quarta-feira, 27 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – fim da conversa sobre a política de auxílios e expansionismo econômico; gracejos de Lewis e broncas de Dorothy; sobre limitações dos simpatizantes da esquerda norte-americana no pós-guerra; dos cotidianos convencionais e infelizes

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_26.html antes de ler esta postagem:

Evelyne perguntou a Anne sobre como estava Paris naquele momento... Anne disse que a cidade estava “invadida por americanos”. Lewis interveio dando a entender que a atuação das tropas desagradava aos franceses... Dando ares de graças aos juízos que fazia, emendou que todos eram muito ingratos.
Ele disse que os Estados Unidos assemelhavam-se a uma “nação de escoteiros” ao enviar socorro a todos os cantos do mundo... Leite em pó para começar, depois Coca-Cola e tanques... E isso não dizia respeito apenas à França, já que gregos e chineses também recebiam auxílios e não dobravam joelhos diante da potência militar.
Lewis ria enquanto falava... Dorothy perguntou-lhe se achava mesmo engraçado o fato de o padrão norte-americano se impor sobre as demais sociedades... Lembrou que a bomba atômica era um dos símbolos de seu poderio... Será que ele faria “boas piadas” quando muitas outras fossem lançadas sobre todo o mundo?
Lewis não levou aquilo à sério... Estava se divertindo... Olhando para Anne perguntou se não vinha de um francês a máxima de que era “preferível rir das coisas a chorar por causa delas”.
Mais uma vez Dorothy chamou-lhe a atenção. De acordo com sua opinião, a situação não era de ficarmos entre o riso ou o choro... Seria preciso agir.
Lewis defendeu-se... Disse que era partidário de Wallace (Henry A. Wallace, vice do presidente Roosevelt; lançou sua candidatura à presidência pelo Partido Progressista para as eleições de 1948) e que votaria nele. Achava que já fazia o suficiente... Dorothy expôs sua opinião dando a entender que Wallace jamais criaria um partido de esquerda.
Willie defendeu o amigo argumentando que nem Lewis nem nenhum deles podiam criar um “verdadeiro partido de esquerda”... Anne sugeriu que, se os que pensavam desse modo somavam contingente considerável, poderiam procurar os meios de se unirem. Lewis explicou que não era bem assim, pois não eram tão numerosos e, além do mais, estavam isolados.
Dorothy o criticou novamente ao sentenciar que, para ele, era mais confortável fazer gracejos sobre a situação do que tentar agir.
(...)
Em suas reflexões, Anne avaliava que Lewis era do tipo que se posicionava criticamente em relação ao seu país... Mas o via acomodado diante da realidade... Era certo que ele jamais se fixasse na França... Talvez chegasse ao ponto de se queixar porque ela não admitia mudar-se definitivamente para os Estados Unidos... De fato, “por nada no mundo se tornaria uma americana”, e neste ponto veio-lhe à mente a figura de Colette Baudoche (personagem de romance de Maurice Barrès).
(...)
Bert levou-os para casa em seu carro...
No caminho, Lewis tomou-a nos braços.
Ao chegarem, Anne fez um comentário positivo sobre o dia de passeio e acrescentou que Dorothy estivera bem agressiva desde que haviam se retirado da feira.
Ele respondeu que Dorothy não era uma pessoa feliz... E emendou que Willie, Virgínia e Evelyne também não viviam felizes... Acrescentou que essa constatação os colocava (a ele e Anne) em condição de estarem “quase bem intimamente”.
Anne apressou-se a dizer que não estava muito bem. Ele deu a entender que seu caso não se tratava de um problema, já que todos experimentam maus momentos... Certamente aquilo não era “crônico”.
Para sustentar seu modo de pensar, Lewis deu exemplos de situações desagradáveis vivenciadas por todos... Uns como “escravos” dos outros (maridos, esposas, filhos...). Isso só podia gerar infelicidades.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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