Kapuscinski destaca ainda outros elementos que compunham o “modo ioruba de ser”: sua língua é tão complicada que, em sua opinião, aprendê-la seria tão complicado quanto o chinês; a vestimenta daquela gente é rica, seus trajes são “distintos, aristocráticos”; as mulheres vestem-se de azul, que, entre eles, é “a cor do amor”; sua cultura é marcada pela sensualidade*...
A respeito desse último elemento, o autor garantia que foi “transportado” para a América Latina (sobretudo Brasil e Cuba) com os escravos** que foram extraídos da região.
* Para o polonês, algumas danças vistas em Havana, Rio de Janeiro e até no
Haiti apresentam traços da sensualidade ioruba.
** A respeito da escravidão, o autor sustenta que os iorubas guerreavam
entre si e que os vencedores vendiam seus prisioneiros como escravos.
(...)
Awolowo se formou em Direito...
Retornou à sua terra em 1947... Constituiu escritório, tornou-se respeitado e
reconhecido.O
ofício da advocacia sempre foi de muito prestígio entre os africanos, pois as
pessoas viam o advogado como “alguém que conhece as leis, que pode processar os
inimigos, e que não é ‘passado para trás’”.
Dois anos depois, ele
fundou o “Nigerian Tribune”, que se tornou o principal veículo de propagação de
suas ideias... Aos poucos a mensagem da Egbe Omo de defesa da causa ioruba se
difundiu entre a sua gente.
Nos tempos coloniais (de
protetorado) já havia regulamentação imposta pelos ingleses, que permitiam a
atuação limitada de partidos políticos*... Dessa maneira, pelo menos na
Nigéria, a questão da libertação não se dava “em campos de batalha ou em meio
ao fogo revolucionário”... As agremiações políticas que desrespeitassem a lei
(o “constitutional progress”) eram simplesmente fechadas pelos britânicos...
* Instituiu-se a Federação da
Nigéria... Os ingleses permitiam que as três
regiões reconhecidas por serem ocupadas
por iorubas (Leste), hausas
(Norte) e ibos (Oeste) tivessem
governos próprios...
Portanto os advogados
(retomando a condição de Awolowo) eram essenciais aos partidos e jornais... Não
era por acaso que entre os “membros do Parlamento Nigeriano” havia muitos
advogados... Apenas “homens de negócio” os superavam em número.
(...)
A Egbe Omo Oduduwa passou a contar com um Partido Político, o Action
Group Party, fundado por Awolowo em 1951...
Três anos depois, esse partido assumiu o “Governo da Nigéria Oriental”...
Awolowo tornou-se o chefe desse governo.
Governar apenas a porção oriental da Nigéria não
era suficiente para Awolowo... Também as lideranças hausas ou os chefes ibos
pretendiam se tornar senhores de todo o país. O problema é que não havia a
menor possibilidade de entendimento entre as três nações, já que uma pretendia
exercer poder sobre as outras...
(...)
Iorubas, ibos e
hausas aceitavam formar a “União da Nigéria”... Desde que eles a governassem.
Kapuscinski sustenta que o poder de cada líder se limitava à região
habitada por seu povo...
Fora
dela sofriam discriminação dos demais.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto