sexta-feira, 31 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – novas provocações no caminho da expedição comandada por Álvaro de Sá; o italiano sabe do segredo do rapaz, o interesse pela bela Cecília; sérias ameaças são trocadas – Segunda Parte

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A conversa prosseguiu ainda por algum tempo e serviu para Álvaro concluir que o aventureiro italiano o perseguia. Isso de questionar autoridades e suas ordens não era admitido... Ele quis finalizar dizendo que a pressa nas ações era o resultado da ordem que havia recebido, e que o outro podia pensar o que bem quisesse.
Esse Loredano era mesmo um tipo provocativo e, demonstrando desprezo, seguiu assobiando enquanto cavalgava próximo de Álvaro. Logo saberemos mais a seu respeito (quem leu o início da adaptação de Pallottini sabe que ela adiantou-se na apresentação do personagem)... Por enquanto o texto original prossegue revelando um pouco de seus traços físicos (o italiano era moreno e tinha uma longa barba; era alto e forte) e mais a respeito de sua ousadia em relação ao chefe.
Os dois voltaram a conversar depois que Loredano notou a ansiedade do jovem Álvaro ao observar através dos sinais naturais da floresta a aproximação da tarde... O subalterno irreverente disse-lhe que poderia ficar sossegado, pois chegariam antes das seis horas... Demonstrando desagrado, Álvaro falou que o outro não precisava fazer rodeios e poderia dizer abertamente o que estava pretendendo. Então o italiano falou que devia estar claro para Álvaro que ele já sabia o motivo de sua pressa e ansiedade... O rapaz retrucou e disse que já tinha explicado o seu comportamento, então era evidente que Loredano sabia que a situação se devia ao fato de terem de obedecer à ordem de d. Antônio...
Loredano prosseguiu em suas provocações... Concordou com o que ouviu, e disse que o dever é cumprido “com satisfação quando o coração nele se interessa”. Álvaro chamou o nome de Loredano advertindo-o ao mesmo tempo em que levava sua mão até a espada. Esse comportamento revela que, de fato, o moço tinha um segredo que dizia respeito às coisas do coração e sentimentos em relação à filha de d. Antônio...
O italiano fez que não notou o gesto de Álvaro... Concordou que era legítima a razão do empenho do rapaz no cumprimento da ordem de d. Antônio de Mariz, mas ressaltou mais uma de suas “inquietações”. Disparou que em vez de saírem do Paquequer no domingo, seguiram para o Rio de Janeiro apenas um dia depois e, além disso, a pressa de Álvaro em retornar os levariam a chegar antes do domingo seguinte!
Álvaro destacou que Loredano era mesmo muito observador, e isso foi reforçado depois que ouviu dele que chegariam a tempo da prece conduzida pelo fidalgo ao entardecer... O jovem chefe da expedição lamentou que o dom de Loredano fosse dispensado com futilidades... Foi então que o italiano explicou que, por aquelas paragens, não havia muito mais para se distrair e que, nisso de observar os demais e o seu redor, percebia situações reveladoras.
Instigado por aquelas últimas palavras, Álvaro quis ouvir mais. O sarcástico Loredano então contou que tinha notado por aqueles dias os hábitos de “um moço que se desligava da lide aventureira para apanhar uma flor”, ou ainda os de “um homem que, insone, decidia passear de noite à luz das estrelas”...
Álvaro reconheceu-se em ambas as situações, desabafou sua indignação e sentenciou que o italiano se parecia mais com um espião... Seu tom agressivo levou o italiano a pegar sua adaga, porém isso não teve as consequências de uma luta, e a conversa prosseguiu em tom de novas provocações. O rapaz reafirmou sua opinião sobre Loredano, e jurou que se ele voltasse a proferir chacotas em relação aos seus sentimentos, às suas posturas e decisões iria esmagá-lo.
O italiano não se intimidou e respondeu que, entre eles, não era Álvaro que deveria fazer ameaças; e que não era ele, Loredano, quem devia temer alguma coisa... É claro, se o outro queria saber se reconhecia o seu lugar, afirmava que o jovem era o seu chefe, mas conhecia o seu segredo. E nisso estava o seu trunfo.
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“O Guarani”, de José de Alencar – informações sobre a família de d. Antônio; a bandeira chefiada por Álvaro de Sá; apressamento da expedição e provocações de certo Loredano - Primeira Parte

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O texto de José de Alencar nos apresenta um quadro mais completo da família de d. Antônio de Mariz. Porém, de um modo geral vamos conhecendo traços físicos e personalidades conforme a história vai se desenvolvendo... Sobre o clã do fidalgo, observa-se:
Dona Lauriana era paulista e, em nota, ficamos sabendo que a personagem real chamava-se Lauriana Simoa... Era dedicada ao lar e disciplinada nos compromissos da religião. Alencar a descreve como um tipo egoísta, mas isso não a limitava na prática de eventuais boas ações... Diogo de Mariz, o filho do casal, era um moço que passava o seu tempo em “correrias e caçadas”. Em outra das notas ficamos sabendo que ele também é histórico, e que se tornou provedor da alfândega do Rio de Janeiro, tendo substituído o próprio pai naquela função... Cecília era a jovem de dezoito anos, a moça mimada pela família e o centro de todas as atenções daquele lugar... Isabel era sobrinha de d. Antônio e companheira de Cecília em seus passatempos. Sobre ela, o romance destaca que os companheiros do fidalgo desconfiavam que ele fosse o pai da garota, cuja mãe devia ser uma índia com a qual ele se envolveu no passado... Mas sobre isso não se falava.
O texto prossegue tratando da “bandeira” chefiada por Álvaro de Sá, que era jovem da confiança de d. Antônio. Alencar preocupa-se em explicar que as bandeiras eram caravanas de aventureiros que entravam pelos sertões na esperança de encontrar ouro, brilhantes e pedras preciosas. Essa, que faz parte do romance, retornava do Rio de Janeiro, onde havia negociado os produtos que conseguiu graças às incursões por terras auríferas.
Vemos Álvaro de Sá apressando os seus companheiros, incentivando-os a acelerarem o passo, pois restavam poucas léguas até o casarão de d. Antônio... Aproximou-se dele um tipo com sotaque italiano para conversar. Tratava-se do senhor Loredano, integrado ao grupo fazia pouco tempo... O comentário que fez referia-se à pressa desejada pelo outro. Como Álvaro tivesse argumentado que era natural o desejo de retornar, Loredano respondeu que também era natural que poupassem os animais.
O rapaz notou que Loredano estava querendo provocá-lo de alguma maneira, então quis saber o que o outro pretendia... Sobre isso, Loredano disse apenas que, pelo ritmo que seguiam, era provável que chegassem antes das seis da tarde. O moço corou e garantiu que, de fato, seria melhor que chegassem com a luz do dia.
Loredano continuou a provocá-lo e fez referência à Escritura, dizendo que “não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir”... Álvaro gracejou, pois aquela observação era algo inusitado entre os aventureiros. O italiano respondeu que aprendeu aquele ensinamento na Rua dos Mercadores, com um vendedor de brocados e joias... Dessa vez Álvaro ficou ainda mais enrubescido, pois notava que o outro sabia algo sobre ele e aquela conversa servia apenas para provocá-lo.
O chefe do grupo quis por um fim ao diálogo, mas Loredano perguntou se ele não havia entrado na referida loja... Sem jeito, Álvaro respondeu que não se lembrava e que, além disso, não tinha tempo para as “galantarias de damas e fidalgas”... Ainda em tom provocativo, Loredano disse entender a falta de tempo do outro já que “se demoraram no Rio de Janeiro apenas cinco dias, quando o normal seria dez ou quinze dias”.
A provocação do subalterno persistiu pelo caminho... No final restou uma desagradável tensão entre ele e o jovem Álvaro... Mas isso fica para a próxima postagem.
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quinta-feira, 30 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Série Reencontro – Peri decidiu matar a fera que capturou; atentado contra Ceci no rio; dois assassinatos; Peri se feriu e se curou; toda uma tribo pode se levantar contra ele e os Mariz

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O felino que Peri capturou podia escapar dos laços que o mantinham preso... Sua amiga ia tomar banho no rio. Ele não podia aceitar que algum perigo rondasse Ceci, então decidiu seguir até o lugar onde havia amarrado o bicho e o matou... Decididamente, Peri não lembrava mais dos costumes guerreiros goitacá... A captura da fera viva era sinal de sua bravura, mas agora levava em conta apenas o bem estar de Ceci... Depois de tirar a vida da onça, ele retornou ao rio para proteger a bem amada amiga...
O lugar onde as moças se banhavam era aprazível. Peri mesmo havia organizado um caramanchão, um abrigo cheio de jasmineiros, que elas usavam como “casa de banho”... Ali os raios solares não agrediam tanto e elas podiam se trocar sem serem incomodadas...
Era com um camisão de cambraia que Ceci lançava-se à água... Sua prima fazia-lhe companhia sentada à margem. As duas não sabiam da presença de Peri, que se mantinha à distância sem causar constrangimentos à amada...
Tudo ocorria na mais perfeita harmonia até que o nosso índio notou um movimento nas proximidades... Depois de locomover-se sem provocar ruídos, o goitacá conseguiu colocar-se numa ramagem onde pôde notar dois índios ornamentados com tangas de penas amarelas... Eram tipos belicosos e preparavam seus arcos para disparar flechas contra Ceci...
É claro que Peri não teve oportunidade de calcular as ações que viria a tomar... Sua decisão foi atirar-se imediatamente sobre os dois... Nisso, uma das flechas foi disparada ao longe, mas a outra penetrou em cheio o seu ombro... A reação foi imediata, e ele utilizou as pistolas que havia recebido da amiga (a adaptação não esclarece os detalhes sobre esse “presente”)... Foi com dois disparos que ele estraçalhou as cabeças dos inimigos. Ele ouviu um grito da parte de Ceci, quis ir ao seu encontro, mas notou que a sua ação havia sido observada por uma índia que acompanhava os dois que ele havia assassinado... Tratou de persegui-la para impedir que ela relatasse o ocorrido à sua tribo.
Mas Peri ignorava que estava flechado no ombro e, conforme perseguia a índia pela floresta, o seu ferimento se agravava... Ele perdeu muito sangue e ficou totalmente sem forças... Perdeu a índia de vista e desfaleceu, mas recuperou energia ao recordar que a sua senhora Ceci corria perigos na mata...
Suas pernas estavam vacilantes, porém ele estava apreensivo desde que ouvira o grito da amada... Então notou uma cabuíba (grande árvore conhecida pelos índios por sua seiva oleosa, de propriedades medicamentosas).
Abraçou o tronco da árvore e ingeriu aquele “óleo poderoso e curativo”, além de cobrir o seu ferimento com ele... Seu sangue foi estancado... E foi assim que ele se salvou.
Continua
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“O Guarani”, de José de Alencar – Série Reencontro – Peri, o goitacá, salva Ceci de um acidente com uma enorme pedra; no início, uma amizade não correspondida; a devoção de Peri a Ceci é tão grande que o leva a abandonar o compromisso de chefiar o seu povo

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Peri não era qualquer guerreiro. Ele era filho do cacique dos goitacá e, assim sendo, era o legítimo herdeiro da chefia daquele povo... Era tratado pelos seus parentes com toda a honra e consideração dispensada aos príncipes. Ele também tinha o respeito e a admiração de d. Antônio de Mariz... Sobre isso, a adaptação relata o episódio em que o índio salvou a bela Cecília de um desastre.
Certa vez, ao aproximar-se do casarão, Peri notou que a donzela passeava pelo entorno. Ele a observava ao longe, mas ficou preocupado quando percebeu que a moça decidiu deitar-se numa relva não muito distante de uma grande pedra... Peri viu que a pedra estava a ponto de se desprender e rolar em direção à indefesa Ceci... Valente como era, correu em direção do colosso e sustentou a rocha com os seus braços fortes. Gritou em advertência, chamando-a de Iara (que em guarani significa “senhora”) e pedindo que se retirasse imediatamente. D. Antônio entendeu o que se passava e adiantou-se a retirar a filha do local onde pouco depois a gigantesca pedra caiu... E foi assim que Peri salvou a filha de d. Mariz.
Evidentemente o fidalgo tornou-se grato ao índio, que tratava como “filho de Ararê” e o reconhecia como “primeiro de sua tribo”... Mas Cecília estranhava Peri e seu modo de ser... Era certo que o temia... De sua parte, Peri procurava demonstrar a sua afeição e trazia para ela as flores mais perfumadas, favos de mel, frutos e pássaros como presentes. Ele ficava amargurado por perceber que não era correspondido e a chamava de Ceci. Ela quis saber o significado daquela “redução” em seu nome, mas ele mesmo não sabia explicar, então disse que era algo que sentia internamente, já que Ceci era o que estava dentro de sua alma... Foi d. Mariz quem explicou à filha que Ceci quer dizer “doer, magoar”.
A partir de então, Cecília procurou compreender melhor aquele tipo diferente que a salvou... Peri estava integrado ao ambiente onde ela vivia e fez um juramento de nunca abandonar as cercanias... Comprometeu-se a defender com toda a sua força e amor o lugar para que nada de mal ocorresse a Ceci ou aos seus familiares... Ela passou a ser o centro de sua existência.
Aconteceu que certo dia Peri foi visitado por sua velha mãe... Ela falou-lhe que era chegado o momento de assumir o lugar de Arerê porque o seu pai havia morrido... Peri tinha um dever para com o seu povo goitacá.
Mas a devoção de Peri por Ceci era imensa. Então sentenciou que não poderia retornar com a mãe para os goitacá... A velha, que havia perdido o Arerê com quem vivia desde a juventude, demonstrou-se arrasada. Em prantos voltou a pedir que o filho assumisse o lugar de chefe de sua gente. Mas Peri respondeu que “sua senhora” mandou que ele ficasse e a conversa foi encerrada... O jovem índio foi enfático, arrematou falando que sua escolha estava feita e que permaneceria ali para cuidar de Ceci... A velha mãe de Peri terminou dizendo que se algum dia ele retornasse, a encontraria na cabana de Arerê, pronta para recebê-lo. Ela partiu triste, mas aceitou a decisão do filho.
Peri manteve-se assim... Sempre a observar a bela Ceci nos mais diversos momentos de seus dias. Era zeloso e não deixava que nada de mal lhe acontecesse.
Certa manhã ensolarada, Ceci e a prima Isabel percorreram o caminho em direção ao rio, onde se banhariam... Isso de tomar banhos em rios era costume entre os índios, mas Ceci tinha muito gosto pela natureza e era com frequência que se permitia à “extravagância”. À distância, sempre sem ser notado, Peri observava as duas moças. Ele se apavorava ao pensar nos perigos que Ceci corria em meio à mata e tornou-se agitado ao lembrar-se da onça que havia capturado... O felino podia escapar dos laços que o mantinham preso e atacar as duas banhistas! Decidiu que precisava fazer algo para impedir que uma tragédia ocorresse.
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quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – dados biográficos do histórico d. Antônio de Mariz; serviços prestados e fidelidade incondicional a Portugal e à dinastia de Bragança; a construção de uma fortuna; relações entre o fidalgo e aventureiros das proximidades; fidelidade e similaridades no modelo feudal

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O texto de José de Alencar nos revela o passado (documentado nos Anais do Rio de Janeiro, tomo 1º) do fidalgo de O Guarani... Ele foi um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro. Mariz destacou-se na luta contra os franceses invasores e também contra os indígenas intransigentes em relação à colonização. Auxiliando Mem de Sá (o terceiro governador geral), contribuiu para a consolidação do domínio lusitano na região... Em 1578 participou da expedição de Antônio de Salema contra os contrabandistas franceses e foi, também por essa época, “provedor da real fazenda” e mais tarde da alfândega do Rio de Janeiro. Em todas as atribuições que recebeu demonstrou zelo e dedicação à metrópole e ao rei... Por todo o seu empenho, inclusive na exploração do sertão, Mem de Sá doou-lhe a “sesmaria de uma légua com fundo sobre o sertão”.
D. Antônio, como o destacado pela adaptação de Pallottini, mudou muito depois que o domínio espanhol se estabeleceu a partir da derrota lusa de Alcácer-Quibir... Em 1582, Felipe II da Espanha foi aclamado no Brasil como sucessor da coroa portuguesa... O nosso personagem não se curvou e, como relata Alencar em seu livro, “o velho fidalgo embainhou a espada e retirou-se do serviço”.
É certo que por algum tempo aguardou a expedição de d. Pedro da Cunha, cujo objetivo seria transferir a coroa portuguesa para o Brasil, onde d. Antônio (prior do Crato, ele deveria ser o rei de Portugal) se tornaria o “legítimo herdeiro”... Isso, porém, nunca ocorreu. Então Mariz estabeleceu-se com a família em sua sesmaria, onde jurou guardar fidelidade até a morte. Alencar ressalta a lealdade e o caráter de Antônio de Mariz e “põe em sua boca” as palavras de um sujeito bem determinado:
“Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço; nesta terra livre, tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!”
Isso foi em abril de 1593... Logo após a casa foi construída... Artesãos vindos de Portugal viabilizaram a execução do projeto. A muralha de rochedos era a defesa natural de seu solar... E ela era mesmo necessária devido às tribos “selvagens” representarem constante ameaça (é bem verdade que sempre que atentavam contra os redutos de colonos se retiravam para as florestas; aqueles índios eram considerados traiçoeiros).
Mariz soube acumular fortuna desde o começo de suas atividades... Também como aventureiro conseguiu recursos... Assim teve condições de proporcionar conforto à família em meio à selva. Durante muito tempo negociou... Ia até o Rio de Janeiro, onde conseguia produtos portugueses e os trocava por outros da colônia...
Nas cercanias do casarão, por volta de uma légua, havia uns poucos casebres de aventureiros pobres que viviam principalmente do contrabando de ouro e de pedras preciosas... Como não havia tropas regulares, era comum que os grandes senhores coloniais permitissem essa convivência, pois os aventureiros transformavam-se facilmente em pessoal de expedições exploradoras do interior e também de defesa (em nota, o livro destaca que isso era muito comum durante a Idade Média)... De certo modo, a casa de d. Antônio de Mariz era como que um castelo para onde acorriam os que viviam nas cercanias durante as ocasiões de ataques mais violentos de índios... Ele dava-lhes a proteção tal qual ocorria quando os suseranos medievais socorriam seus vassalos...
Os aventureiros que se relacionavam com d. Antônio eram fiéis a ele. E também disciplinados... Todos respeitavam as suas ordens e reconheciam a sua liberalidade na partilha de lucros advindos de empreendimentos diversos. Sua palavra era lei e fazia justiça entre todos os da convivência... Seus homens dirigiam-se com mercadorias ao Rio de Janeiro, onde realizavam as transações de aquisição de produtos que vinham de Portugal... Seus quarenta aventureiros recebiam (em dinheiro ou objetos de consumo) sua parte dos lucros, divididos equanimemente...
D. Antônio não se cansava de doutrinar os seus homens de armas sobre o “pedaço de sertão” onde viviam ser um “fragmento de Portugal livre”, onde “só se reconhecia como rei ao duque de Bragança”.
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“O Guarani”, de José de Alencar – considerações sobre as descrições do início do livro; a mata, o Paquequer e a casa de d. Antônio de Mariz

Há que se registrar que a adaptação de Pallottini (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar-serie.html) não dá conta da riqueza de detalhes que podemos apreciar quando lemos a obra original... Faço esses registros para destacar que vale a pena dedicar-se à leitura de O Guarani... Belíssimo texto inspirado em documentação, revelador do momento histórico em que a história se passa, e revelador da mentalidade ocidental do século XIX em relação aos povos dominados pelos europeus.
O “Guarani” do título da obra pretende significar “o indígena brasileiro”.
Alencar descreve o Paquequer e o lugar da Serra dos Órgãos onde os acontecimentos estão ambientados (início do século XVII) de modo tão minucioso que nos leva ao lugar repleto de “beleza selvática”; época em que a cidade do Rio de Janeiro “engatinhava”, pois não tinha completado ainda mio século de fundação... Então o livro é aberto assim, com a apresentação da mata virgem conhecida pelos nativos (comumente denominados “Tupi” pelos cronistas) e por aventureiros portugueses que buscavam, a partir do desbravamento, descobrir riquezas...
À margem direita do Paquequer foi construída a “casa larga e espaçosa” (...) “sobre uma eminência, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique”... A engenhosidade humana havia interagido com os elementos naturais... Também por isso o cenário se apresentava harmônico. A ponte de madeira “construída sobre uma fenda larga e profunda que se abria na rocha” permitia a descida até a beira do rio, numa curva sombreada “pelas grandes gameleiras e angelins que cresciam ao longo das margens”...
A casa, de arquitetura simples, tinha cinco janelas baixas e largas em sua parte da frente... Havia um belo jardim que “imitava a rica natureza”. O espaço digno de admiração era composto por “flores agrestes de nossas matas, pequenas árvores copadas, (...) um fio de água, fingindo um rio e formando uma pequena cascata”... O ambiente era como que uma miniatura da natureza que o cercava...
Era ao fundo da casa, separados dela, que haviam sido construídos “dois grandes armazéns ou senzalas”, onde se instalavam aventureiros e “acostados”... À beira do precipício havia uma muito simples cabana de sapé levantada a partir de duas palmeiras que se levantavam de fendas das pedras.
O interior da casa também é ricamente descrito... Sua entrada principal era guardada por pesada porta de jacarandá... Na sala principal notavam-se paredes e teto caiados... Próximos às janelas estavam os retratos de um velho fidalgo e de uma senhora também idosa. Acima da porta estava inscrito o “brasão de armas”, descrito com cuidado e precisão pelo texto.
Nos Anais do Rio de Janeiro, tomo 1º, pesquisados por Darcy Damasceno, é possível conhecer o brasão da “casa dos Marizes” que é, portanto, histórico.
A sala apresentava móveis que preenchiam harmoniosamente os espaços (cadeiras de couro, mesa de jacarandá de pés torneados, lâmpada de prata no teto...). Como todo lar cristão, ali também se contemplava um oratório... Tudo muito simples e envolto em atmosfera severa e triste.
De muita simplicidade também eram os demais cômodos... A exceção era o quarto da filha do fidalgo. Ali se notavam capricho e delicadeza em que brocados de seda se misturavam a belas penas de aves do lugar e tapete de peles de animais selvagens.
A casa, já sabemos, era de d. Antônio de Mariz... Ainda a partir das informações de Darcy Damasceno, sabemos que se trata de personagem histórico.
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segunda-feira, 27 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Série Reencontro – d. Antônio Mariz e seu casarão no alto da serra; Álvaro de Sá e os homens de armas; Cecília e seus encantos; Loredano infiltrado; o goitacá Peri e a tocaia à onça

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D. Antônio de Mariz era o típico fidalgo fiel à coroa lusitana. Por muitos anos havia prestado “serviço de armas” ao seu país e é por isso que havia recebido uma vasta área na região serrana onde se localiza Petrópolis... Não aceitava de bom grado as mudanças políticas que ocorriam devido à União Ibérica e o consequente domínio espanhol sobre os negócios portugueses. Como já contava mais de 50 anos, decidiu que era tempo de se aposentar e garantir o sossego e bem estar de sua família.
Em meio à bela paisagem, privilegiada pelo rio Paquequer (que contribui para a formação do grande rio Paraíba) e pela floresta, Mariz conseguiu que construíssem sua “esplêndida casa” fortificada e muito bem defendida. A construção era marcada por sua posição em elevada altitude, sendo que ao fundo divisava com profundo abismo repleto de pedras, árvores e os mais diversos animais, principalmente cobras. Mas era na confortável casa que o fidalgo esperava passar o resto de sua vida com a mulher Lauriana, os filhos Diogo e Cecília e a sobrinha Isabel. Os seus servidores eram praticamente seus agregados.Sobre Isabel, diziam que também ela era filha de Antônio de Mariz. Entre os homens e mulheres que estavam a serviço da grande casa, d. Antônio depositava grande confiança em Álvaro de Sá, que era um jovem da “pequena fidalguia portuguesa” e encarregado de chefiar os demais homens de armas para guarda e defesa da casa e da família.
A adaptação faz a apresentação de Álvaro na ocasião em que este retornava com seus comandados da cidade do Rio de Janeiro, percorrendo apressadamente o interior da mata. Não era sem razão que faziam isso, já que havia muitos índios (como os aimoré) hostis aos colonos e que podiam atacá-los. Havia ainda outro motivo que levava o moço a pretender chegar a casa antes das seis da tarde. É que neste horário d. Antônio reunia a família e os que prestavam-lhe serviços “numa plataforma de pedra” para as orações de fim de dia. Dessa plataforma tinham uma linda visão do pôr do Sol... Devoção à parte, Álvaro não queria perder a ocasião de contemplar a filha de seu senhor, Cecília, bela e delicada moça de dezessete anos por quem o rapaz nutria um “bem querer enamorado”.
Entre os homens que faziam parte da comitiva estava Loredano. O ex-frade conseguiu ingressar no grupo de servidores de Antônio, mas os seus objetivos eram bem particulares... Ele prosseguia com os seus planos de atingir as minas de Robério Dias, mas sabia que sozinho não lograria sucesso.
Em meio aos agregados de d. Antônio, Loredano esperava ganhar a confiança de alguns dos homens de armas e até roubar algum dinheiro para financiar sua empreitada rumo à Bahia... Não fazia muito tempo que ele havia se integrado ao cotidiano daquela família. Foi percorrendo as matas, após o assassinato que cometera, que encontrou o casarão e pediu que o contratassem também como homem de armas.
Loredano sabia que o jovem Álvaro era apaixonado pela menina Cecília. O mal intencionado ex-frade também ficou encantado por ela, e é por isso que ele via o chefe como desafeto. Loredano vivia a desdenhar das ordens que Álvaro transmitia...
Enquanto a comitiva percorria a mata, numa clareira um índio tocaiava uma onça pintada... Este era Peri, goitacá da nação guarani. O jovem índio tinha uma presença marcante, era alto e forte, esbelto, de pele “cor-de-cobre” e cabelos curtos. Vestia uma túnica branca de algodão (chamada pelos índios de “aimará”) com cintura envolvida numa faixa de penas vermelhas. Ele ainda levava plumas coloridas presas à cabeça por uma cinta de couro. Em sua investida contra o animal, Peri segurava arco e flechas na mão esquerda, enquanto que na direita carregava uma lança de madeira.
O pessoal liderado por Álvaro avistou a onça e quis matá-la com suas armas de fogo, mas foram advertidos pelo goitacá para que não atentassem contra a sua caçada. Logo saberemos que Peri também era chegado a d. Antônio, que o tinha em consideração... Por esse motivo, Álvaro conhecia o jovem índio e sabia que ele era “bravo e forte”... Para guerreiros como Peri, o enfrentamento com a onça era evento sagrado, sendo assim não podia ser incomodado por ninguém.
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domingo, 26 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Série Reencontro – Uma introdução; considerações sobre a obra e a adaptação de Pallottini; o início em que se conhece a ocasião em que o frei Di Luca toma posse de misterioso mapa e assume nova identidade

O Guarani, de José de Alencar, é um dos principais romances nacionais... Publicado em 1857 (em folhetim), constitui-se marco de nossa literatura também porque evidencia a temática da “identidade nacional”.
O amor e devoção do índio Peri por Ceci, filha do colonizador branco, são reconstrução “poético-épica” da formação da identidade nacional e trama que conduz a história. O enredo encaixou-se perfeitamente na adaptação que o compositor Carlos Gomes fez para a ópera O Guarani, que estrou em Milão no ano de 1870.
Evidentemente há muitos estudos a respeito da obra, sua inserção no Romantismo e sobre a idealização do indígena, personagem primordial de nossa história, dotado de sentimentos puros e caracterizado a partir dos parâmetros culturais europeus. Renata Pallottini fez uma adaptação da obra, que integra a “Série Reencontro” (Editora Scipione)... Vimos que o texto desenvolvido para contemplar A Moreninha, de Joaquim Manuel Macedo é satisfatório e cumpre exemplarmente o objetivo de facilitar a leitura e instigar o estudante a procurar o texto original.
O contato com o presente volume, graças aos deveres escolares de minha filha estudante de ensino fundamental, possibilitou a oportunidade de apresentar neste blog “resenhas” da adaptação.
(...)
Devemos destacar que Pallottini decidiu iniciar a adaptação pela segunda parte do texto original...
O Brasil era colônia de Portugal, que estava sob a administração espanhola devido à União Ibérica (1580-1640)... Desde o século XVI, para cá vinham representantes da coroa, soldados, donatários, colonos e aventureiros em busca de riquezas naturais... Muitos missionários católicos de várias ordens religiosas também vinham para catequizar indígenas...
(...)
O ano era 1603... O texto se inicia apresentando um episódio que se passa numa noite de tempestade em região montanhosa da vizinhança do Rio de Janeiro. Num rústico abrigo construído para abrigar os que estavam de passagem pela serra, o frade Ângelo di Luca fazia companhia ao aventureiro português Fernão Aines e ao Mestre Nunes. O religioso realizava naquelas paragens a sua pastoral de doutrinação de gentios.
O Mestre Nunes descansava numa rede e perguntou a Fernão Aines se este estava disposto a seguir viagem mesmo com a volumosa tempestade... O aventureiro desdenhou e disse que zombava da intempérie... O frei alertou-o sobre o temor que os maus devem ter em relação ao inferno. Aines era “só risos”, e disse que não podia ser definido como “mau”, pois vivia conforme as ordens de Deus e da santa Igreja... Estavam nessa conversa enquanto a tempestade mais se avolumava e despejava seus raios... Um desses caiu sobre um cedro próximo ao sítio onde se encontravam... A árvore atingida queimou, uma parte dela caiu sobre o alpendre e acertou em cheio o peito do aventureiro Aines.
O Mestre Nunes e o frade correram na direção dele, mas notaram que nada poderiam fazer porque Aines estava ferido de morte... Em seus estertores, o agonizante solicitou ao religioso que ouvisse a sua última confissão. Então, depois que Mestre Nunes se afastou, ele principiou a dizer que havia sido castigado por ter roubado um mapa de um parente há muito tempo no Rio de Janeiro... O mapa ensinava chegar às misteriosas minas de prata de Robério Dias na Bahia (de fato há documentos que registram misteriosa e rica localidade no interior da Bahia, alvo de expedição, aventuras e lendas durante o século XVIII). Aines confessou ter matado seu parente e perseguia o sonho de alcançar as minas. Já sem força para prosseguir em sua confissão, disse ao religioso que desejava que o mapa chegasse às mãos da viúva de Robério Dias. Deixava essa incumbência ao frei.
Ângelo di Luca quis saber onde estava o mapa, mas o seu olhar era de cobiça... Aines conseguiu mostrar uma cruz onde o mapa estava escondido. O frade quebrou o objeto sagrado e de lá tirou o documento. Querendo dizer algo mais, Aines sussurrou um “ouve-me, frei...”, mas morreu.
Di Luca raciocinou rapidamente e, depois de ter anunciado a morte do pobre homem, solicitou ao Mestre Nunes que comunicasse ao seu superior da ordem carmelita no Rio de Janeiro que ele deveria permanecer por mais tempo afastado por aqueles matos para cumprir uma “missão sagrada”. O religioso despiu o morto e envolveu-o numa mortalha... Nunes ajudou a enterrar o cadáver...
Depois de se separarem, frei Ângelo colocou os pertences de Fernão Aines em um saco de viagem. O frade se vestiu com as roupas do aventureiro morto e, com a ajuda de um índio conhecido, enterrou o mapa e suas roupas de religioso... Mudou sua aparência e assassinou o índio que o havia ajudado. Adotou o nome Loredano, e assim deu prosseguimento a seus planos.
Leia: O guarani. Série Reencontro – Literatura. Editora Scipione.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 23 de maio de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Começo do capítulo V; o casal Dubreuilh está em retiro e recebe a visita de Henri Perron; bicicletas, trilhas, e beberagem em meio à floresta; Robert preocupa-se com o futuro do SRL e de L’Espoir; Henri experimenta um feliz “fragmento da vida”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_24.html antes de ler esta postagem:
É importante esclarecer que apenas agora, com esta postagem, chegamos ao quinto capítulo de Os Mandarins... E isso significa mais ou menos a metade do texto de Beauvoir. Na abertura, “vemos” Henri Perron despertando de uma noite de bebedeira... Dormiu sobre tábuas na instalação de retiro escolhida por Anne para as “férias do casal Dubreuilh”... Durante boa parte da noite ele teve a sensação de ter notado Robert trabalhando... De fato, Anne o informou que o marido aproveitava a ocasião de isolamento na montanha para escrever diariamente, e isso podia avançar pela madrugada.
O dia começou com pedaladas até localidade mais abaixo... Diariamente o casal fazia esses passeios... As bicicletas não eram das melhores e a que conseguiram para Henri era bem precária. Sem dúvida, como já havia atestado no dia anterior, ele notava que era o que menos preparo físico tinha para superar os desafios do percurso... Sua “máquina” amassada e de pneus gastos e enlameados exigia esforço redobrado. No caminho pararam numa pequena mercearia, onde beberam algo escuro e de alto teor alcoólico... Na sequência encostaram à beira do Loire e, apesar do frio, Henri molhou-se para recuperar alguma energia em seu enferrujado organismo.
Anne e Robert, bem ao contrário do amigo, exibiam vigor, bronzeados e disposição... Dubreuilh quis saber de Henri como as coisas prosseguiram em Paris depois que eles deixaram a cidade... Perron falou sobre o calor da capital, mas Robert queria notícias sobre a política, o jornal e Trarieux... Henri explicou que Luc entendia que não necessitariam de ajuda externa se suportassem sozinhos por dois ou três meses... Robert alertou-o sobre a necessidade de não se endividarem demais... Também lamentou o fato de a tiragem de L'Espoir ter baixado tanto depois da aliança que firmaram, algo que ele não esperava. Henri sorriu e disse que se fosse o caso de recorrer ao dinheiro de Trarieux, faria isso sem remorsos porque o que contava era o êxito do SRL... Robert reconheceu que o êxito do SRL devia-se aos esforços de Henri... Nós sabemos das angústias que Henri viveu por causa da ameaça à sua liberdade editorial, das negociações que envolveram a aliança entre o seu jornal e o movimento político criado por Robert.
É bem verdade que o sucesso do comício, de alguma forma, animou Henri... Podemos dizer que ele não esqueceria tão cedo aqueles cinco mil rostos eufóricos... De certo modo, aquilo teve o efeito de anular em muito as suas precauções em relação ao movimento do qual não estava muito convencido.
De sua parte, Robert refletia sobre a delicada situação em que todos (graças a ele) estavam metidos. Introspectivamente sabia que o SRL não ia muito bem... Estava insatisfeito, embora entendesse que não era de uma hora para outra que o movimento ganharia o vulto de importância do antigo PS...
Continuaram a pedalar em meio à paisagem do interior... O vento contra o rosto e o cheiro do mato e das árvores, as subidas e descidas, faziam do passeio um excelente “fragmento da vida”, e Henri tornou-se satisfeito com o “preenchimento daquelas horas”... Uma paz imensa o invadiu e ele estava grato por poder contemplar montanhas, prados e florestas... Para ele, que só reconhecia sossego nos momentos de sono, a situação era diferenciada e agradável.
Então Henri tornou-se “só elogios” ao lugar. Parabenizou Anne pela ideia... À noite manifestou sua aprovação e toda gratidão a ela. Anne se animou e mostrou-lhe o mapa do percurso que fariam no dia seguinte. O moço quis verificar de perto e admirou-se com o traçado que indicava estradinhas em meio a inúmeras outras... Tudo muito bem planejado... Anne respondeu que nisso repousava a grande diversão. Acabaram de jantar num albergue e ingeriram outra forte bebida alcoólica... Mais clara, dessa vez.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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