domingo, 19 de fevereiro de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – algumas considerações sobre a obra; a respeito de Diamantina e de parentes da menina; valioso documento sobre cotidiano de final do século XIX

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley (pseudônimo de Alice Daurrell Caldeira Brant (1880-1970): leitura indispensável... Não é por acaso que consta da lista de livros de exames vestibulares.
Trata-se de um diário que ela escreveu entre 1893 e 1895.
O livro (de 1942) foi organizado a partir de suas anotações originais em antigos cadernos... A própria autora esclareceu que a iniciativa partiu de seu desejo de que as netas conhecessem o seu cotidiano de menina no final do século XIX.
As garotas devem ter se encantado com os relatos da menina que havia sido a avó (dos tempos em que vivia no interior de Minas Gerais, numa região que atraiu pessoas de várias partes do mundo).
O cenário é Diamantina. Os que chegavam, buscavam a prosperidade nas lavras de ouro e pedras preciosas. Como sabemos, este havia sido o caso do avô francês de Albert Santos Dumont, “o pai da aviação” (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/santos-dumont-na-colecao-brasiliana.html)...
(...)
Muito já se disse a respeito de “Minha Vida de Menina”... Diversas personalidades o elogiaram. Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Raquel de Queiroz... A lista é grande.
O reconhecimento é merecidíssimo. Intelectuais gabaritados se corresponderam com a autora e vale a pena buscar as informações sobre suas opiniões a respeito do texto.
(...)
Aqui lidaremos com Helena. Aquela que a leitura traz para junto de nós. A menina inteligente que amava a vida do interior, a simplicidade dos campos e o cotidiano da gente comum.
Dos parentes:
* Seus avós paternos eram ingleses. Os avós maternos eram brasileiros de Minas Gerias.
* O pai de Helena, Alexandre, era daqueles que procurava garantir o sustento da família extraindo pedras das lavras de diamantes... Foi ele que sugeriu a ela que escrevesse o diário. Nele poderia registrar a respeito de tudo o que ocorria com a família, sobre as diversas situações que envolviam a vizinhança, as festividades religiosas e também sobre a escola.
          A respeito da prática do registro escrito há que se destacar que um de seus professores exigia redações diárias de suas alunas do “Curso Normal”, que habilitava as jovens ao Magistério.
* A mãe, dona Carolina, era devotada ao marido, aos filhos e aos ensinamentos das autoridades católicas.
* Dona Teodora era a mãe de dona Carolina. A avó materna não escondia sua preferência por Helena entre os vários netos... A menina lhe era grata por toda consideração. Sem dúvida, a morte de dona Teodora em setembro de 1895 significou grande perda em sua vida.
* Helena tinha muitas tias, tios, primas e primos... De um modo geral, as irmãs de dona Carolina implicavam muito com ela e não escondiam o desconforto causado pelo tratamento que lhe dispensava dona Teodora. Há que se destacar que tia Agostinha era uma exceção, pois manifestava apreço pela sobrinha.
* Tia Madge, irmã de Alexandre, era uma das “tias inglesas” de Helena. A afeição de Madge por Helena perecia redobrada pelo fato de ser sua madrinha. Sua maior atenção era em relação à educação da menina, e tanto fazia para agradá-la que em diversas ocasiões Helena a considerava maçante.
(...)
Helena escreveu a respeito da família, seus dramas e ocasiões de alegria.
Escreveu sobre a Diamantina de seu tempo... A leitura nos leva a uma sociedade em transformação... A escravidão havia sido abolida há pouco tempo... A República ainda engatinhava... As lavras estavam decadentes.
Seus registros constituem valioso documento! A partir deles podemos traçar um retrato da condição das mulheres, da Educação, do trabalho das normalistas e da gente comum.
Sempre atenta à conversa dos adultos, não lhe escapavam temas políticos como a revolta da Armada contra Floriano, as eleições...
É tudo muito interessante...
E é por isso que destacaremos neste blog alguns recortes de “Minha Vida de Menina”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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