo”. Todavia ninguém lhe dava outra explicação.
São José estava com o menino Jesus no braço, e Este carregava uma bola na mão. As negras da chácara disseram que “aquela bola é o mundo e se ela cair no chão o mundo arrasa”.
Em sua produção textual, Helena comenta que até podia acreditar nessas histórias quando era mais nova. Ela lembra o quanto se assustava ao ver que uma serpente se enrolava no corpo de Eva, “que tinha uma maçã na mão”.
Mas o seu modo de interpretar a realidade de toda gente havia mudado muito! Para ela os adultos expressavam várias bobagens....
(...)
Ainda sobre a procissão e as imagens...
São Roque saiu com uma grande barba. As negras da chácara disseram que nunca tinham visto este santo barbado!
Seu Broa explicou que não tinha sido fácil organizar os santos para a procissão. Juntaram muitas peças na sacristia da igreja da Luz e na confusão acabaram trocando algumas cabeças. É por isso que o resultado confundiu e espantou a muita gente.
(...)
Os santos foram carregados e posicionados à frente de todos os devotos. Logo atrás foram posicionados vários penitentes que se flagelavam com chicotadas desferidas contra as costas. Helena destaca que os chicotes foram confeccionados com palha.
O que importa é que no fim das contas ela gostou muito de tudo o que viu.
Ela não pôde deixar de registrar a opinião do pai (o seu Alexandre) que achou que a procissão mais se parecia com um carnaval.
É claro que sua mãe (dona Carolina) “achou que era um grande pecado” o marido dizer aquilo.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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