sexta-feira, 28 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – encontro marcado urge preparo e antecipação de decisões; Maria à espera de esclarecimentos sobre o enredo no qual se sente envolvida

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_24.html antes de ler esta postagem:

Os dois “iguais” haviam acertado o encontro...
Em nenhum momento Tertuliano pensou que estivesse em desvantagem no caso pelo fato de o local definido por Antônio Claro ser completamente desconhecido por ele e localizar-se fora da cidade... Mesmo a possibilidade de o outro comparecer com sua arma carregada de balas parecia não o incomodar.
O professor decidiu que iria disfarçado com a barba postiça e que não a arrancaria enquanto o veredicto não fosse estabelecido... Levaria um espelho de tamanho suficiente para que os dois rostos fossem refletidos lado-a-lado... Definiu que, se o que podiam observar nas aparências fosse mesmo idêntico, não seria necessário avançarem para outras inspeções... Não era para desnudarem-se como se estivessem numa praia de nudismo (ou “concurso de medidas”) que se encontrariam.
Do mesmo modo que entendia a eficácia do estudo de História a partir de recortes do presente para se chegar à fonte de tudo, também aquela verificação poderia ser checada “de diante para trás”... Analisariam os rostos, as cicatrizes... A partir desses detalhes expostos reconheceriam (pelo menos em parte) o curso de suas vidas desde as origens.
(...)
Depois da conversa com o ator, Tertuliano meditou sobre o encontro que teriam... Voltou a trabalhar na proposta de prática de ensino tão esperada pelo diretor.
Maria da Paz telefonou-lhe mais à tarde... Ele perguntou se não era do seu gosto aparecer no apartamento... Ela respondeu que teria de ser breve porque a mãe não estava muito bem de saúde... Tertuliano lamentou e quis dissuadi-la da visita afirmando que em primeiro lugar estão as questões familiares... Todavia Maria deu a entender que seria importante passarem um tempo juntos.
(...)
O professor não a amava sinceramente... Ficamos sabendo que sua pretensão era a de finalizar o relacionamento... Talvez nem conhecesse os verdadeiros sentimentos que nutria pela moça.
O telefonema de Maria serviu para lembrá-lo que nem sempre valorizamos as pessoas que nos consideram importantes... Fez lembrá-lo de que não passava de um tipo solitário... Automaticamente levou as costas da mão para secar uma lágrima.
(...)
Maria chegou conforme havia combinado...
Cumprimentaram-se trocando beijos nas faces... Sentaram-se no sofá e falaram sobre a saúde da mãe de Maria... Felizmente não era nada grave... No banco a rotina ditava a alternância entre os dias bons e os menos agradáveis... Mais duas semanas e ela também entraria de férias, mas era certo que teria pouca chance de passear por causa das condições da mãe... De sua parte, Tertuliano garantiu que não havia como ficar entediado porque, apesar se manter afastado da rotina escolar, assumira a responsabilidade de redigir o projeto solicitado pelo chefe.
Maria achou interessante... Na sequência quis saber se ele não tinha mais nada a dizer... Obviamente se referia ao assunto da “mentira sobre a carta à produtora de filmes”.
Tertuliano respondeu que ainda não era o momento de entrar em maiores detalhes e pediu paciência... Ela disse que esperaria o tempo que fosse necessário... Contou que se sentia mais aliviada, pois ele havia sido sincero e, se antes imaginava um “muro intransponível”, depois da conversa que tiveram sentira que o que os separara era apenas uma porta... É claro que não sabia como abri-la.
Evidentemente a sequência do raciocínio colocava Tertuliano como o sujeito que solucionaria a situação... Mas ele nada disse... Apenas pensou que não “tinha a chave daquela porta”, não sabia onde encontrá-la e nem mesmo se havia alguma chave.
(...)
Maria levantou-se... Disse que já era tarde e que precisava ver a mãe... Tertuliano pediu-lhe que ficasse um pouco mais...
Despediram-se do mesmo modo como se cumprimentaram logo que Maria chegou.
Ele pediu que lhe telefonasse ao chegar a casa...
Na sequência pegou-a pela mão e levou-a ao quarto.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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