domingo, 7 de agosto de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – antigos traumas podem tornar insuportáveis as relações do presente; fim da décima parte

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_6.html antes de ler esta postagem:

Lewis acendeu a luz... Deu início a uma conversa que sugeria uma avaliação do último verão... Perguntou se ela concordava que não havia sido “muito ruim”... Anne o contrariou respondendo que não tinha sido o melhor de sua vida.

Ele entendeu... Também lamentava várias situações... Mas ressaltou que a sensação que ela forjou a seu respeito, sobre ele se sentir “superior ou hostil”, não era expressão da verdade... Contudo admitiu que eventualmente carregasse um “nó no peito” e que poderia “deixar todos morrerem sem socorrer a ninguém”.
Assumindo ares de psicóloga, respondeu que o compreendia... E que acreditava que essa sua postura tivesse origem na sua infância e juventude carregadas de sofrimentos.
Lewis brincou... Disse que ela não estava ali para “psicanalisá-lo”... Riu, mas deu a entender que não pretendia aprofundar a tese.
Anne o tranquilizou, mas não deixou de lembrá-lo da ocasião em que estavam no clube Delisa e que, depois do episódio, ele manifestou que não tinha condições de pronunciar nenhuma palavra (que trouxesse reconciliação)*.
Ele se mostrou surpreso por sua capacidade de recordar o episódio... Então ela contou que depois voltaram a se entender... Na ocasião ele manifestara que o que sentia era “mais do que simples amizade”.
Ela disse essas coisas esforçando-se para imitá-lo no modo de falar...
(...)
Silenciaram...
Ele olhou para o teto e cogitou que ainda pudesse amá-la.
A frase “não encontrou eco” em Anne...
Pode ser que se tivesse sido pronunciada algumas semanas antes ela se enchesse de esperança...
Naquele momento ela sabia (e ele também) que o caso de amor que viveram havia chegado ao fim.


(...)
Os últimos dias não foram de falações que remoessem o passado, o futuro ou os sentimentos.
Eles foram vividos sem que nenhum dos dois incomodasse com reivindicações...
Puderam se sentir satisfeitos.
Talvez os dois concordassem sinceramente com isso.
(...)
Na última noite, Anne confessou-lhe que não sabia se poderia deixar de amá-lo. Admitia que jamais se esforçaria para tirá-lo do coração.
Ele a abraçou e emendou que também ela estaria em seu coração para sempre.
(...)
Não dava para insistir em reflexões sobre se ainda se reencontrariam...
Despediram-se “com um beijo apressado” no aeroporto.
Antes que se encaminhasse para o avião, Anne foi abordada por um funcionário.
O moço entregou-lhe uma caixa que guardava, envolvida em papel de seda, uma grande e bela orquídea.
Fim da parte X.

Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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