Estamos neste ponto em que Helena explicava a respeito do macaco que pertencia à Siá Ritinha.
Para ela, Chico (esse é o nome do macaco) era adestrado e tal como a dona praticava furtos pela vizinhança.
Dona Carolina reclamava que não podia deixar a porta da cozinha aberta porque o Chico entrava e surrupiava o que encontrava. A mãe de Helena admitia que só não envenenava o animal porque certamente Siá Ritinha desconfiaria.
(...)
A situação era das mais desconfortáveis. Até porque
todos na casa de Helena sabiam que Siá Ritinha os tinha em alta consideração.
Há fragmentos do diário que revelam o quanto Siá Ritinha foi prestativa
à família numa ocasião em que dona Carolina adoeceu. É quase certo que esses
episódios não serão tratados por aqui.
(...)
Helena explica que o macaco roubava qualquer coisa.
Certa vez levou um coador de café! Mas parecia ser treinado para furtar
alimentos. Dona Carolina dera falta de queijo, carne e toicinho.
Então quando o Chico era
avistado pelas árvores mais próximas não se podia vacilar.
Outras famílias também recebiam as visitas secretas e indesejadas.
Helena registrou que certo dia um pedaço de toicinho apareceu no terreiro de
sua casa. Tudo indicava que o Chico o havia subtraído de alguma casa da
vizinhança. De Siá Ritinha é que não devia ser!
(...)
E não é que o Chico passou a ser útil a certos propósitos de Helena e
dos seus irmãos?
Seu Alexandre possuía um pessegueiro no terreiro. A árvore encantava a
todos.
Helena e os irmãos sentiam-se angustiados porque o pai não permitia que
retirassem os belos frutos enquanto não estivessem totalmente maduros.
Mas as crianças
experimentaram “dar ordens” ao macaco. Sempre que o viam no pessegueiro,
gritavam “Chico, joga aqui um”. E não é que ele obedecia?
Foi assim que os filhos de
seu Alexandre passaram a se refestelar com os deliciosos pêssegos sem que ele
desse pela falta dos frutos.
(...)
Também havia umas
bananeiras no quintal de mestre Joaquininha. Ela só os colhia quando as bananas
estavam bem maduras.
Os fundos do terreno da casa de seu Alexandre davam para os fundos do
quintal da professora. Não havia como não notar as bananas da vizinha. As
crianças ficavam de olho. Era uma tentação!
Logo que perceberam que o
Chico os obedecia, Helena e os irmãos pediram para ele atirar algumas.
A garota conta que foi muito bom, mas durou pouco
porque mestre Joaquinhinha percebeu os furtos do macaco e passou a retirar os
cachos antes que eles ficassem totalmente maduros.
(...)
Para Helena, a pior peraltice do Chico foi ter furtado um tercinho que
ela conservava desde a época de sua Primeira Eucaristia.
Os registros dão conta que ela era mesmo uma menina
de oração e que acompanhava a mãe aos ofícios religiosos. Ela recorria ao terço
durante as chuvas mais fortes. Sempre que o tempo mudava e uma tempestade se
aproximava ela o pendurava na maçaneta externa da porta.
Para ela, o terço protegia
a casa e levava a chuvarada para longe. É claro que ela aprendeu essas coisas
com os mais velhos e aos poucos passou a crer que isso era “mais eficiente” do
que as preces dirigidas à Santa Clara.
Aconteceu que numa tarde chuvosa seu Alexandre
prometeu levar os filhos a passear de cavalinhos. Como a chuva atrapalharia a
diversão, Helena apelou para a sua fé no tercinho. E foi então que o Chico o
surrupiou.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto