Isidore não admitiu que o mercerismo fosse uma farsa... Para ele nada havia acabado...
É certo que não estava se sentindo bem. Ainda poderia recorrer à caixa de empatia...
Mercer estava morto? A aranha, talvez a última do planeta, estava morta?
(...)
Aos poucos tudo começou a se diluir e fragmentar à sua
volta... Paredes, armários e cadeiras, tudo se desfazia... As coisas que tocava
se desmanchavam.
Não adiantava chamarem-lhe a atenção... Irmgard viu que ele estava totalmente
transtornado e pediu que parasse, pois estava quebrando as coisas ao seu redor.
De repente ele respondeu que não era o responsável
pelo tumulto... A impressão que se tinha era a de que o apartamento, de
repente, atingia o seu estado máximo de “bagulhificação”... Tudo ruiria.
Ele se encaminhou para a sala e notou as paredes onde, no passado,
insetos rastejaram... Lembrou-se da aranha supliciada por Pris e seus amigos
andys.
(...)
O assoalho da sala começou a afundar...
Isidore entendeu que estava passando pelo processo de fusão com
Mercer...
Estava na fase em que deveria emergir do submundo com todos aqueles
cadáveres de animais pelos quais os humanos deveriam devotar afeto...
(...)
Pedaços de animais surgiam [“cabeça
de um corvo, mãos mumificadas que podiam pertencer a macacos (...), um asno
ainda aparentemente vivo”]...
Quis chegar junto ao asno,
que era a criatura pela qual nutria muito amor, mas um corvo azul pousou no
focinho do bicho... Isidore protestou, porém a ave bicou os olhos do pobre asno.
Era sempre assim... J.R.
sabia onde estava... Sabia que sua saída não dependia exclusivamente dele...
Ele tinha de passar por aquele sofrimento... Não havia ao que se agarrar para guindar
o próprio corpo para fora.
Gritou por Mercer... Reclamou que estava no “mundo tumular” sem saber
como sair dele... Considerou que nem mesmo o velho Wilbur Mercer deveria
ouvi-lo mais.
Mas aconteceu que a aranha
arrastou-se aos seus pés... O seu ressurgimento só podia significar que o líder
espiritual estava por ali...
Isidore sentiu a rajada de vento e ouviu ossos
lascando... A aranha poderia rastejar sobre o seu pé galgar nova existência.
Sim, Mercer estava por perto. Isidore chamou-o pelo nome... À sua volta
não via as paredes de concreto que conhecia, mas as ervas que constituíam a
paisagem da colina... Mercer surgiu à sua frente.
Isidore quis logo saber se havia um painel cheio de
pinceladas que definiam o céu daquele lugar. O velho respondeu afirmativamente.
E também disse que o devoto só não conseguia enxergá-las porque estava muito
próximo... O ideal seria chegar onde estavam os androides.
Isidore quis saber se ele era uma fraude... Mercer respondeu que tudo o
que haviam apresentado na televisão estava correto... Disseram que ele era o
resultado da performance do velho Al Jarry... Estava correto, do ponto de vista
deles.
Estiveram na casa e ele dissera o que esperavam saber... Então Isidore perguntou
se a parte do uísque era verdadeira... Mercer sorriu e respondeu que sim... O
apresentador Gente Fina havia sido convincente, mas teriam problemas porque ele
continuaria a ser seguido (como estava ocorrendo naquele instante)... E os que
o procurassem o encontrariam.
Mercer disse que estava resgatando Isidore do “mundo tumular”, mas ele
teria de deixar de procurá-lo... Garantiu que “estaria de olho” em seus passos,
e isso significava que o mestre não deixaria de procurar o mercerista...
Isidore voltou a dizer que
não aprovava o consumo do uísque... Mercer respondeu que não era uma pessoa ”altamente
moral” como ele. Depois abriu a mão e apresentou-lhe a aranha viva com as
perninhas totalmente restauradas.
J.R. agradeceu e apanhou o
inseto.
(...)
Quando Isidore
começava a falar novamente, o alarme soou.
Roy Baty gritou que as luzes deviam ser apagadas e que o cabeça de
galinha devia ser retirado da caixa de empatia...
O androide alertou que um caçador de androide já
estava no prédio... Deviam conduzir J.R. até a porta imediatamente.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/12/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_14.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto