sexta-feira, 29 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – solidão, sensação de inutilidade, estranhamento e “pavor no paraíso”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_29.html antes de ler esta postagem:

Lewis viajou sozinho para Chicago... Anne pensou que por 24 horas experimentaria paz de espírito.
(...)
O dia dera em “muito quente”... A ausência de vento tornara a atmosfera sufocante.
Depois de acompanhá-lo ao ponto de ônibus, Anne sentou-se no gramado com alguns livros... Mas decidiu ler uma carta enviada por Robert. Em síntese, ele mandava notícias sobre o “processo de Madagascar” (provavelmente uma referência às repercussões da rebelião emancipacionista malgaxe ocorrida em 1947) e também sobre um texto de Henri que sairia em Vigilance... Lamentava a falta de um periódico com maiores tiragem e circulação para que pudessem exercer influência sobre a opinião pública... Pensavam em organizar um comício.
Anne observou um avião cruzando o céu. Pensou sobre o intenso tráfego aéreo da região, e que um daqueles aparelhos podia levá-la para Paris, onde ouviria Robert... Depois se angustiou ao lembrar que aquilo fazia pouca ou nenhuma diferença, pois também ele não reconhecia qualquer benefício que pudesse ser propiciado pela presença dela. Definitivamente Robert não reclamava a sua participação.
(...)
Ela passou os olhos pela vegetação e notou que “tudo estava em seu devido lugar”, esquilos e aves curtiam os espaços como se fossem domésticos... Mas não tinha como fugir da constatação sobre a falta de razão para a sua permanência... Nem o país nem o passado de Lewis lhe interessavam... Mais uma vez se entristeceu ao lembrar-se de que no ano anterior a situação era bem diferente.
Ali lhe restava um tempo considerável sem ter o que fazer...
Resolveu tomar banho.
Depois se dirigiu à geladeira e viu que nada lhe faltava (sucos, leite, carnes, saladas...). Também os armários estavam abarrotados de mantimentos.
Jantou e entreteve-se por um tempo ouvindo música... Ligou a televisão sem conseguir se concentrar em algum programa específico... Ao manipular o seletor de canais, deu conta de variado conteúdo (toda gama de filmes, comédias, aventuras, histórias fantásticas, e também boletins informativos, além de “dramas policiais”).
Mais um tempo considerável se passou...
De repente o monitor permaneceu totalmente branco em todos os canais...
(...)
Paz de espírito?
Anne começou a sentir um medo que jamais experimentara!
Apavorou-se com a possibilidade de não conseguir dormir. Ao mesmo tempo imaginou que, se dormisse, o lugar poderia ser tomado por algum vagabundo, ladrão ou até por foragidos de asilos psiquiátricos.
O silêncio da casa era sufocante...
Para complicar ainda mais, ela ouviu sons que vinham do lado de fora. O estalar de galhos secos (certamente provocado por algum animal) e o bater da água nas margens do lago chegavam aos seus ouvidos como aterrorizantes.
Trancou as portas e deitou-se sem trocar de roupa... Manteve a luz acesa.
Adormeceu, mas teve um sonho medonho em que a casa era invadida por tipos violentos que lhe desferiram golpes terríveis.
(...)
Acordou pela manhã e voltou a ouvir os sons produzidos pelas aves e pelo chacoalhar das árvores.
Anne não conseguiu se tranquilizar. A solidão a mantivera nessa condição de a tudo estranhar...
Mais uma vez trouxe a frustração do relacionamento com Lewis para seus agitados pensamentos... Aquela era a casa dele, também os chinelos e o roupão branco... Tudo ali pertencia a ele...
Todavia aquele que estava sendo aguardado não era o amado Lewis do passado... Tratava-se de um estranho que havia se ausentado.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – necessidade de buscar os sinais do rompimento; da dificuldade de se admitir a perda

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim_27.html antes de ler esta postagem:

Lewis falava a respeito do quanto as pessoas vivenciavam realidades infelizes por se submeterem aos caprichos de maridos, esposas e filhos... Comparava as condições dos próprios amigos (citou Virgínia, Willie e Evelyne) às de escravizados.
(...)
Anne lembrou-o de que no ano anterior ele mesmo falara sobre o desejo de casar-se... Lewis riu e não desmentiu que eventualmente pensasse nisso, mas garantiu que logo chegava à conclusão de que não conseguiria se imaginar com esposa e filhos... Certamente “daria o fora”.
Empolgada com a conversa, Anne perguntou se ele considerava a possibilidade de ainda se verem no futuro. Lewis devolveu-lhe a pergunta “por que não?”... A ela parecia evidente que o fato de morarem muito distante um do outro explicaria a impossibilidade... Ele concordou... De fato era uma constatação.
Disse isso e retirou-se para o banheiro.
(...)
Era assim mesmo que ocorria... Ele sempre dava um jeito de se esquivar nos momentos em que ela conseguia uma aproximação. Talvez se comportasse dessa maneira porque sabia que a desagradaria por não atender suas demandas.
Dormiam em camas separadas. Todavia os dias se passaram e ninguém podia sentenciar que os dois não mais se relacionariam intensamente.
Anne prosseguiu em suas reflexões a respeito de como sair daquele enredo sem maiores traumas... Agora estava feito... Ele não a impedira de voltar para a temporada... O fato de tê-la em sua presença dava-lhe prazer, ela compreendia isso, mas não o perdoava não ter lhe dado ciência a respeito das mudanças pelas quais seu coração passara.
Lewis só se preocupava consigo mesmo. E ainda por cima exigia que ela estivesse sempre com a cara boa e aparentando disposição para a vida.
(...)
Certa manhã, Lewis se pôs a regar a grama do jardim... Anne o observou de longe e considerou-o simplesmente “um homem entre outros”... Por que haveria de insistir que se tratasse de um “tipo único”?
A correspondência chegou... Nenhuma carta... Ela apanhou os jornais prevendo que teria boa parte da tarde para ler o noticiário... Depois escolheria um dos livros da biblioteca, ouviria discos... Nadaria...
De repente ele a chamou para mostrar-lhe o arco-íris que tinha se formado nas gotículas que espirravam do jato d’água.
Anne observou sua fisionomia alegre... Teria como pensar mal dele? Pode ser que ele buscasse se defender recusando-se a sofrer por causa dos sofrimentos de sua parceira... Talvez se preocupasse sinceramente apenas com os próprios sentimentos.
Em seus pensamentos, Anne resgatou a ocasião em que ele dissera que se casaria com ela “na hora”... Isso também a despertava para a sua cruel realidade... Bastariam gestos como aqueles ou uma “inflexão de sua voz” para que ela “reencontrasse o Lewis de outrora”... Mas tinha de aceitar que “perdê-lo” no instante seguinte era algo que não dependia dela.
Mesmo sabendo que isso lhe trazia complicações, ela continuou a amá-lo.
(...)
Houve o dia em que Lewis viajou sozinho para Chicago...
Anne pensou que por 24 horas experimentaria certa paz de espírito.
Na próxima postagem veremos o que ocorreu.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 27 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – fim da conversa sobre a política de auxílios e expansionismo econômico; gracejos de Lewis e broncas de Dorothy; sobre limitações dos simpatizantes da esquerda norte-americana no pós-guerra; dos cotidianos convencionais e infelizes

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_26.html antes de ler esta postagem:

Evelyne perguntou a Anne sobre como estava Paris naquele momento... Anne disse que a cidade estava “invadida por americanos”. Lewis interveio dando a entender que a atuação das tropas desagradava aos franceses... Dando ares de graças aos juízos que fazia, emendou que todos eram muito ingratos.
Ele disse que os Estados Unidos assemelhavam-se a uma “nação de escoteiros” ao enviar socorro a todos os cantos do mundo... Leite em pó para começar, depois Coca-Cola e tanques... E isso não dizia respeito apenas à França, já que gregos e chineses também recebiam auxílios e não dobravam joelhos diante da potência militar.
Lewis ria enquanto falava... Dorothy perguntou-lhe se achava mesmo engraçado o fato de o padrão norte-americano se impor sobre as demais sociedades... Lembrou que a bomba atômica era um dos símbolos de seu poderio... Será que ele faria “boas piadas” quando muitas outras fossem lançadas sobre todo o mundo?
Lewis não levou aquilo à sério... Estava se divertindo... Olhando para Anne perguntou se não vinha de um francês a máxima de que era “preferível rir das coisas a chorar por causa delas”.
Mais uma vez Dorothy chamou-lhe a atenção. De acordo com sua opinião, a situação não era de ficarmos entre o riso ou o choro... Seria preciso agir.
Lewis defendeu-se... Disse que era partidário de Wallace (Henry A. Wallace, vice do presidente Roosevelt; lançou sua candidatura à presidência pelo Partido Progressista para as eleições de 1948) e que votaria nele. Achava que já fazia o suficiente... Dorothy expôs sua opinião dando a entender que Wallace jamais criaria um partido de esquerda.
Willie defendeu o amigo argumentando que nem Lewis nem nenhum deles podiam criar um “verdadeiro partido de esquerda”... Anne sugeriu que, se os que pensavam desse modo somavam contingente considerável, poderiam procurar os meios de se unirem. Lewis explicou que não era bem assim, pois não eram tão numerosos e, além do mais, estavam isolados.
Dorothy o criticou novamente ao sentenciar que, para ele, era mais confortável fazer gracejos sobre a situação do que tentar agir.
(...)
Em suas reflexões, Anne avaliava que Lewis era do tipo que se posicionava criticamente em relação ao seu país... Mas o via acomodado diante da realidade... Era certo que ele jamais se fixasse na França... Talvez chegasse ao ponto de se queixar porque ela não admitia mudar-se definitivamente para os Estados Unidos... De fato, “por nada no mundo se tornaria uma americana”, e neste ponto veio-lhe à mente a figura de Colette Baudoche (personagem de romance de Maurice Barrès).
(...)
Bert levou-os para casa em seu carro...
No caminho, Lewis tomou-a nos braços.
Ao chegarem, Anne fez um comentário positivo sobre o dia de passeio e acrescentou que Dorothy estivera bem agressiva desde que haviam se retirado da feira.
Ele respondeu que Dorothy não era uma pessoa feliz... E emendou que Willie, Virgínia e Evelyne também não viviam felizes... Acrescentou que essa constatação os colocava (a ele e Anne) em condição de estarem “quase bem intimamente”.
Anne apressou-se a dizer que não estava muito bem. Ele deu a entender que seu caso não se tratava de um problema, já que todos experimentam maus momentos... Certamente aquilo não era “crônico”.
Para sustentar seu modo de pensar, Lewis deu exemplos de situações desagradáveis vivenciadas por todos... Uns como “escravos” dos outros (maridos, esposas, filhos...). Isso só podia gerar infelicidades.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 26 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – encontro animado pela bebida e muitos petiscos; conversando sobre o 24 de agosto de 1944; distanciamento da realidade europeia e a fabricação de “lendas de cera”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-um.html antes de ler esta postagem:

Willie era dos mais afoitos para voltar. Disse que todos estavam com fome e que podiam beber martini em casa.
No retorno, Anne acomodou-se no velho carro de Dorothy. Sentou-se exatamente entre a motorista e Willie. O desapontamento de Dorothy era tal que ela não pronunciou nenhuma palavra durante todo o trajeto... Anne, que guardava em si a indisposição dos desambientados, aproveitou para também permanecer em silêncio.
Ao chegarem, Dorothy insistiu com Anne para que não retornasse à Europa... Anne sustentou que não havia a menor possibilidade... A outra deu a entender que então ela devia revisitá-los durante a primavera, quando o lugar fica ainda mais bonito.
Mais uma vez essa gentileza toda fez Anne refletir sobre a frieza de Lewis, que em nenhum momento sugeriu novo reencontro...
(...)
Na casa, Willie entregou copos de martini a todos. Anne não fez caso e logo tomou o seu. Ela estava nervosa e desejava retirar-se o mais rápido dali. Sua aflição aumentou quando viu a mesa abarrotada de saladas, pastéis e bolos... Estariam dispostos a acabar com tudo aquilo?
Dorothy retirou-se e quando retornou à sala usava um comprido vestido “lamentável” e tinha o rosto coberto de pó-de-arroz... O grupo formado por Bert, Virgínia, Evelyne e Lewis era uma agitação só. Todos riam e falavam sem que se soubesse o tema da conversa. Anne os olhou em silêncio perguntando-se quando voltaria a ficar a sós com Lewis, que se mostrava muito animado. Mas ela sabia que afastá-lo dos demais não equivaleria a mantê-lo mais perto.
(...)
Bert se aproximou de Anne e a incumbiu de um prato repleto de sanduíches... Ao mesmo tempo perguntou-lhe sobre onde estava no 24 de agosto de 1944. Lewis se intrometeu dizendo que ela não deixara Paris durante a guerra.
Lewis, Willie e Bert estiveram entre os soldados que integraram as tropas americanas de libertação (a  4ª Divisão de Infantaria)... Bert comentou que estava entre os que acreditavam que chegariam a uma “cidade morta”, no entanto ficaram surpresos ao avistarem belas mulheres com pernas bronzeadas e trajando vestidos floridos... Sem dúvida, bem diferente do que imaginavam sobre as francesas.
Anne teve disposição para responder que os jornalistas norte-americanos se espantaram com a “boa saúde da maioria dos franceses”. Bert sustentou que os repórteres pareciam não ter capacidade para raciocinar, pois evidentemente não deviam esperar encontrar velhos, deportados ou mortos nas ruas. Disse isso e depois completou que aquele dia fora extraordinário.
Willie disse que quando chegou a Paris, seu grupamento foi tratado com desprezo pelos locais. Bert explicou que isso havia sido uma reação à brutalidade dos que tinham se instalado antes. Para Lewis, as tropas norte-americanas não tiveram alternativa.
Seguiram falando a respeito da série de enforcamentos que se seguiu... Bert era da opinião de que extrapolaram nas execuções (de nazistas e seus colaboradores) e que isso podia ser evitado...
(...)
Dorothy reclamou que os três falavam da “guerra que fizeram” e que cedo não colocariam fim ao assunto.
Anne ouvia e pensava sobre a empolgação daqueles “três guerreiros”. Admitiam ser simpáticos à França e não eram complacentes em relação ao próprio país... Mas era certo que falavam de uma “guerra deles”... A França e seu povo eram apenas “pretexto pouco irrisório”... Colocavam-se como homens fortes e capacitados que haviam lidado com gente fragilizada e passiva...
Só quem resistira à ocupação poderia testemunhar o contrário! Anne os via e ouvia fazerem a sua narração... Era triste concluir que a vitória havia-lhes permitido fabricar “lendas de cera”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 25 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – um passeio à feira de Parker; entretenimento para a família e fotografia de recordação; estrangeira fora de sintonia; dramas das grandes e pequenas cidades ilustrados pelos personagens de cera; pretenso “recorte” sobre os horrores da Segunda Guerra

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Foi Dorothy quem acertou o passeio à feira de Parker num domingo...
Lewis e Anne foram levados por Bert, e coube à própria Dorothy levar Virgínia, Willie e Evelyne em seu carro já bem antigo... Era certo que Lewis não tinha a menor intensão de tomar parte no programa, mas não encontrou ocasião e firmeza para recusá-lo... A preocupação de Anne era por não acreditar que conseguisse manter aparência e papel de “mulher feliz” diante dos outros por tempo excessivo.
(...)
Ao chegarem, Lewis manifestou desagrado em relação à grande quantidade de visitantes e por causa da poeira... Dorothy, dando a entender que o conhecia bem, chamou-lhe a atenção para que não principiasse a sua habitual reclamação... E emendou que sabia de seus ataques de mau humor e desejos de “apagar o sol”.
A moça pôs-se a percorrer as barracas animadamente e a sugerir que todos se divertissem com os vários jogos. Anne se esforçava para apresentar-se alegre.
Não deve ter sido nada fácil manter-se sorrindo e esboçando interesse por aquele tipo de entretenimento (tiro ao alvo; derrubar latas empilhadas; pilotar miniaturas de carros e aviõezinhos...).
Lewis mostrou-se impressionado com sua interação... Dorothy percebeu e puxou-a dando-lhe razão, pois considerava válida a postura de Anne... Era melhor procurar se divertir do que “ostentar ares de enfado”.
Dorothy ajeitou-lhe o vestido e pediu que ela se deixasse fotografar ao lado de Lewis... Virgínia garantiu que gostariam de uma fotografia da amiga francesa, e assim reforçou a ideia.
Brogan deu-lhe o braço e sugeriu que a iniciativa de “imortalizá-la” era válida.
Os dois se posicionaram junto a um dos painéis que o fotógrafo local utilizava para produzir lembrancinhas aos visitantes da feira... Escolheram a gravura de um aeroplano.
Anne se viu em situação delicada... Não conseguia sorrir espontaneamente... Era simples assim... Seus vestidos e arranjos de cabelo despertavam elogios das moças que mal conhecia e que queriam uma recordação sua. Nada daquilo despertava a atenção ou o interesse dele.
(...)
Era bem provável que Dorothy estivesse entendendo que suas chances em relação a Lewis fossem diminutas diante de Anne... Mas talvez também percebesse que esta “perdia terreno”.
Ela insistiu que ele tinha de fazer companhia para Evelyne, que devia se sentar à sombra, pois o sol a incomodava... Ele podia fazer esse favor, pois a outra não conhecia Bert e tampouco tolerava Willie. Depois poderia oferecer-lhe algo para beber.
Ela foi definindo tarefas que Lewis não estava nem um pouco a fim de realizar. Então foi categórico ao afirmar que se recusava a fazer companhia a Evelyne... Pelo visto, a intenção de Dorothy era prosseguir ao lado de Anne em visita ao salão onde ficavam expostas modelos de cera.
Mas, dando-se por vencida, admitiu ficar junto à Evelyne... Anne deu a entender que podia substituí-la, mas ela não aceitou.
(...)
No caminho para o salão, Anne disse a Lewis que ele devia ser mais gentil com a amiga... Ele respondeu que não tolerava Evelyne, e que a ideia de convidá-la tinha sido da própria Dorothy.
A instalação dos “personagens de cera” era diversificada... A um canto viam-se assassinos diante de suas vítimas no congelado instante de sua morte... Uma criança mexicana embalando um recém-nascido... Do outro lado via-se Goering agonizando... Soldados com uniformes alemães pendiam de forcas... Mais além, cadáveres esqueléticos de cera foram colocados para além de uma cerca de arame...
A “parte didática” da exposição colocava Dachau e outros campos nazistas de concentração no “fundo da História”.
(...)
Ao retirar-se da sala, Anne deu com o forte sol e o calor que exigia trajes leves e floridos... Mulheres e seus ombros nus, homens e suas camisas alegres, eram vistos por toda parte... Muito sorvete e cachorro quente...
Chocante... Ela sentiu como se a Europa tivesse “ido para os confins do espaço”, já que ficara para trás, no ambiente que tinham acabado de deixar.
Em meio ao povaréu, Anne se deu conta de que até podia ter se esquecido de seu mundo e de sua língua! Paris estava distante, no espaço e também de sua mente.
(...)
Dorothy teve dificuldade de se impor como líder da excursão. Protestou contra o egoísmo dos homens que decidiram que o passeio estava terminado... Em vão anunciou que às sete da noite projetariam raros filmes mudos que podiam interessar à Anne...
Falou também da expectativa sobre a apresentação de um ilusionista sensacional. Mas isso também não convenceu ninguém.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – acertos para a “convivência de verão”; a rotina; presença de Dorothy

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o_24.html antes de ler esta postagem:

Lewis concordou que seria preferível não mais se envolverem com “demasiada intimidade”. Ele também se irritou com a reação da parceira... Com certa indiferença, esclareceu que o melhor que ela tinha a fazer era dormir.
Essa sua reação à indignação manifestada por Anne deixou-a ainda mais intrigada... Será que ele estava sendo sincero? A única culpada pelo mal-estar que experimentavam era ela?... Provavelmente devia ser isso mesmo... Em suas reflexões não se culpava exatamente por ter “mendigado as carícias”, mas por ter alimentado falsas esperanças.
Também para esse erro encontrava justificativa... Até então não pudera ter certeza da convicção de Lewis em relação à decisão de não mais amá-la... O que a confundia era a incoerência entre o que de fato esperava-se de um homem de decisões firmes e as brechas que deixava em algumas de suas posturas. Evidentemente ela se reportava à exacerbada harmonia que ele deixou transparecer a todos logo que chegaram a Parker.
No caso de Lewis, Anne imaginava que a sua pretensão fosse a de atestar a morte do passado e de tudo o que haviam experimentado juntos. Isso lhe doía, pois se tratava de “morte sem cadáver”... Nesse ponto ela retomou a lembrança do jovem Diego, sem um túmulo sobre o qual fosse possível derramar lágrimas.
(...)
Na manhã seguinte ele manifestou mais uma vez a sua lamentação sentenciando que a temporada havia começado muito mal... Ela o interrompeu dizendo que nada de grave ocorrera, disse que se habituaria e que a situação se tornaria perfeita para ambos.
Lewis reforçou a ideia de que ainda podiam passar um bom verão... Admitiu que ainda pudesse se entender muito bem com ela, sobretudo quando não estava chorando...
Anne entendeu que ele não queria magoá-la, mas ao mesmo tempo notava que não demonstrava se importar com os seus sentimentos.
(...)
Aquele verão tinha tudo para ser dos melhores...
Nas manhãs seguintes curtiram atravessar a represa de barco, subir as dunas e alcançar a praia... Instalavam-se sossegadamente... De um lado viam que as areias se mostravam “desertas e infinitas”... Do outro lado elas chegavam até os altos-fornos e suas inflamadas chaminés.
Os dias ensolarados foram de constantes convites ao nado e ao bronzeamento... Restava-lhes permanecer contemplando a bela paisagem frequentada por aves brancas de longas pernas que procuravam alimento pela areia.
À tarde retornavam para casa carregando gravetos e pedaços de madeira... O gramado frequentado por esquilos, borboletas e aves, era sempre convidativo a momentos de leitura. Era exatamente a isso que Anne se dedicava. A certa distância ouvia o som constante da máquina de escrever manipulada por Lewis.
Depois acendiam o fogo no forno feito de tijolos... Anne descongelava um frango... Também colocavam bistecas e milho para assar... Ouviam música, assistiam a filmes antigos ou lutas de boxe na televisão. Aos poucos essa rotina se solidificou... Pode-se dizer que, acomodado a ela, o casal resolveu satisfatoriamente a convivência.
(...)
Não poucas vezes Dorothy aparecia sempre a elogiar a noite estrelada e os vagalumes... Demonstrava todo o seu encantamento também pelas fogueiras dos que acampavam nas dunas. Anne a ouvia com certa tristeza por saber que aquele tipo também tinha um quê de estrangeiro ali, pois jamais aquela vida seria sua.
A solicitude de Dorothy (com seus conselhos inúteis e favores que ninguém pedia) intrigava e incomodava. Quem queria saber daquele monte de receitas, truques de limpeza ou artigos sobre novos e revolucionários utensílios domésticos?
E o que dizer a respeito de sua contradição? A moça não tinha sequer um cômodo próprio e assinava uma revista de arquitetura especializada nas casas de multimilionários!
Lewis também se incomodava com a intromissão. Certa vez sentenciou que jamais poderia viver com ela...
Em pensamento Anne concordou... E refletiu sobre a própria condição... Era certo que a felicidade que aquele ambiente prometia também não lhe dizia respeito.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 24 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – o casal se entende; enamorado passeio de barco; o casal se desentende mais uma vez

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma_23.html antes de ler esta postagem:

Lewis tomou Anne pelo braço e começou a mostrar-lhe a casa das dunas... Falou sobre onde ficariam as camas e o cômodo destinado a receber os livros.
Ela estava sentindo como se estivessem voltando a se relacionar como dois apaixonados. Quem os visse podia mesmo pensar que se tratasse de casal que toma decisões a respeito do ninho que passarão a dividir.
Voltaram ao jardim e todos os olharam com ares de curiosidade. Virgínia quis saber se “guardaram uma casa de reserva em Chicago”... De fato, eles trataram os dois como se formassem um casal em perfeita sintonia. As respostas de Lewis não contrariavam essa ideia.
E não havia dúvida! Ele estava alegre e demonstrava animação... A atmosfera local despertou em Anne o desejo de também se alegrar... Para sua surpresa, Brogan convidou-a a passear de barco.
(...)
O cenário descrito é dos românticos...
Crepúsculo do dia, vagalumes fazendo festa... Lewis conduziu o barco enquanto Anne permaneceu acomodada a contemplar a represa, as dunas, a vegetação e a movimentação dos remos...
O céu parecia “pintado de vermelho e violeta, um céu sofisticado de cidade grande”... Os altos-fornos instalados na região contribuíam para o espetáculo de cores que se podiam avistar.
Ela comentou que a beleza do lugar era comparável à do Mississipi; ele emendou que em breve teriam lua cheia.
(...)
Anne fez um comentário a respeito de Dorothy e sua simpatia. Lewis concordou e acrescentou que ela trabalhava numa farmácia e tinha de tocar uma vida cheia de dificuldades com os dois filhos para criar. É certo que o ex-marido concedia-lhe pequena pensão, mas ela não possuía sequer uma pequena casa.
A harmonia que se instalou entre os dois fez Anne cogitar se, de fato, estava tudo acabado entre eles... Seria preciso conhecer melhor aquele homem. Não era porque havia se decidido não mais amá-la que a trataria com a aversão destinada aos desafetos.
O passeio havia sido como aqueles que os casais enamorados apreciam. Lewis sugeriu que batizassem o pequeno barco de Anne... Ela se mostrou orgulhosa e pensou mais uma vez na magia proporcionada pelo ambiente. Fizeram bem ao deixarem Chicago, pois as dunas estavam contribuindo para que ele repensasse sua “falsa prudência”... Provavelmente nem estivesse mais querendo expulsá-la do coração.
Retornaram ao gramado... Não demorou e os amigos de foram.
(...)
Lewis e Anne se instalaram no cômodo que se destinava à futura biblioteca, onde havia uma pequena e estreita cama. O aconchego levou-os ao entrelaçamento apaixonado sem trocarem beijos ou palavras.
O ato consumiu-se num breve instante... Lewis virou-se para o lado da parede.
Assustada, Anne desejou-lhe boa-noite e passou a refletir com irritação sobre o que acabara de acontecer. Sentiu-se como se tivesse sido tratada como uma “máquina de prazer”... Ele não tinha esse direito! Um absurdo! Principalmente porque, até então, havia se comportado como se não estivesse à sua presença.
Ela foi para a sala, onde se pôs a chorar descontroladamente... Não entendia o que havia se passado. De fato o que acabara de acontecer não tinha nada a ver com o amor que nutriram um pelo outro.
Sua mente estava muito confusa... Em vão interrogava a si mesma se as experiências vivenciadas na casa de Chicago ou ao navegarem o Mississipi ressuscitariam um dia.
Ao retornar à cama, Lewis perguntou-lhe se seu “programa para o verão” seria “passar dias bons e depois chorar a noite toda”. Ela respondeu que não aceitava sua “postura superior” e que sentia raiva da frieza com que havia sido tratada por ele.
Ele quis deixar claro que não podia se envolver apaixonadamente porque não trazia nenhum sentimento apaixonado em seu interior. Ela protestou ao dizer que, se assim era, ele não devia se deitar com ela.
A justificativa apresentava por Lewis foi irônica... Disse que não pôde evitar porque “viu” que ela estava ardendo de desejo.
Anne esbravejou ao dizer que, então, ele tinha a obrigação de se recusar a enganá-la.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 23 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – uma volta pela cidade; reflexões sobre permanecer e retornar; tudo parece conspirar contra o amor já improvável; dia de viajar para as dunas; conhecendo novas pessoas chegadas a Lewis; novos ares em Parker

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o_22.html antes de ler esta postagem:

Se permanecesse em casa teria ficado aos prantos...
O percurso pelas ruas de Chicago foi marcado pela dúvida... O que podia esperar dos dias vindouros?
Os mesmos locais que a fascinaram na época de seu primeiro encontro com Lewis agora lhe pareciam hostis... E tudo porque se sentia desamparada.
A essa angústia acrescentava-se a ciência de que aquele imenso país (ao qual não pertencia) estava marcado por agressivo poderio atômico e por ameaças de guerra. Não é de se estranhar que se sentisse totalmente desprotegida e visse apenas inimigos ao seu redor.
(...)
Anne dedicou boas horas à sua volta pelos bairros.
Ao fim da tarde se aproximou do luminoso que anunciava “Schiltz”... A única questão que ainda abalava seus pensamentos era sobre o que ainda a motivaria a permanecer... Haveria alternativa além do regresso à França?
Calculou que não seria correto permanecer junto a Lewis porque isso a impediria de acabar de vez com os sentimentos que nutria por ele. Apenas a distância seria capaz de “matar o amor” que persistia em seu íntimo.
No último momento, porém, sentenciou a si mesma que não queria “matar o amor” por Lewis. Isso significaria fazer dele “tão morto como Diego”.
(...)
Na manhã seguinte, enquanto encaixotava algumas latas de conservas, Lewis disse que esperava que ela aprovasse a casa das dunas.
Anne respondeu que certamente gostaria do novo ambiente. Ela esperava mesmo que os ares de Parker a afastassem das reflexões sobre o passado e o sufoco do momento presente que Chicago escancarava aos seus olhos.
Ela fez a mala e colocou o “huipil” no fundo como se quisesse livrar de algum malefício que a veste pudesse carregar... Também com desprezo lidou com as demais peças que havia escolhido com tanto cuidado na esperança de viver momentos de felicidade. Fechou a bagagem e serviu-se de generoso copo de uísque.
Lewis a advertiu sobre a bebida... Ela não se importou e ingeriu nova dose ao mesmo tempo em que engolia mais uma benzedrina.
Na certa esse era o seu modo de se preparar para os dias de convívio com amigos de Lewis... Ela sabia que teria poucas chances de se isolar para chorar.
(...)
Evelyne e Ned apareceram.
Esse casal os levou até Parker de carro. No trajeto, Evelyne dispôs-se a falar com Anne, que se dedicou a responder e a contemplar as paisagens marcadas por imensa planície, áreas residenciais, bosques cultivados de modo simétrico...
Avistaram a casa.
As paredes brancas e o gramado que se estendia desde a sua entrada até a represa davam-lhe um ar gracioso... Era ali onde passariam os próximos dois meses. Lewis quis saber a opinião de Anne e ela respondeu que o lugar era magnífico.
(...)
Ao chegarem foram recepcionados por Dorothy, sua irmã Virgínia e o cunhado Willie. Eles desejaram-lhes as boas-vindas. Churrasco de hambúrgueres acebolados e muita bebida os aguardavam... Anne tratou de esvaziar o uísque do copo que lhe entregaram.
Dorothy teceu considerações elogiosas sobre a casa, as dunas e a represa... Tudo muito bonito... A represa podia ser atravessada em cinco minutos e assim chegava-se à praia!
Sobre essa Dorothy, Anne esclarece que se tratava de um tipo trigueiro, rosto duro e cansado... Tinha a voz exaltada... Certamente amara Lewis e provavelmente ainda o amasse... Seu olhar transmitia sinceridade.
Totalmente integrada ao ambiente, Dorothy disse que o jantar ao ar livre era sempre maravilhoso... No bosque encontravam os galhos secos que precisavam... Dessa maneira convidava Anne a tomar parte das tarefas.
Lewis segurou o braço de Anne e brincou que lhe compraria um machadinho.
Depois seguiu com ela para casa.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 22 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – o dia deu em confuso; dificuldades em “recolher os cacos”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_22.html antes de ler esta postagem:

Ao levantar-se, Lewis topou com Anne na cozinha... Disse-lhe que fizera mal por não ter aproveitado a noite para descansar. Depois passou a manipular utensílios sem se importar quando lhe dava as costas.
Ela quis saber por que ele não fizera objeções à sua vinda... Ele respondeu que tinha vontade de vê-la novamente e que estava contente por estarem juntos. Ela o advertiu ao dizer que não podia se esquecer de que o amava e que, sendo assim, devia considerar a sua condição nada agradável. Em resposta, Lewis argumentou que também ela não o amaria para sempre.
É claro que Anne entendia... Mas deixou claro que não era o que lhe ocorria no momento. Ele ressaltou que o seu bom-senso seria suficiente para colocar um termo à situação. E emendou que ela mesma saberia que não vale a pena insistir numa relação em que se perceberia sozinha... Seria estupidez.
De sua parte, Anne não conseguia detectar se, de fato, Lewis estava em plena consciência... Era muito egoísmo de sua parte! Enquanto isso não se definisse, a única coisa que se podia concluir era que ela não “contava mais” em seu projeto de vida.
(...)
Ela se deitou... Sofria uma terrível dor de cabeça... Ele dedicou-se a encaixotar alguns livros remanescentes.
Anne percebeu-se sobre a colcha mexicana e instalada entre as paredes onde havia a cortina amarela... Sentia-se em casa e tudo lembrava o antigo romance. Todavia sabia que não era mais amada. Não seria difícil aquilo tudo pertencer a outra... Ele tivera muitas outras mulheres em sua vida.
Decidiu perguntar-lhe se havia alguém que estivesse exercendo influência sobre ele... Lewis não só negou como garantiu que nunca mais se apaixonaria.
Anne suspirou... Talvez aliviada por saber que nenhuma outra o teria... Depois argumentou que ele não devia ser tão categórico, pois as coisas mudam...
A resposta surgiu carregada de certa decepção... Disse que talvez não tivesse sido “feito para o amor”. Explicou que nenhuma mulher fora importante até a ter conhecido... Na sequência emendou que quando se conheceram vivia um angustiante “vazio interior”... Passou a crer que ela havia sido “feita para ele”. Por isso mesmo devotou-lhe tanto amor.
Anne não podia acreditar sinceramente em todas aquelas palavras, mas não deixou de considerar sua postura... Ele falava sem agressividade, e parecia desolado também.
(...)
A cabeça de Anne doía muito. Ela estava fisicamente esgotada pela péssima noite que passara e pela bebedeira logo ao amanhecer.
Teve vontade de perguntar sobre o caso de não terem se separado... Ele continuaria a amá-la?
Mas ela sabia que essa questão era totalmente inútil, pois o que interessava era o que de fato ocorrera, ou seja, retornou a Paris e a ruptura deu-se em inevitável.
Lewis decidiu comprar calmantes. Anne tomou dois de uma vez e dormiu pesadamente.
(...)
Despertou um tanto assustada...
Logo retomou a consciência de que tudo estava acabado.
Encostou-se junto à janela... O dia estava ensolarado e na rua crianças brincavam... Lewis embrulhou pratos, depois foi para outro cômodo trocar de roupa.
Dava par ouvir que ele assobiava.
Ela sentiu como se o passado estivesse zombando de sua fortuna.
Decidiu que devia dar uma volta, e foi isso o que anunciou ao anfitrião.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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