sábado, 30 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – passeio pelo bulevar de Clichy; um pouco de diversão descompromissada; Josette e seu cotidiano completamente estranho para Henri; ele chegaria mais cedo à casa de Paule; um Bordeaux

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Henri e Josette passeavam por Paris depois da primeira noite juntos... Ele estava encantado com a beleza, ingenuidade e fragilidade da pequena... Ela estava mesmo bem atrapalhada com o inusitado da hora e do programa... Mas Perron parecia querer celebrar sua felicidade.
(...)
Chegaram a uma “feira de diversões” no bulevar de Clichy... Um pequeno carrossel já estava funcionando, mas a maioria das barracas permanecia fechada... Josette nunca estivera num parque de diversões... Revelou que teve uma infância pobre e que a mãe a internou até os dezesseis anos... Começaram a jogar bilhar japonês... Henri não conseguia esconder o seu encantamento em relação ao modo desajeitado de Josette, para quem tudo ali era estranho... Prosseguiram sempre abraçados até entrarem num pequeno café.
Josette explicou que sempre tomava Vichy por causa de seu delicado fígado... Henri pediu vinho tinto e ela achou graça de um letreiro que dizia “combata o alcoolismo bebendo vinho”...
Perron explicou que aquele parque era uma novidade também para ele e que essas coisas acontecem quando “saímos por aí”... Perguntou o que ela fazia normalmente, já que não tinha hábito de sair a passeio... Josette respondeu que fazia um curso de dicção, ia às compras e ao cabeleireiro, o que demandava muito tempo... Disse que ainda participava de chás e coquetéis.
A curiosidade de Henri era saber se aquilo a divertia... A esse respeito ela devolveu-lhe a pergunta se ele conhecia alguém que se diverte... Henri respondeu que “conhecia pessoas contentes com a própria vida”. E esse era o caso dele também.
Ele quis saber o que a deixaria contente. Josette respondeu que gostaria de não mais precisar da mãe e também de ter a segurança de jamais voltar à condição de pobreza... Henri disse que aquilo se tornaria realidade para ela, então perguntou o que faria depois... Viajaria? A moça não sabia o que responder, pois não pensava naquelas possibilidades.
Corrigiu a sua maquiagem enquanto sentenciava que precisava ir, pois tinha de experimentar um vestido no ateliê da mãe... De repente a conversa sobre a cartomante veio-lhe à mente e perguntou se seria possível que seu vestido não ficasse pronto... Henri respondeu que as pessoas que leem a sorte também se enganam. Ele quis saber se o vestido era bonito, e Josette respondeu que ele saberia na segunda-feira... Experimentar vestidos era algo que a cansava muito, mas era necessário. Ainda mais porque tinha de se exibir para garantir sua publicidade.
Tomaram um taxi, e Josette acomodou sua cabeça no ombro de Henri. Este pensava em quê poderia ajudá-la... Poderia ajudar a tornar-se uma atriz, mas ela nem gostava de teatro... Como auxiliar aquela frágil criatura? Entendia que precisava amá-la com exclusividade... Pensou que restavam bem poucas alternativas quando o assunto era socorrer as mulheres.
(...)
Despediram-se na entrada do prédio com o compromisso de novo encontro à noite no bar... Henri seguiu em direção à casa de Paule. Notou que chegaria cedo... Eram apenas 11 horas da manhã. Acreditou que isso a deixaria satisfeita... Tinha a convicção de que ela sabia que ele não a queria mais...
É certo que Paule não provocava mais discussões ou tumultos apesar de notar que a mudança do amado para o hotel estava, aos poucos, se tornando uma realidade... Ele já não passava muitas noites no estúdio... Então Henri imaginava que Paule pudesse aceitar uma convivência pacífica, de “bons amigos”.
Pensou que poderia levar flores para Paule... Mas concluiu que uma garrafa de Bordeaux seria menos comprometedora.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – as gentilezas de Henri proporcionaram-lhe uma noite com Josette; troca de frases descompromissadas pela manhã; um passeio a pé pela cidade; as pequenas preocupações de Josette; as expectativas de Henri em relação ao que ela pensava a seu respeito; a verdadeira idade; conclusões sobre mãe e filha

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Mesmo a ideia de Henri sobre a “decepção” anunciada pela cartomante (de que se algo de errado ocorresse poderia ser com o vestido encomendado por ela) a entristecia... O que vestiria para o jantar? Henri achava graça daquela frustração burguesa por algo tão pequeno...
Josette se mostrou encantada com o “modo gentil de arranjar as coisas” de Henri... Para ela, era uma pena que Deus não lhe cedesse o dom de “determinar as coisas”. Ficaram bem próximos um do outro e Henri tomou-a nos braços.
(...)
No parágrafo seguinte vemos Perron despertando ao lado de sua pequena Josette... Estava feliz... Não queria interromper o sono dela, mas logo ela também despertou e o impediu de seguir para o bar, onde esperava tomar café.
Josette fez questão de fazer-lhe um chá... Abraçaram-se e trocaram palavras descompromissadas... Ela a chamava de “meu pequeno fauno” e ela protestava dizendo que, então, era uma “fauna”. O estado de graça era tal que Henri poderia chamar à sua parceira de “princesa persa, pequena índia, raposa, trepadeira”...
Enquanto tomavam chá, ele se perguntava como é que a moça que se vestia tão bem poderia viver num ambiente de decoração tão sem harmonia... Ficou sabendo que Lulu “havia ajudado na instalação". Gostaria de fazer-lhe perguntas sobre o seu modo de vida, mas disse apenas que tudo era bem bonito ali...
Depois Perron sugeriu que passeassem a pé pelas ruas... Por algum tempo Josette se dedicou a abrir gavetas e a remexer em roupas para definir o que vestiria... Caminhar pelas ruas a passeio (às nove da manhã) não era programa habitual para ela.
A moça se vestia e se exibia para Henri com ares de preocupada, sem saber se estava agradando ou não. De sua parte, Henri pensava apenas em como ela se sentia internamente e se a noite havia sido satisfatória para ela... Ele significava algo para ela?
(...)
Henri apontou para o seu romance que estava a um canto e perguntou-lhe se havia lido. Ela respondeu que não, pois tinha dificuldades para ler e logo a sua mente a conduzia a devaneios, perdendo completamente o sentido da leitura...
Ele quis detalhes a esse respeito, mas ela mesma não sabia definir o que ocorria... Então a pergunta seguinte foi sobre se ela já havia se apaixonado muitas vezes... Josette deu de ombros, enquanto ele insistia que muitos deveriam ter se apaixonado por ela, que era tão linda.
Josette inspirava compaixão em Henri... Uma moça delicada, que não trabalhava e “tinha mãos de senhorita”... Tão vulnerável... Ela estranhando andar pelas ruas àquela hora do dia; ele estranhando tê-la como companhia... A moça tinha certa dificuldade de caminhar com sapatos altos e tropeçava várias vezes... Henri quis saber a sua idade e ela disse que tinha 21... Ele insistiu para que dissesse a idade verdadeira. Então Josette confessou que contava 26 anos, mas pediu que não falasse nada a respeito daquela revelação à sua mãe.
Henri deixou-a tranquila, disse que já havia esquecido aquela conversa. Emendou que a aparência dela era de muito jovem... Josette esclareceu que se cuidava muito, porém isso a fatigava...
Os dois caminhavam de braços dela e ela apertava.
(...)
Henri se sentia muito bem em poder caminhar com a bela Josette... Pediu a ela que não se fatigasse, e perguntou se o seu desejo de representar era antigo... A moça respondeu que nunca quis ser manequim e que não gostava de homens mais velhos.
Então concluía que Lulu devia escolher os amantes da filha... Podia ser mesmo que nunca tivesse se apaixonado... Pensava nessas coisas e também no significado que ele poderia ter para ela... A noite havia sido bem significativa, então esses escrúpulos o acompanhavam.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Josette encena para Henri; faltava talento à moça, que reconhecia as próprias dificuldades; os dois começaram a se aproximar muito e o ensaio seguinte foi na casa de Josette; Henri vislumbrava noites mais íntimas e saíram para dançar e se divertir; Lucie Belhomme conseguiu um contrato para a encenação da peça de Henri; comemoração

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Josette garantiu que sabia o texto de cor... Era um monólogo e Henri viu que a garota sem talento se esforçava para tentar agradá-lo... Ele se sentia “um maníaco rico, que assistia a uma exibição especial num bordel de alto gabarito”... Depois ele pediu que apresentasse a “terceira cena do segundo ato”... O ensaio da cena de amor foi sofrível... A fisionomia e voz de Josette comoviam, mas era só isso. Henri sentenciou-lhe que havia esperança, e pôs-se a explicar-lhe a personagem.
Os dois ficaram bem próximos, e enquanto ele falava notava a beleza de Josette, sentia o seu perfume e imaginava o que ela poderia proporcionar-lhe na intimidade... Perguntou se havia compreendido e pediu para ela voltar a encenar... Cada vez que repetia a encenação ela se saia bem pior do que da primeira vez. É por isso que ele pedia também para ela ser mais simples.
Josette entregava os pontos e dizia que jamais conseguiria... Henri respondia que se ela treinasse poderia lograr êxito. É claro que Josette se preocupava com a repreensão que sofreria da mãe; de sua parte, Henri calculava o quanto seria bom passar uma noite com aquela “mulher verdadeiramente desejável”.
Henri sugeriu que poderiam marcar um encontro para novos ensaios... E até poderiam sair juntos logo após... Poderiam dançar, já que isso era algo que Josette apreciava.
(...)
No sábado seguinte lá estava Henri à Rua Gabrielle, onde se situava a casa de Josette. No salão de “móveis rosados e brancos”, ele assistiu às apresentações da moça... Sinceramente via potencial artístico na moça, que precisava “trabalhar com afinco”... Disse a ela que tudo daria certo e que, naquele momento, importava saírem para dançar.
Seguiram para o Saint-Germain-des-Prés (tradicional bairro que reunia intelectuais como Sartre e Beauvoir no pós-guerra) e entraram numa adega da Rua Saint-Benoit. A moça estava deslumbrante em seu “vestido surpreendente”... Henri a via como “uma bonita prostituta” com a qual poderia se divertir. Faltava, porém, saber se a moça sentia alguma afinidade por ele... Perguntou-lhe se gostava do lugar onde estavam e se preferia algum em especial... Josette respondeu que ali estava muito bom.
Ficaram até às duas da manhã, dançaram e tomaram champanha. Mas o silêncio foi a tônica. Perron pensou que Lulu a teria ensinado a proceder daquela forma em ocasiões de assédio.
Ele levou-a até a casa... Ela revelou-lhe que gostaria de ler algum de seus livros, embora lamentasse a falta de tempo para os livros...
(...)
Lucie Belhomme conseguiu o contrato. E ele seria assinado em sua casa. Henri telefonou para Josette e combinaram um encontro para comemorar a conquista.A moça havia recebido um livro de Henri com dedicatória e autógrafo... Estava feliz também por isso. Então se encontraram num bar de Montmartre... Ele pegou-lhe as mãos e perguntou se estava contente. Ela se revelou assustada com a tarefa que teria de dar conta após a assinatura do contrato... Henri a tranquilizou afirmando que não poderia pensar sua personagem Jeanne de outra forma que não a encenada por ela...
Josette agradeceu-lhe a gentileza. Por um tempo falaram de diretores de teatro, cenários e coisas afins... Mais uma vez ele a acompanhou até a porta de casa. Ela se despediu anunciando novo encontro na segunda-feira... Henri perguntou se não teria direito a um último uísque. A expressão dela se fez feliz enquanto dizia que não ousava oferecê-lo.
Subiram rapidamente a escada e logo Josette entregou-lhe um grande copo com gelo. Henri brindou ao seu sucesso, enquanto ela lamentava as suas constantes falhas. Disse que havia consultado uma cartomante que revelou-lhe que estava indo de encontro a uma “grave decepção”... Ele procurou animá-la, disse que as cartomantes exageram e que provavelmente a “decepção” podia se referir, se é que alguma coisa viesse a ocorrer, ao vestido que ela havia encomendado e não ficaria pronto para a ocasião da assinatura do contrato.
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Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 26 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Lambert desabafa a respeito do embriagado Vincent, que Nadine chamava de “arcanjo”; Henri quer saber o que Paule queria tratar com ele no dia anterior; nada de mais; no retorno ao apartamento a incerteza tomou a consciência de Henri; Paule adorou a leitura dos manuscritos; Henri comparece à casa de Lucie Belhomme para avaliar a apresentação de Josette

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Henri e Lambert retornavam da mansão de Claudie... Pararam no café-charutaria para conversar um pouco. Falavam sobre o episódio com Vincent...
Lambert se mostrava inconformado, e até citou Nadine, que se referia ao alcoólatra como “arcanjo” por se tratar de um tipo “meio impotente”. Para Lambert, Vincent merecia “uns bons eletrochoques”... Henri defendeu o rapaz dizendo que gostava muito dele. Depois esclareceu que não era sobre Vincent que queria conversar, mas sobre o que ele teria tratado com Paule no dia anterior. Então Henri perguntou se não seria algo a respeito de Dubreuilh.
Lambert confirmou que fora chamado por Paule. Disse que não ficou embaraçado (esse era um dos temores de Henri), embora não entendesse bem o que ela queria tratar... Perron imaginou que, talvez, diante de Lambert, Paule tivesse mesmo se comportado. Lambert confirmou que ela não gostava de Dubreuilh, mas isso não o deixou constrangido porque ele também não tinha Robert em boa consideração...
(...)
Depois de se despedir de Lambert, Henri seguiu para o estúdio. Logo encontraria Paule... Pensava no que diria a ela, pois tinha certeza de que a encontraria completamente frustrada por ter se reconhecido na personagem “Yvette” dos manuscritos... Palavras e gestos de Yvette eram inegavelmente retirados de Paule... Ao subir a escada, ele temia pelo pior.
Notou que tudo era silencio no prédio... Henri imaginou inclusive que ela fosse capaz de cometer suicídio... Parou em frente à porta... Mas não demorou e ela convidou-o a entrar. Não estava sozinha... À beira do divã encontrava-se a zeladora do prédio, que lhe contava histórias. Já de saída, a senhora explicou que no dia seguinte “falaria com o proprietário”...
Paule recebeu Henri com alegria, foi explicando que o teto estava “desabando” e que a zeladora era uma simpática conhecedora de histórias incríveis sobre os marginais do quarteirão (elas “dariam um livro”)...
Henri logo imaginou que, se ela passou a tarde a conversar com a mulher, dificilmente teria tido tempo de ler o seu texto. Chegou mesmo a perguntar sobre isso e emendou sua conclusão, arrematando-a com um “foi pena!”. Para a sua surpresa, Paule respondeu que havia lido e considerado o material “magistral”...
Henri começou a sondar perguntando sobre certo Charval, personagem de sua história... Paule respondeu que ele possuía “uma grandeza autêntica”... Depois, sobre a “cena do 14 de julho”, ela explicou que não era das que preferia. Então Henri abriu na página do “rompimento com Yvette” e perguntou o que ela pensou.
Paule surpreendeu novamente e respondeu que considerou “emocionante”... Ela perguntou o motivo de sua admiração e também se era em ambos que pensava quando escreveu o episódio... Tudo o que Henri conseguiu responder foi um “você é tola”. A moça sentenciou que aquele seria o seu melhor livro, e não podia entender por que ele escondia os originais... Henri disse que nem ele mesmo sabia mais os motivos.
(...)
Na sequência vemos Henri numa rica sala da casa de Lucie Belhomme enquanto aguardava a pequena Josette.
Como sabemos, a moça se apresentaria para ele no papel da “Jeanne” de sua peça. Henri a avaliaria...
Ele notou que tudo era muito fino por ali (tapeçaria, cortinas, peles sobre os divãs...) e silencioso também. De repente a moça apareceu com “um vestido cor de âmbar, frágil e muito indiscreto”... Tudo o que veio à mente de Henri foi a frase de Claudie que sentenciava que a moça “não se economiza muito”.
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Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Lucie Belhomme coloca a filha em situação constrangedora; acertam uma apresentação de Josette para Henri; Claudie segreda a Henri que a jovem “não se economiza muito”; Vincent está bêbado e discute com Volange e Lambert; os dois moços quase chegaram às vias de fato; de carona, Henri pensa sobre como encontraria Paule depois da leitura de seus manuscritos; Lambert desabafa a respeito de Vincent

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Lucie Belhomme respondeu aos elogios de Perron à filha Josette e disse que “uma atriz nunca é bonita demais”... Então levantou a saia da moça revelando suas coxas, enquanto dizia que era aquilo que o público queria ver quando a personagem retornasse ao palco... Josette chamou a atenção da mãe, que a colocava em situação constrangedora... Enquanto isso, Henri ficava imaginando se ela não era apenas uma “boneca de luxo”... Não, ela não era inteligente, isso já havia notado.
A mãe chamava a atenção da moça exigindo que não bancasse a ingênua, e que tomasse nota do dia de sua apresentação para o autor da peça... Despediram-se com um “até terça-feira”.
(...)
Na sequência, Claudie perguntou a Henri se a moça o agradara. E explicou que se a desejasse não haveria motivos para vacilações, pois a rapariga “não se economizava muito”... Claudie começou uma fofoca sobre Lucie, mas Henri não estava disposto a mais uma sessão de frivolidades, além disso, notou que Lambert falava animadamente com Volange... Pensou em se intrometer, mas viu que Vincent chegava próximo de Louis, a quem perguntou o que um tipo como ele fazia por ali... Volange respondeu que conversava com Lambert, e isso era tão evidente quanto Vincent se embriagava. Vincent foi grosso ao dizer que o lugar de Volange não era ali, pois o evento tratava-se “de uma reunião em beneficio dos filhos de deportados”.
Ao mesmo tempo em que quis aparentar educação, o outro resolveu dar uma resposta à altura da agressividade de Vincent, e disse que se era daquela forma, pode ser que exista uma “graça especial para os bêbados”. Lambert não se apartou da conversa e disparou que Vincent era tipo “que sabia tudo e julgava a todos” e que, como nunca se enganava, não seria preciso pedir-lhe para que falasse a respeito de suas convicções porque ele fazia isso “gratuitamente”.
Vincent empalideceu e disse que sabia reconhecer um patife... Louis manifestou que a condição do rapaz era deprimente e precisava de cuidados médicos. Henri interveio... Disse que Louis se apresentava como um puritano, e que não havia mal nenhum na bebedeira de Vincent, que, daquela forma, fazia “a parte do diabo”...
O embriagado disse que aqueles dois (patife e filho de patife) deviam se entender muito bem... Lambert quis enfrentá-lo e pediu que repetisse as ofensas. Então Vincent respondeu que ele era um “belo patife” por ter se reconciliado com aquele que havia entregado Rosa aos nazistas (é claro que estava se referindo ao pai de Lambert).
Henri de um lado e Louis de outro contiveram os jovens que pretendiam se atracar no pátio... Lambert resmungava ofensas e o desejo de quebrar a cara de Vincent. Henri o demovia dizendo que ele poderia fazer isso outro dia, já que haviam combinado seguir de motocicleta para casa e estava com pressa.
Enquanto saíam, Lambert reclamou que Henri não devia impedi-lo de dar uma “boa lição” em Vincent... Henri respondeu que “dar socos é vulgar”.
(...)
Henri pensou no quadro que o aguardava... Imaginou Paule no meio do estúdio completamente paralisada depois de ler os manuscritos... Atônita por ter descoberto tudo o que ele pensava a seu respeito. Isso o deixou desanimado. Sugeriu a Lambert beberem algo nas proximidades do cais. É claro que precisava ver Paule o quanto antes, mas alguns minutos a mais com Lambert lhe faria bem... Entraram no café-charutaria... Conversaram um pouco sobre o entrevero com Vincent. E Lambert não podia entender como é que Henri podia suportar o outro, “suas bebedeiras, camisas imundas, histórias de bordel e ares de mandão”... É claro, continuou Lambert, Vincent fez parte da Resistência no maqui e matou inimigos, mas aquilo não era motivo para que se exibisse “com a alma a tiracolo”.
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Prof.Gilberto

domingo, 24 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Scriassine aparece para cumprimentar Henri; com Volange, trata a respeito do luxo e dos hábitos dos ricos; enquanto Victor justifica sua posição falando da precariedade que vivenciou no passado, Louis diz que o “mundo ideal dos esquerdistas” seria muito sem graça; Lucie Belhomme surge com sua filha Josette, candidata a encenar a peça de Henri; Perron e suas apreciações a respeito das duas

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Scriassine apareceu no coquetel servido após a conferência na mansão de Claudie... Ele chegou até Henri dizendo que esperava que não estivesse zangado com ele... Perron esclareceu que a circunstância anterior havia sido “etílica” para o outro e, sendo assim, relevava... Aproveitou para perguntar se ele “se aninhava sempre” naquela mansão... Scriassine explicou que sim, e que só havia descido para cumprimentá-lo na esperança de não mais topar com os tipos endinheirados... Lamentou, finalmente, o fato de Claudie solicitar-lhe uma palestra àquela gente.
Louis Volange se aproximou e já foi se intrometendo na conversa. Disse que não se tratava de um mau público... Defendeu os milionários, que (normalmente) evidenciavam “valores autênticos”. A própria Claudie possuía “luxo inteligente”... Scriassine não suportou e disparou que “o luxo enchia-lhe o saco”... Huguette quis corrigi-lo, dizendo que ele devia estar se referindo ao “falso luxo”...
Scriassine respondeu que não gostava dos que gostam de luxo, e exemplificou citando o seu passado repleto de dificuldades (inclusive com alimentação) e que, no entanto, havia sido o melhor tempo de sua vida. Volange replicou, garantindo que as palavras do outro revelavam um “curioso complexo de culpa”. Scriassine quis dizer que seus complexos nada tinham a ver com as reuniões da mansão... Para Volange, tanto Scriassine quanto Henri e “toda esquerda desprezavam o luxo” porque não suportavam a “consciência suja” e, com isso, recusavam a poesia e a arte.
Enquanto Henri notava que Louis havia resgatado toda a sua arrogância, Lambert quis participar da discussão dizendo que “luxo e arte não são a mesma coisa”... Volange explicou qualquer coisa relacionada ao modo como os esquerdistas condenam a arte à morte... Garantiu que se a “consciência suja” fosse varrida da realidade, bem como o mal, a arte desapareceria... O advento do “mundo ideal dos esquerdistas” se revelaria muito sem graça. E sintetizou ao final que a “Arte é uma tentativa para (sic) integrar o mal”.
Enquanto Henri desprezava as explicações contraditórias de Louis (de que a vida se tornaria monótona), Lambert achava interessante a ideia do mal ser necessário às manifestações da arte.
(...)
A conversa só não prosseguiu porque Claudie chegou para apresentar Lucie Belhomme a Henri... Sua primeira impressão foi a de que aquela “mulher esguia e seca” não poderia ser um tipo desejável. Com Lulu estava a sua bonita filha Josette... A esta, Henri classificou como uma “boneca de luxo” na qual se destacam as peles, o perfume, unhas vermelhas e o salto alto... Não conseguia vê-la interpretando a Jeanne de sua peça.
Lucie Belhomme foi dizendo que havia lido a peça de Henri, e tinha certeza de que ela renderia muito dinheiro. Emendou que havia falado com Vernon, e que ele se mostrou muito interessado... Perron quis saber se ele não havia achado a peça escandalosa. Ela respondeu que poderia convencer Vernon a investir na montagem do texto para dar uma chance a Josette... Depois esclareceu que a filha tinha 21 anos e que representara pequenos papéis até então. Sugeriu que Henri ouvisse uma interpretação da moça para avaliá-la.
Lulu perguntou a Claudie se não havia algum canto na casa onde Josette pudesse se exibir naquele mesmo momento... A moça, um tanto intimidada, disse que não era ocasião apropriada... Sua mãe insistia que bastavam dez minutos.
Henri tranquilizou-as garantindo que não havia motivos para a pressa, já que bastava Vernon aceitar a peça para combinarem um encontro. Lulu disse com convicção que o tipo aceitaria se ficasse certo que Josette fosse selecionada para o elenco... A moça enrubesceu... Henri notou e perguntou se gostaria de marcar um dia para uma apresentação, e sugeriu terça-feira às 16h... Lucie aprovou e deixou claro que poderiam usar a casa dela.
Henri perguntou a Josette se o papel lhe interessava... E emendou que não esperava que sua Jeanne fosse interpretada por tão bela atriz.
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Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – ao final da conferência, Henri é levado a uma área reservada; Belzunce o orienta sobre como deve se comportar junto aos convidados milionários; Marie-Ange diz que ele não é “brilhante” e o aconselha a observar os modos de Volange; Julien e Vincent estão ali para se embriagar; “pseudo intelectuais”, uma “raça terrível”

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Henri fez sua conferência na mansão de Claudie Belzunce... Observou os tipos perfumados e empetecados que o ouviram... Definitivamente ambiente não era dos que ele costumava frequentar.
Huguette Volange mostrou ao palestrante por onde devia se retirar sem ser incomodado. Na parte onde organizaram o bufê, Perron poderia receber apenas os convidados que Claudie fazia questão de manter na casa... Julien já estava embebedando-se e se justificando que era para isso mesmo que havia chegado ali... O rapaz não ouviu nenhuma frase da palestra. Henri disse que as conferências são mesmo maçantes, e não apenas para os que as ouvem.
Vincent se aproximou dizendo que a falação havia sido instrutiva... Poderia estar sendo irônico... Riu e disse que também chegava para beber... Logo, uma senhora com a “Legião de Honra” devidamente exibida em sua veste, juntou-se a Henri para agradecer e elogiar a arrecadação “maior do que com Duhamel”...
Perron estava interessado em falar com Lambert, pois queria saber o que Paule havia lhe dito... É claro que o rapaz já devia ter ouvido de Nadine várias revelações de situações íntimas a seu respeito, mas sobre isso não dava a mínima...
Logo que encontrou Lambert, Henri perguntou se poderia levá-lo para casa depois que aquele “carnaval” passasse... O moço respondeu afirmativamente, enquanto Claudie chegava para explicar o ritual que Henri deveria seguir: “Ficar bonzinho e escrever dedicatórias” às senhoras que o admiravam apaixonadamente... Ele quis se esquivar, dizendo que não podia ficar porque era aguardado no jornal. A anfitriã explicou que logo os Belhomme chegariam especialmente para vê-lo. Henri insistiu em sair depois de meia hora.
(...)
Henri perguntava o nome das pessoas, sorria e fazia a dedicatória no livro... “Assinava e sorria”, sentia-se parte de uma comédia... O salão, que não era grande, estava lotado das pessoas mais íntimas de Belzunce... Todas sorriam, uma ou outra arriscava trocar palavras com o intelectual... Estavam de certa forma habituados... Naquele momento tinham Perron, antes contaram com a presença de Duhamel, logo seria Mauriac ou Aragon...
Guite Ventadour quis saber por que seus personagens eram tristes... Henri nada dizia... Pensava simplesmente em “como se é severo para com os personagens de romance”; “não se admite uma fraqueza neles. E como se lê bizarramente!”... Os leitores deviam percorrer “as páginas como cegos”. Então concluiu que o melhor era “nunca encarar os próprios leitores”.
Chegou-se até Marie-Ange e perguntou por que ela estava a rir-se “sardonicamente”. Ela explicou que esse não era o caso; disse que estava entendendo por que ele “vivia escondido”, pois notava que ele não era nem um pouco “brilhante”.
Perron perguntou-lhe o que deveria fazer para se tornar “brilhante”... Marie-Ange sugeriu-lhe observar os modos de Volange para “tomar umas aulas”... De todas as respostas possíveis, certamente essa era a que mais poderia desagradá-lo... Então finalizou o assunto dizendo que “não era dotado”.
(...)
Julien bebia compulsivamente... Falava demais e à sua volta reuniam-se pessoas que riam de seus gracejos... O rapaz brincava com os nomes Belzunce, Polignac, La Rochefoucauld, que se “arrastavam pelas páginas empoeiradas da História da França”... Julien se realizava, acreditava mesmo que dominava o ambiente e aquelas pessoas... Henri refletia sobre aquela triste condição, e lamentou mais ainda os “pseudo intelectuais” que se reuniam na mansão de Claudie... Eram tipos entediantes e carregados de aborrecimentos; “escrever não os distraía; pensar não os interessava”... “Uma raça terrível!”
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Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Perron está de saída para a conferência, mas Paule o provoca dizendo que vai conversar com Dubreuilh; ela diz que quer acabar de uma vez com a influência nefasta do outro sobre Henri, e revela que tratou de seus planos com Lambert; Henri a chama de “imunda” e ameaça não mais retornar ao estúdio; com a promessa de que não mais procuraria Dubreuilh, Paule tem acesso aos manuscritos; para Henri restou a dúvida, porém a palestra não podia ser cancelada

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Henri não quis alimentar a discussão... Silenciou... Mas ao passar por ela, ouviu-a dizer que iria até Vigilance ter com Dubreuilh. Então ele quis saber por que ela se dispunha àquilo... Paule disse que buscaria explicações e que tinha muitas coisas a falar-lhe, inclusive da parte do próprio Henri... O rapaz pediu que ela não se metesse na relação entre ele e Robert... Ela respondeu que o livraria de Dubreuilh, o “gênio do mal”.
Perron ficou perplexo... Precisava saber do assunto que Paule estava disposta a tratar com Dubreuilh, mas ao mesmo tempo devia se apressar para não atrasar o início da conferência na casa de Claudie... A moça estava decidida, já que havia refletido muito e, assim, descobrira que era Dubreuilh quem destruía o amado. Henri percebeu que só ameaçando romper com ela é que talvez a dissuadisse.
Paule garantiu que não estava “tendo visões”... Explicou que possuía informações seguras... Sobre isso, Henri descartou Anne (e Paule manifestou que essa era “ainda mais cega” do que ele)... Então a moça confessou que havia conversado com Lambert.
Paule esclareceu que telefonou para o rapaz e pediu-lhe que a visitasse... Ela disse que também Lambert não gostava de Dubreuilh (Henri tinha certeza disso). Perron teve vontade de esbofeteá-la... Segurou-a pelo punho, gritou que sua iniciativa havia sido rasteira, obra de uma “imunda”. Ela manteve-se passiva e proferiu palavras que ainda mais irritaram Henri, que teve de ouvir que a vida dele era também dela; que havia se sacrificado por ele; que, assim sendo, tinha direitos sobre a vida dele...
Henri irritou-se profundamente. Esbravejou garantindo que não havia exigido nenhum sacrifício dela... Disse que procurou ajudá-la a ter uma vida independente, mas ela mesma a recusava... Então concluía que a situação só dizia respeito a ela... Insistiu que ela não tinha nenhum direito sobre ele...
Paule ouviu sem ousar interrompê-lo, depois falou que não quis a própria independência porque sabia que ele necessitava de sua dedicação máxima.
Henri não conseguia argumentar... Falou que havia momentos em que tinha vontade de não mais retornar ao estúdio... E que se ela procurasse Dubreuilh nunca mais o viria...
Paule ainda quis fazê-lo entender que seu único intento era “salvá-lo”, pois ele estava se perdendo, “aceitando tudo quanto é compromisso” e “falando nos salões”. Chegou ao cúmulo de garantir que ele não queria lhe mostrar os manuscritos porque se reconhecia derrotado e envergonhado por uma produção textual “certamente ridícula”.
Numa última tentativa de evitar a loucura de Paule, Henri perguntou-lhe se ela desistiria de falar com Dubreuilh se tivesse acesso aos seus manuscritos... A troca foi acertada... Ele permitiu o acesso aos seus papéis, e ela deu sua palavra de não mais procurar Robert Dubreuilh. Henri abriu a gaveta e tirou o “volumoso caderno verde-acinzentado”... Ele deu-lhe autorização para ler tudo. A moça desmanchou-se de contentamento e disse que depois conversariam a respeito dos textos.
(...)
Perron estava prestes a se retirar enquanto refletia sobre o calhamaço... Paule gritou-lhe um “até logo”... Ele seguiu pela escada imaginando que quando retornasse a encontraria completamente transtornada pelas palavras que revelavam o seu desejo de rompimento... Parou como quem vacila... O grande cachorro preto do apartamento vizinho avançou contra ele... Então decidiu descer mais rapidamente... E não foi devido ao ataque do animal feroz.
(...)
Já na mansão de Claudie, tratando um pouco da história do jornalismo francês, Henri notava que seu público portava “pequenos chapéus, joias, peles...” Eram mulheres em sua maioria, mas Vincent e Lambert também estavam por ali. Ao final da falação seguiu-se a ovação geral.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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