sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – a “vida rica” dos avós maternos de Helena; filhos educados na capital, filhas letradas; pretendentes e arranjos matrimoniais; sobre o registro de 30 de maio de 1893; festa do Rosário, engajamento dos negros e “reinado por um dia”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley-o.html antes de ler esta postagem:

Os filhos de seu Batista e de dona Teodora foram encaminhados para o Rio de Janeiro (que era a capital do país), onde foram educados... As filhas permaneceram na região Diamantina e “aprenderam a ler e a escrever”.
A grande família se estabeleceu na Lomba sem que as meninas tivessem necessidade de ir à cidade.
A fama da riqueza de seu Batista era tamanha que os homens mais ricos (fazendeiros e doutores) o visitavam para pedi-las em casamento. Eles chegavam de várias localidades (Diamantina, Serro e até de Montes Claros). A palavra final era de dona Teodora, que podia recusar o pedido conforme as informações que recebia sobre os pretendentes.
(...)
Muito tempo se passou...
Na época em que escreveu a esse respeito, a pequena Helena considerava aqueles “arranjos matrimoniais” muito estranhos... Apesar disso, entendia que em toda a região não havia mulheres tão bem casadas quanto a mãe e as tias.

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O registro feito por Helena a 30 de maio de 1893 nos dá conta das festividades religiosas em Diamantina, da participação dos negros que foram libertados da escravidão cinco anos antes, e da traquinagem de jovens que pertenciam a respeitáveis famílias do lugar.
Ela relata que gostava muito das festas... Preferia as que ocorriam na igreja do Rosário, que era vizinha da chácara da avó... Os eventos eram abertos, mas ela sentia que os da igreja do Rosário pareciam pertencer à sua gente.
(...)
Igrejas do Rosário eram predominantemente frequentadas pelos negros... Em várias localidades das regiões mineiras há “igrejas do Rosário dos homens pretos”... Por ocasião da festa, fazia-se um sorteio para definir quem seriam o rei e a rainha do Rosário.
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Naquele ano, a rainha foi uma ex-escrava de dona Teodora. Júlia era o seu nome. Ainda veremos por aqui que muitos de seus antigos escravos preferiram permanecer junto a ela após a Lei de 1888.
Helena não conhecia o rei, mas garantia que o tipo era “um negro muito entusiasmado”.
Júlia guardava dinheiro na esperança de um dia adquirir um pequeno rancho... Mas ao tornar-se rainha da festa, gastou todas as suas economias. No final ainda ficou devendo dinheiro... É que o status de “monarcas” da festa do Rosário implicava no cumprimento de certos compromissos onerosos.
A conclusão de Helena é simples: aos pobres negros ficava muito caro se tornarem “reis por um dia”... Gastavam com a coroa, e a rainha ainda tinha de ostentar um rico vestido com capa e longa cauda...
Apesar dos gastos, nenhum negro dispensava o “cargo” de rei e rainha da festa do Rosário. A rainha tinha de oferecer um jantar especial e obviamente ficava em evidência.
Podemos imaginar o quanto Júlia ficou empolgada com a ocasião... Seu vestido era deslumbrante, e uma negra que vivia na chácara tinha de sustentar a cauda conforme ela caminhava. O jantar preparado por Júlia teve a ajuda dessa mesma negra agregada, e seria motivo de elogiosos comentários não fosse a maldade de um grupo de rapazes inescrupulosos...
Como foi mencionado no início, moços das “principais famílias” se divertiam furtando e causando danos às propriedades alheias. Helena cita certo Lauro Coelho, um dos malfeitores.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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