Maria Soldado ficou muito animada por ter sido aceita como voluntária na Legião Negra... Dedicava-se com determinação aos treinamentos que se iniciavam bem cedo na Chácara do Carvalho.
O batalhão do qual fazia parte partiria para a fronteira com o estado do Paraná... A expectativa era muito boa, já que as tropas constitucionalistas contariam com o apoio de soldados vindos do Rio Grande do Sul...
Situação insuportável para Maria era não ter acesso ao rádio e o noticiário sobre a revolução... Por incrível que pareça, ela estava “mais por dentro dos assuntos” quando estava “do lado de fora”.
(...)
O trem conduziu o batalhão pela Estrada de Ferro
Sorocabana... Ao lado de Maria instalou-se um jovem que havia frequentado a
Frente Negra e que pretendia se tornar jornalista... O rapaz tinha o hábito de
fazer anotações em um caderno que carregava para todo lugar. De algum modo ele
conseguia informações a respeito dos movimentos dos batalhões e as estratégias
adotadas pelos comandantes. Seus registros tinham a intenção de testemunhar os
episódios revolucionários.
Então foi através desse jovem que Maria obteve notícias sobre as
atividades revolucionárias. Foi ele quem garantiu que estavam rumando para
Itararé, onde construiriam as trincheiras...
Percebe-se que o ânimo do soldado era de plena
confiança... Porém Faustino destaca que o resultado das ações foi dramático,
pois, devido a “grave erro logístico”, os paulistas tiveram de “bater em
retirada” na direção do Rio Paranapanema, e isso possibilitou “150 quilômetros
de caminho livre” para as tropas federais.
Como sabemos, o prometido reforço de tropas sulistas acabou não se
confirmando.
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Foi por intermédio do mesmo animado rapaz que Maria Soldado ficou
sabendo que a principal frente da revolução estava no Vale do Rio Paraíba... O
próprio coronel Palimércio conduzia as ações que visavam conquistar a cidade de
Resende, no estado do Rio de Janeiro. Também ali havia a expectativa do apoio
de tropas que viriam de Minas Gerais.
Como sabemos, as tropas mineiras chegaram à região para atacar os
insurrectos de São Paulo... Na verdade, as forças legalistas tomaram
importantes centros, como Cruzeiro e Lorena... Aos constitucionalistas restou a
alternativa do “recuo tático”...
(...)
Se Maria pudesse ouvir o rádio certamente se emocionaria com a narrativa
sobre o agricultor Paulo Virgílio, da cidade de Cunha, também nas proximidades
fronteiriças com o Rio de Janeiro.
Faustino registra que um
batalhão federal de cerca de 400 homens da Marinha marchou sobre a localidade e
apavorou os habitantes... Famílias inteiras se embrenharam nas matas ou nos
elevados da serra... Virgílio fez o mesmo e, não sem sacrifício, levou a esposa
e os cinco filhos para os “grotões da Serra do Indaiá”.
O pobre Virgílio foi
capturado quando buscava alimentos... Sofreu tortura... Seus algozes queriam
informações sobre o paradeiro das tropas rebeldes... Fizeram ameaças diversas e
exigiram que ele negasse sua naturalidade paulista e se declarasse fluminense
(natural do estado do Rio de Janeiro)... Ele não se curvou ante as pressões e
foi obrigado a cavar a própria cova... Conta-se que enquanto o crivaram de
balas, bradou que São Paulo venceria.
(...)
Através das anotações
do jovem soldado, aspirante a jornalista, Faustino nos apresenta as outras
frentes de batalha...
Havia a Leste Paulista, que levaria as tropas a seguir pelo sul do
estado de Minas Gerais... O texto revela que elas foram barradas na cidade de
Pouso Alegre, e parte de seus soldados acabou massacrada no alto da Serra da
Mantiqueira, na Garganta do Embaú... Também em Passa Quatro os rebeldes sofreram
ataques e, por isso, rumaram para Campinas...
Durante a perseguição, as tropas leais a Vargas ocuparam importantes
centros do estado de São Paulo, como Itapira... Em Atibaia e Bragança Paulista
ocorreram novas batalhas sangrentas.
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A frente Centro Paulista
tinha palco na região da cidade de Botucatu... Ali houve engajamento da Igreja
Católica, que apoiou as ações dos constitucionalistas... Faustino destaca que
dom Carlos Duarte Costa doou “sua cruz peitoral de ouro, cravejada de pedras
preciosas” para contribuir com os esforços revolucionários... Não era por acaso
que as tropas locais ficaram conhecidas como “Batalhão do Bispo”.
Faustino
não entra em detalhes, mas a biografia de dom Carlos Duarte Costa é polêmica...
Ele foi excomungado pelo papa Pio XII depois de ter denunciado que o Vaticano
teria organizado a “Operação Odessa” (que facilitou a fuga de nazista para a
América Latina) e fundou a Igreja Católica Brasileira (também em 1945).
(...)
O estado do Maracaju apoiaria as tropas paulistas... Também isso
constava dos registros do jovem soldado.
Este estado nada mais era do que o atual Mato Grosso
do Sul... Os habitantes locais desejavam a sua emancipação desde os tempos da
Guerra do Paraguai... No dia 10 de julho e 1932, tão logo começou a Revolução
em São Paulo, proclamaram a criação do estado sem o consentimento do governo
federal...
É claro que houve um forte ataque das tropas federais em Coxim e Porto
Murtinho... Depois da perda do controle do porto de Santos para os getulistas,
esse foi outro duro golpe para os batalhões paulistas, que ficaram sem qualquer
possibilidade de abastecimento.
O estado do Maracaju deixou de existir em
outubro do mesmo ano.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto