sexta-feira, 22 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – conversando a respeito do fim do amor; “o amor nunca é merecido” e pesadas lágrimas são a sua paga

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_21.html antes de ler esta postagem:

É claro que ela já vinha de um histórico de reflexões sobre a possibilidade de ouvir a frase fatal... Todo aquele exercício a fragilizara... Evidentemente a revelação a abalou.
Reuniu forças para dizer que “já sabia”... Isso era algo que temia desde o ano anterior e a ideia de perdê-lo já apavorava seus pensamentos quando se pôs a chorar no Clube Delisa...
Quis saber como chegaram àquela situação. Lewis respondeu que ocorreu que o sentimento que cultivava foi se arrefecendo aos poucos... Esperou durante todo o ano e refletiu sobre a situação. Gostaria que ela estivesse presente, mas tinha de amargar a impossibilidade de não tê-la ao lado...
Deu de ombros... O que fazer? Sentenciou que era preciso “não perder a cabeça”. Esperou que por ocasião do reencontro “algo especial” pudesse ocorrer.
Ele falava como se estivesse tratando de situação que envolvia pessoas hipotéticas ou distantes... Anne ouvia a tudo calada imaginando que o presente dado por Paule contribuíra para aquele trágico desfecho.
(...)
Mergulhada em suas reflexões, começou a pensar que teria de procurar uma saída como ocorrera no ano anterior... Perguntou sobre o que fariam... Lewis respondeu apenas que gostaria que passassem “um bom verão”.
Como que a justificar essa possibilidade, fez referências ao dia que se encerrara avaliando-o como positivo... Anne o corrigiu imediatamente dizendo que o dia havia sido um inferno.
Lewis discordou... Redarguiu e mostrou-se surpreso ao saber que ela notara mudanças no relacionamento.
Anne disse que não tinha nada a dizer sobre aquele comentário.
Ela pensou sobre os episódios do ano anterior e os esforços dele, carregados de rancor, na intenção de deixar de amá-la. O amor que nutria por ela era tanto que impediu o “triunfo da separação”. Todavia o reencontro evidenciava-se catastrófico... Não se verificava nenhum esforço da parte dele... Simplesmente não a amava mais. Era isso.
(...)
Anne finalizou com um “boa-noite”.
Ele ainda quis mostrar gentileza ao dizer que não pretendia torná-la triste. Acariciou os cabelos dela... Ao mesmo tempo ela garantia que não havia com o que se preocupar.
Lewis desejou-lhe que dormisse bem.
(...)
Apesar do cansaço, Anne não conseguiu dormir.
Durante toda a noite refletiu sobre o seu envolvimento com Lewis Brogan... Concluiu que “o amor nunca é merecido”... Assim como ele a havia amado sem razão, podia deixar de amá-la “sem razão plausível”.
Estremeceu e chorou copiosamente...
Não mais o ouviria a perguntar-lhe sobre os motivos de seu riso... Seu rosto denunciaria lágrimas derramadas apenas.
Era triste concluir que tudo o que ele lhe havia dado seria “pago ao peso de lágrimas”.
(...)
A noite avançou... Aos poucos os móveis tornaram-se vultos.
Alguns sons longínquos chegaram-lhe aos ouvidos... Apitos de trens da madrugada denunciaram o horário.
Ao lado, Lewis dormiu pesadamente... A ele nada sucedera.
A cortina amarela foi se revelando... Manhã.
Anne dirigiu-se à cozinha para servir-se de uísque e um comprimido de benzedrina.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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