Anne esclarece que antes do grande “Ensaio Geral”, ela e Robert assistiram a um dos ensaios preliminares de Survivants, a peça de Henri...
Sua avaliação é extremamente positiva. E a de Robert também... Já sabemos disso a partir da perspectiva do próprio Henri (em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_31.html)... Dubreuilh exclamou satisfeito que “isso é que é teatro verdadeiro!”
Anne também teve opinião satisfatória a respeito do que viu no “Ensaio Geral”. Destacou que Josette era mesmo bem limitada... Apesar disso, sua atuação também surpreendeu positivamente.
É claro... Nós sabemos que houve rumores ao final do primeiro ato... Anne já esperava comportamentos daquele tipo, e é por isso que ela entendeu tudo como uma “reação normal” da heterogênea plateia...
Ela não esconde sua satisfação ao notar a calorosa saudação ao amigo Henri no final da peça...
(...)
Também a reunião que ocorreu no restaurante após a
encenação é analisada por Anne... Ela prestou atenção nos gestos de Henri e viu
que ele parecia feliz apesar dos abraços e sorrisos falsos à sua volta...
Desagradou-a ouvir a conversa de Lucie Belhomme com Volange... A mãe de
Josette se referia a duas jovens atrizes judias do elenco e, com a maldade que
lhe era peculiar, dizia que “em vez de fornos crematórios, os nazistas possuíam
incubadoras”.
De fato não era nada agradável ouvir aquele tipo... É claro que Henri
não tinha nada a ver com ela... Anne pensou nos dizeres de sua peça, coisas
bonitas “sobre o esquecimento”... Também ele teria esquecido?
Anne lembrou-se de que Vincent andava dizendo que Lulu Belhomme tivera a
cabeça raspada por envolver-se com os nazistas ao tempo da ocupação... E aquele
tipo, Volange, o que fazia ali? Era demais!
Então, de repente, Anne não quis mais se demorar... Nem mesmo quis
saudar Henri pelo sucesso da estreia... Tudo bem, decidiu, ficaria por pouco
tempo por causa de Paule.
(...)
Definitivamente ela
percebeu que não estava ambientada em meio aos que celebravam também a estreia
de Josette...
Anne bebeu além de sua habitual
medida e, impulsionada pelo álcool, pôs-se a pensar... Lembrou-se de Lambert
falando com Nadine... Afinal tinha esse direito? Todos pretendiam o
esquecimento... Esquecer os assassinados... Esquecer os assassinos...
Uma louca vontade de
chorar a dominou, mas ela se conteve... Bem poderia ser tomada pelo desejo de
insultar algum daqueles tipos...
Mas nada demais ocorreu naquela noite... Josette foi incomodada por
Paule, que a manteve “encurralada” por longo tempo... Se quisermos saber dos
detalhes (inclusive sobre a saída de Anne) teremos de acessar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html;
http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_1.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html.
(...)
As semanas seguintes foram
marcadas pelos afazeres cotidianos... Paule não deu notícias porque
naturalmente devia estar atarefada com as coisas que tinha para escrever.
(...)
Na sequência, Anne esclarece sobre como ficou sabendo
do episódio em que Robert e Henri romperam...
Dubreuilh mostrou-se irredutível e exigiu que a esposa evitasse qualquer
tentativa de reatamento... Como não poderia deixar de ser, Anne manifestou
incompreensão deixando claro que estranhava a ruptura de uma amizade que já
durava 15 anos e que, assim sendo, poderiam conversar de modo inteligente para “aparar
as arestas”...
Robert não admitiu nenhuma culpa no episódio... Anne
argumentou com ponderação e falou que L’Espoir era importante para Henri e que
a vinculação ao SRL naturalmente lhe
pesava...
Robert rechaçou os argumentos da esposa e tratou de falar-lhe das acusações
que Henri disparou contra ele (de que possuía filiação junto ao PC)...
Nós sabemos que Henri havia sido induzido por Scriassine àquelas
conclusões (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html;
http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html)... Anne, porém, só
podia imaginar que entre Henri e Robert sempre houvera rancores, mas eles nunca
justificariam o fim da longa amizade...
Dubreuilh insistiu que Henri procurou o rompimento definitivo porque
estava claro que a amizade entre eles já não lhe era conveniente... Disse isso
e pediu para a esposa pensar nas “novas amizades de Henri”.
Anne respondeu que o maior vínculo de Henri era Josette e era certo que
esta não exercia nenhuma influência política ou intelectual sobre ele... Isso à
parte, o próprio Robert já havia mencionado que a montagem de uma peça requer “certos
compromissos”.
Para Robert, a ceia que
reuniu os bajuladores de Henri era apenas o começo do que poderia vir a ser seu
“círculo de agregados”... Então estava claro que Henri Perron preferia estar de
bem com aqueles tipos, e era dessa maneira que ficava de bem consigo mesmo.
Anne queria interceder...
Disse que Robert avaliava mal a Henri, que certamente passava boa parte de seu
tempo fazendo coisas que não o agradavam...
Depois ela indagou se
a existência dos campos (soviéticos de trabalho forçado) não o devia
incomodar... Dubreuilh respondeu que também ele se sentia incomodado, mas
acontecia que Henri havia tomado uma posição anticomunista simplesmente por
querer apresentar-se como intelectual não influenciável... E qual o resultado
disso? A necessidade de se afastar dele!
Robert argumentou que, no fundo, Henri pretendia agradar a si mesmo, e
para atingir essa condição devia agradar a “direita”, que certamente o
aplaudiria.
Anne não concordou com a avaliação de Robert...
A conversa se encerrou depois que ele se dirigiu ao telefone garantindo que
convocaria o comitê para uma reunião emergencial na manhã do dia seguinte.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_25.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto