Henri e Josette passeavam por Paris depois da primeira noite juntos... Ele estava encantado com a beleza, ingenuidade e fragilidade da pequena... Ela estava mesmo bem atrapalhada com o inusitado da hora e do programa... Mas Perron parecia querer celebrar sua felicidade.
(...)
Chegaram a uma “feira de diversões” no bulevar de Clichy... Um pequeno
carrossel já estava funcionando, mas a maioria das barracas permanecia
fechada... Josette nunca estivera num parque de diversões... Revelou que teve
uma infância pobre e que a mãe a internou até os dezesseis anos... Começaram a
jogar bilhar japonês... Henri não conseguia esconder o seu encantamento em
relação ao modo desajeitado de Josette, para quem tudo ali era estranho...
Prosseguiram sempre abraçados até entrarem num pequeno café.
Josette explicou que sempre
tomava Vichy por causa de seu delicado fígado... Henri pediu vinho tinto e ela
achou graça de um letreiro que dizia “combata o alcoolismo bebendo vinho”...
Perron explicou que aquele parque era uma novidade
também para ele e que essas coisas acontecem quando “saímos por aí”...
Perguntou o que ela fazia normalmente, já que não tinha hábito de sair a
passeio... Josette respondeu que fazia um curso de dicção, ia às compras e ao
cabeleireiro, o que demandava muito tempo... Disse que ainda participava de
chás e coquetéis.
A curiosidade de Henri era saber se aquilo a divertia... A esse respeito
ela devolveu-lhe a pergunta se ele conhecia alguém que se diverte... Henri
respondeu que “conhecia pessoas contentes com a própria vida”. E esse era o
caso dele também.
Ele quis saber o que a deixaria contente. Josette
respondeu que gostaria de não mais precisar da mãe e também de ter a segurança
de jamais voltar à condição de pobreza... Henri disse que aquilo se tornaria
realidade para ela, então perguntou o que faria depois... Viajaria? A moça não
sabia o que responder, pois não pensava naquelas possibilidades.
Corrigiu a sua maquiagem enquanto sentenciava que precisava ir, pois
tinha de experimentar um vestido no ateliê da mãe... De repente a conversa
sobre a cartomante veio-lhe à mente e perguntou se seria possível que seu
vestido não ficasse pronto... Henri respondeu que as pessoas que leem a sorte
também se enganam. Ele quis saber se o vestido era bonito, e Josette respondeu
que ele saberia na segunda-feira... Experimentar vestidos era algo que a
cansava muito, mas era necessário. Ainda mais porque tinha de se exibir para
garantir sua publicidade.
Tomaram um taxi, e Josette acomodou sua cabeça no ombro de Henri. Este
pensava em quê poderia ajudá-la... Poderia ajudar a tornar-se uma atriz, mas
ela nem gostava de teatro... Como auxiliar aquela frágil criatura? Entendia que
precisava amá-la com exclusividade... Pensou que restavam bem poucas
alternativas quando o assunto era socorrer as mulheres.
(...)
Despediram-se na entrada do prédio com o compromisso de novo encontro à
noite no bar... Henri seguiu em direção à casa de Paule. Notou que chegaria
cedo... Eram apenas 11 horas da manhã. Acreditou que isso a deixaria satisfeita...
Tinha a convicção de que ela sabia que ele não a queria mais...
É certo que Paule não provocava mais discussões ou tumultos apesar de
notar que a mudança do amado para o hotel estava, aos poucos, se tornando uma
realidade... Ele já não passava muitas noites no estúdio... Então Henri
imaginava que Paule pudesse aceitar uma convivência pacífica, de “bons amigos”.
Pensou que poderia levar flores para Paule...
Mas concluiu que uma garrafa de Bordeaux seria menos comprometedora.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto