sábado, 24 de janeiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – considerações e mal estar de Anne na noite da pré-estreia; o rompimento da amizade entre Henri e Dubreuilh; a análise de Anne e os argumentos de Robert

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne.html antes de ler esta postagem:

Anne esclarece que antes do grande “Ensaio Geral”, ela e Robert assistiram a um dos ensaios preliminares de Survivants, a peça de Henri...
Sua avaliação é extremamente positiva. E a de Robert também... Já sabemos disso a partir da perspectiva do próprio Henri (em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_31.html)... Dubreuilh exclamou satisfeito que “isso é que é teatro verdadeiro!”
Anne também teve opinião satisfatória a respeito do que viu no “Ensaio Geral”. Destacou que Josette era mesmo bem limitada... Apesar disso, sua atuação também surpreendeu positivamente.
É claro... Nós sabemos que houve rumores ao final do primeiro ato... Anne já esperava comportamentos daquele tipo, e é por isso que ela entendeu tudo como uma “reação normal” da heterogênea plateia...
Ela não esconde sua satisfação ao notar a calorosa saudação ao amigo Henri no final da peça...
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Também a reunião que ocorreu no restaurante após a encenação é analisada por Anne... Ela prestou atenção nos gestos de Henri e viu que ele parecia feliz apesar dos abraços e sorrisos falsos à sua volta...
Desagradou-a ouvir a conversa de Lucie Belhomme com Volange... A mãe de Josette se referia a duas jovens atrizes judias do elenco e, com a maldade que lhe era peculiar, dizia que “em vez de fornos crematórios, os nazistas possuíam incubadoras”.
De fato não era nada agradável ouvir aquele tipo... É claro que Henri não tinha nada a ver com ela... Anne pensou nos dizeres de sua peça, coisas bonitas “sobre o esquecimento”... Também ele teria esquecido?
Anne lembrou-se de que Vincent andava dizendo que Lulu Belhomme tivera a cabeça raspada por envolver-se com os nazistas ao tempo da ocupação... E aquele tipo, Volange, o que fazia ali? Era demais!
Então, de repente, Anne não quis mais se demorar... Nem mesmo quis saudar Henri pelo sucesso da estreia... Tudo bem, decidiu, ficaria por pouco tempo por causa de Paule.
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Definitivamente ela percebeu que não estava ambientada em meio aos que celebravam também a estreia de Josette...
Anne bebeu além de sua habitual medida e, impulsionada pelo álcool, pôs-se a pensar... Lembrou-se de Lambert falando com Nadine... Afinal tinha esse direito? Todos pretendiam o esquecimento... Esquecer os assassinados... Esquecer os assassinos...
Uma louca vontade de chorar a dominou, mas ela se conteve... Bem poderia ser tomada pelo desejo de insultar algum daqueles tipos...
Mas nada demais ocorreu naquela noite... Josette foi incomodada por Paule, que a manteve “encurralada” por longo tempo... Se quisermos saber dos detalhes (inclusive sobre a saída de Anne) teremos de acessar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html; http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_1.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html.
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As semanas seguintes foram marcadas pelos afazeres cotidianos... Paule não deu notícias porque naturalmente devia estar atarefada com as coisas que tinha para escrever.
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Na sequência, Anne esclarece sobre como ficou sabendo do episódio em que Robert e Henri romperam...
Dubreuilh mostrou-se irredutível e exigiu que a esposa evitasse qualquer tentativa de reatamento... Como não poderia deixar de ser, Anne manifestou incompreensão deixando claro que estranhava a ruptura de uma amizade que já durava 15 anos e que, assim sendo, poderiam conversar de modo inteligente para “aparar as arestas”...
Robert não admitiu nenhuma culpa no episódio... Anne argumentou com ponderação e falou que L’Espoir era importante para Henri e que a vinculação ao SRL naturalmente lhe pesava...
Robert rechaçou os argumentos da esposa e tratou de falar-lhe das acusações que Henri disparou contra ele (de que possuía filiação junto ao PC)...
Nós sabemos que Henri havia sido induzido por Scriassine àquelas conclusões (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html; http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html)... Anne, porém, só podia imaginar que entre Henri e Robert sempre houvera rancores, mas eles nunca justificariam o fim da longa amizade...
Dubreuilh insistiu que Henri procurou o rompimento definitivo porque estava claro que a amizade entre eles já não lhe era conveniente... Disse isso e pediu para a esposa pensar nas “novas amizades de Henri”.
Anne respondeu que o maior vínculo de Henri era Josette e era certo que esta não exercia nenhuma influência política ou intelectual sobre ele... Isso à parte, o próprio Robert já havia mencionado que a montagem de uma peça requer “certos compromissos”.
Para Robert, a ceia que reuniu os bajuladores de Henri era apenas o começo do que poderia vir a ser seu “círculo de agregados”... Então estava claro que Henri Perron preferia estar de bem com aqueles tipos, e era dessa maneira que ficava de bem consigo mesmo.
Anne queria interceder... Disse que Robert avaliava mal a Henri, que certamente passava boa parte de seu tempo fazendo coisas que não o agradavam...
Depois ela indagou se a existência dos campos (soviéticos de trabalho forçado) não o devia incomodar... Dubreuilh respondeu que também ele se sentia incomodado, mas acontecia que Henri havia tomado uma posição anticomunista simplesmente por querer apresentar-se como intelectual não influenciável... E qual o resultado disso? A necessidade de se afastar dele!
Robert argumentou que, no fundo, Henri pretendia agradar a si mesmo, e para atingir essa condição devia agradar a “direita”, que certamente o aplaudiria.
Anne não concordou com a avaliação de Robert... A conversa se encerrou depois que ele se dirigiu ao telefone garantindo que convocaria o comitê para uma reunião emergencial na manhã do dia seguinte.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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