sexta-feira, 9 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – início do segundo ato – Peste exige apressamento na execução de suas ordens; a cidade ficará ainda mais isolada; prisioneiros cumprem a tarefa de recolher os cadáveres das ruas; a secretária justifica a necessidade de colocar um fim à anarquia que imperava entre os habitantes; todos deveriam possuir um “certificado de existência”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus-fim-do.html antes de ler esta postagem:

O estado de sítio foi instalado.
(...)
Agora o cenário apresenta uma praça.
Há um jardim e em um de seus lados está a porta do cemitério. Também podemos notar o cais e, perto dele, a casa do juiz.
Vemos que os coveiros estão recolhendo cadáveres... Uma carroça se aproxima; o estridente ranger de suas rodas a anuncia. Os coveiros estão usando roupas de presidiários (e é isso mesmo o que eles são). Eles foram colocados à disposição do Regime para recolher à carroça os “mortos do caminho”.
O veículo fúnebre se dirige ao cemitério...
Uma música militar dá o tom solene. O povaréu a tudo acompanha.
Também há um pátio escolar... Há mesas... Numa delas está a secretária envolvida em sua ocupação... O primeiro alcaide está posicionado um pouco mais atrás...
O som militar aumenta e os guardas começam a expulsar as pessoas que se aproximam demais das grades... Na parte que corresponde à portaria da escola, homens e mulheres são devidamente colocados em grupos diferentes.
No palácio, a figura de Peste se destaca... Seus gestos indicam que ele transmite ordens aos subalternos.
(...)
Peste mostrava indignação... Exigia pressa.
Para ele, estava claro que os habitantes da cidade dominada não eram de dedicar afinco ao trabalho... Era certo que não admitiria vacilações e destacou que nas casernas e filas isso seria compreensível... Mas não em sua administração... Tinham muito a fazer!
Ordenou que sua torre fosse finalizada o quanto antes... A vigilância devia ser eficiente... Outra tarefa inconclusa era a de isolar ainda mais a cidade. Comentou que as pessoas comuns tinham o hábito de cultivar sebes floridas, mas a sua Cádiz seria cercada por arbustos que produziriam “rosas de ferro”...
Também os fornos deviam ser acionados... Quanta demora! Aqueles seriam os festivos fornos de seu governo e não podiam tardar a arder.
Os guardas foram chamados à atenção porque se demoravam a colocar as estrelas sobre as casas que deviam ser marcadas... Mesmo a eficiente secretária tinha de se apressar na redação de listas e “certificados de existências”.
(...)
Um pescador (que Camus coloca como corifeu) quis saber por que necessitava de um “certificado de existência”... A secretária se espantou com a pergunta e justificou que ninguém poderia “se arranjar” sem um certificado daqueles. O homem argumentou que até então todos viviam bem sem qualquer certidão.
A secretária explicou que anteriormente ninguém naquela cidade conhecera governo... Argumentou que o princípio da administração de Peste é exatamente o de impor a todos a “necessidade de um certificado”. E concluiu: vive-se sem comer, e até sem a companhia de um cônjuge, mas uma certidão é essencial à existência! Não importa o que o documento certifique!
O pescador redarguiu que há um bom tempo sua família vivia de lançar redes, e que sempre trabalharam honesta e limpamente... Podia mesmo jurar sem a necessidade de nenhum papel escrito.
Um açougueiro comentou que também a sua gente nunca precisou de certificados para “abater carneiros”.
A secretária esbravejou que aqueles tipos simplórios viviam em anarquia... É claro que o governo de Peste nada tinha contra os matadouros... Sua administração estava introduzindo o “aperfeiçoamento da contabilidade”...
E nisto Peste era superior... A habilidade de seu governo em “atirar as redes” era incomparável. Todos poderiam conferir isso em breve.
(...)
Na sequência a secretária solicitou os formulários...
O primeiro alcaide foi rápido e apresentou os papéis no mesmo instante.
A mulher exigiu que os guardas trouxessem o pescador à sua presença.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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