domingo, 4 de dezembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Tertuliano entrega os pertences de Antônio Claro à Helena; Maria da Paz descobriu que havia sido enganada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_3.html antes de ler esta postagem:

Depois do choque provocado pela revelação a respeito da trama do marido, Helena se acalmou... Viu que Tertuliano também estava abalado e lhe disse que não era o único culpado. Ele concordou, mas deu a entender que sua responsabilidade na tragédia era maior porque havia se acovardado em relação às iniciativas macabras de Antônio Claro.
Helena quis saber da relação de Tertuliano com a Maria da Paz... Ele explicou que estavam noivos e que gostava dela... Deu a entender também que passara a noite com Helena para se vingar de seu marido.
Na sequência Tertuliano retirou o relógio e a aliança do Antônio Claro e deixou-os sobre a mesa... Estava para se retirar e acrescentou que enviaria as roupas do outro pelo correio.


(...)

Saramago revela o que ocorreu entre Maria da Paz e o Antônio Claro na casa de campo... O problema entre ambos ocorreu pela manhã, quando o ator dormia sossegadamente ao lado da Maria. Seu braço esquerdo estava acomodado numa almofada próxima da cabeça da moça.
Aos poucos o quarto foi se iluminando pela claridade do dia que penetrava pelos vãos das janelas... Maria estava como que abandonada à preguiça e de repente virou-se para o lado um tanto agitada... Seus olhos toparam a mão do companheiro da noite.
No mesmo instante ela concluiu que aquele tipo não era o seu Tertuliano. A sua conclusão se embasou simplesmente na marca de aliança do dedo anelar daquela mão diante dos olhos. Seu noivo não usava anéis e já fazia muito tempo que a marca que lembrava o frustrado casamento havia desaparecido.
Maria não teve dúvidas... Retirou-se da cama, apanhou suas roupas e saiu do quarto. Vestiu-se na sala e seus pensamentos não conseguiam encontrar uma resposta para o fenômeno que acabara de perceber... Definitivamente aquele tipo não era Tertuliano. Mas seria possível que em tudo fossem idênticos?
Por mais que tentasse chegar a uma resposta, Maria não possuía elementos suficientes para construí-la... É verdade que se lembrou de conversas que tivera com o Tertuliano, suas frases evasivas por ocasião do envio da carta à produtora e a sua promessa de um dia revelar-lhe toda a verdade. Mas o que poderia concluir a partir desses parcos elementos?
Algum tempo se passou e o tipo a chamou... Incrível! A voz era a de Tertuliano... Maria não respondeu. Ele voltou a chamá-la argumentando que ainda era cedo para se retirarem da cama.
Ela caminhou até a porta do quarto... O desconhecido protestou ao vê-la vestida... Maria foi logo querendo saber quem ele era exatamente e o que significava aquela marca de anel em seu dedo.
Um tanto surpreendido, Antônio Claro olhou para a própria mão e notou que não havia levado em consideração aquele pequeno detalhe... Maria disse que ele não era o Tertuliano... O tipo confirmou e ela quis que ele se identificasse no mesmo instante.
Antônio Claro explicou que no momento ela devia se contentar com aquela informação... Depois Tertuliano lhe explicaria tudo.
Mas ela demonstrou toda sua indignação e resolveu que precisava saber por quem havia sido enganada.
Antônio Claro procurou se pronunciar com calma... Isso enervava ainda mais a pobre moça. Ele disse que a havia enganado, todavia Tertuliano o ajudara em suas maquinações... Acrescentou que o professor não tinha saída, além disso, ele não era exatamente um herói.
O tipo levantou-se completamente nu e se aproximou da Maria... Disse que aquela história toda não tinha nenhuma importância e que o melhor que tinham a fazer era aproveitar o momento juntos.
Maria gritou e correu para a sala... Algum tempo depois ele também se vestiu e anunciou que a levaria à sua casa, pois não tinha paciência com mulheres histéricas. Ela podia ficar tranquila, pois nunca mais se encontrariam.
(...)
Como sabemos, continuaram a discutir durante a viagem de regresso... Agrediram-se. Antônio Claro perdeu o controle do veículo, que se chocou de frente com o grande caminhão. Isso selou o fim dos dois.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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