Os filhos de seu Batista e de dona Teodora foram encaminhados para o Rio de Janeiro (que era a capital do país), onde foram educados... As filhas permaneceram na região Diamantina e “aprenderam a ler e a escrever”.
A grande família se estabeleceu na Lomba sem que as meninas tivessem necessidade de ir à cidade.
A fama da riqueza de seu Batista era tamanha que os homens mais ricos (fazendeiros e doutores) o visitavam para pedi-las em casamento. Eles chegavam de várias localidades (Diamantina, Serro e até de Montes Claros). A palavra final era de dona Teodora, que podia recusar o pedido conforme as informações que recebia sobre os pretendentes.
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Muito tempo se passou...
Na época em que escreveu a esse respeito, a pequena Helena considerava
aqueles “arranjos matrimoniais” muito estranhos... Apesar disso, entendia que em
toda a região não havia mulheres tão bem casadas quanto a mãe e as tias.
(...)
O registro feito por Helena a 30 de maio de 1893 nos
dá conta das festividades religiosas em Diamantina, da participação dos negros
que foram libertados da escravidão cinco anos antes, e da traquinagem de jovens
que pertenciam a respeitáveis famílias do lugar.
Ela relata que gostava muito das festas... Preferia as que ocorriam na
igreja do Rosário, que era vizinha da chácara da avó... Os eventos eram
abertos, mas ela sentia que os da igreja do Rosário pareciam pertencer à sua
gente.
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Igrejas do Rosário eram predominantemente frequentadas pelos negros...
Em várias localidades das regiões mineiras há “igrejas do Rosário dos homens
pretos”... Por ocasião da festa, fazia-se um sorteio para definir quem seriam o
rei e a rainha do Rosário.
(...)
Naquele ano, a rainha foi uma ex-escrava de dona Teodora. Júlia era o
seu nome. Ainda veremos por aqui que muitos de seus antigos escravos preferiram
permanecer junto a ela após a Lei de 1888.
Helena não conhecia o rei,
mas garantia que o tipo era “um negro muito entusiasmado”.
Júlia guardava dinheiro na
esperança de um dia adquirir um pequeno rancho... Mas ao tornar-se rainha da
festa, gastou todas as suas economias. No final ainda ficou devendo dinheiro...
É que o status de “monarcas” da festa do Rosário implicava no cumprimento de
certos compromissos onerosos.
A conclusão de Helena
é simples: aos pobres negros ficava muito caro se tornarem “reis por um dia”...
Gastavam com a coroa, e a rainha ainda tinha de ostentar um rico vestido com
capa e longa cauda...
Apesar dos gastos, nenhum negro dispensava o “cargo” de rei e rainha da
festa do Rosário. A rainha tinha de oferecer um jantar especial e obviamente ficava
em evidência.
Podemos imaginar o quanto
Júlia ficou empolgada com a ocasião... Seu vestido era deslumbrante, e uma
negra que vivia na chácara tinha de sustentar a cauda conforme ela caminhava. O
jantar preparado por Júlia teve a ajuda dessa mesma negra agregada, e seria
motivo de elogiosos comentários não fosse a maldade de um grupo de rapazes
inescrupulosos...
Como foi mencionado no início, moços das “principais
famílias” se divertiam furtando e causando danos às propriedades alheias.
Helena cita certo Lauro Coelho, um dos malfeitores.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_25.html
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto