Não havia como cravar certezas...
A única convicção era a de que enquanto Robert vivesse Anne não teria como “escapar” daquele círculo... Isso duraria quanto tempo? Mais dez ou vinte anos... Os vinte anos pareciam-lhe tempo de “curta duração”... Todavia os prováveis dez anos anunciavam algo como um “longo túnel negro”.
“Condenada à morte; mas também condenada a viver”.
(...)
Nadine entrou no quarto. Quis saber se ela não
desceria... Perguntou se estava doente.
De repente preocupou-se com a possibilidade de ter sido flagrada na cama
padecendo de convulsões. Saiu-lhe um improviso... Respondeu que estava com dor
de cabeça e que havia tomado aspirina.
Pelo visto sua fala não provocava desconfianças...
Tanto é que na sequência Nadine advertiu que a pequena Maria ficara sozinha no
gramado.
Anne disse que teria descido prontamente... Só não o fizera porque tinha
ouvido a movimentação e decidiu descansar um pouco. No momento sentia-se bem
melhor.
Nadine cobrou uma confirmação... Estava melhor mesmo? Claro que sim... A
“aspirina fizera-lhe bem”.
(...)
Tinha apenas de descer para “retomar a vida”.
Henri ofereceu-lhe um copo de uísque. Ele estava numa conversa animada
com Robert... Os dois examinavam papéis e logo iniciaram uma falação para
explicar-lhe do tratavam.
A única coisa que Anne pensava era sobre como pudera não levar em consideração as
consequências e remorsos que seu ato extremo pudesse provocar... Ao mesmo tempo sabia
que nada fora irrefletido e podia considerar que “estivera a um passo do outro
lado” (“onde coisa alguma tem valor, onde tudo é igual a nada”).
Para variar, Robert era o
mais falante... Evidentemente notou a “ausência” da esposa e perguntou onde ela
estava.
Anne respondeu “aqui”.
A palavra de poucas
letras significava muito. Significava que estava viva e que partilhava sua
existência com aqueles que sempre lhe eram tão próximos.
Podia trocar ideias... Concordar e discordar.
O que tanto empolgava Robert? Os estudos que Henri havia elaborado para
a implantação do semanário e de vários outros projetos que tocariam em parceria.
Obviamente não havia
necessidade de ouvir de Henri ou Nadine a respeito da mudança de planos sobre a
mudança para Porto Venere.
Também não havia necessidade do menor esforço para
perceber que sempre esteve entranhada nos embates dos que lhe eram mais
chegados... Não por acaso Robert pediu-lhe que sugerisse um nome para o
semanário.
(...)
Não havia dúvida...
Anne sabia que seu grupo arrancara-lhe das garras da
morte. Cada um ali contribuiria para que ela voltasse à vida.
Não havia dúvida...
Atirara-se novamente “de pés juntos” à vida e, sem que precisasse entrar
em detalhes, os seus saberiam ajudá-la a “viver de novo”.
Seu coração batia forte... Por quanto tempo? Isso pouco importava...
Podia ouvir os chamados e atendê-los.
Há motivações e há as
pessoas.
Saberia ouvir... Talvez um
dia voltasse a ser feliz.
“Quem sabe?”
Fim.
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Leia: http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
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Um abraço,
Prof.Gilberto