sábado, 2 de março de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Primeira novela do primeiro dia – contada por Pânfilo – problemas do comerciante Musciatto Franzesi com os borgonheses; Ciappelletto e sua índole amoral; o contrato entre os dois; procedimentos de Ciappelleto em Borgonha e sua moléstia; imbróglio em que se meteram os dois irmãos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio.html antes de ler esta postagem:

Antes da narrativa propriamente dita, Pânfilo fez reverência ao criador de tudo o que existe... Dessa forma esperava que, em tempos tão difíceis, todos fixassem em Deus a esperança... Esperava mesmo que o grupo se lembrasse que deve louvores ao criador. E prosseguiu dizendo que, por bondade, Deus no concede a graça e a força para suportarmos os sofrimentos e cansaços da existência temporal. Completou afirmando que durante a vida os mortais se entregam aos prazeres e dedicam-se aos impulsos materiais... Mas, uma vez que se voltam a Deus, ainda que tenham se desviado dos caminhos do Bem, iludidos por forças opostas à Majestade de Deus, podem experimentar a eternidade e a beatitude porque Deus atende aos que Lhe enviam sinceras preces...
Sua novela se inicia destacando a figura de certo Musciatto Franzesi, famoso e bem sucedido comerciante da França. Empossado cavaleiro, deveria acompanhar o irmão do rei, o senhor Carlos Senterra, a uma audiência solicitada pelo papa Bonifácio... Percebendo que alguns de seus negócios necessitavam de ajustes, resolveu delegar as resoluções a diferentes pessoas... Quase tudo foi prontamente solucionado, mas restava o caso de cobranças relativas a empréstimos que fizera a borgonheses... Levando em consideração a reputação de briguentos e desleais dos de Borgonha, não sabia de ninguém que fosse mau o bastante para encarar aqueles devedores.
Depois de algum tempo, Franzesi decidiu oferecer o encargo ao senhor Ciappelletto que, apesar de baixo, era “bem proporcionado e de bom parecer”... Pânfilo explicou que faziam um trocadilho com o nome dele, e o chamavam de “senhor ciapperello”... A ideia de depreciá-lo com o apelido não era levada em conta por ele... Tratava-se de um tipo extremamente materialista... Como escrivão de notas, tinha por hábito falsificar documentos sempre que solicitado, e não tinha escrúpulos, pois era com satisfação que não puçás vezes produzia notas falsas gratuitamente... Ciappelletto dava falsos testemunhos sempre que solicitado para esse fim... Tipo distante da moral... Sentia satisfação em provocar discórdias e escândalos entre parentes e conhecidos... Não poucas vezes tomou parte em assassinatos... Não frequentava a igreja, vivia blasfemando e zombando dos sacramentos. Tinha muitos vícios! Larápio, abusado com as mulheres, mentiroso, beberrão, comilão e desonesto nos jogos de azar. Em síntese, Ciappelletto seria a encarnação do que poderia haver de pior em um ser humano.
Musciatto considerou, então, que este Ciappelletto fosse mesmo a pessoa mais preparada para fazer a cobrança junto aos borgonheses. Chamou-o e comunicou-lhe o seu intento com a promessa de ceder-lhe favores e boa paga... O notário percebeu que a partida do comerciante representava uma drástica alteração no panorama local e que os negócios diminuiriam... Isso significava também redução das oportunidades para incorrer em atos imorais. E foi isso o que pesou para que ele aceitasse o “emprego”... De posse da procuração e de cartas favoráveis do rei, partiu para Borgonha.
Praticamente desconhecido na região, executou sua tarefa mostrando-se bondoso para com todos... Instalou-se em casa de dois irmãos florentinos que, como tinham respeito pelo senhor Musciatto, estenderam a consideração ao inquilino. O tempo passou e o já idoso Ciappelletto adoeceu, sendo muito bem tratado pelos dois irmãos, que providenciaram médicos e criados... Os médicos viam que o velho adoecido estava mesmo muito mal, e que seu estado era consequência de vida muito desregrada.
Os dois irmãos pensaram sobre como deveriam proceder e se preocuparam com o fato de, mandando-o embora, caírem em descrédito junto à comunidade, pois seriam censurados por desalojarem um velho (doente e à beira da morte) contra o qual ninguém apresentava nenhuma desaprovação... Ao mesmo tempo os dois sabiam, pelos relatos médicos, que Ciappelletto, dono de biografia repleta de abusos, não teria condições de confessar-se e, sendo assim, não receberia nenhum sacramento da Igreja... Sabiam que, sem a absolvição religiosa, ele seria lançado às valas comuns... Certamente a situação provocaria uma reação violenta... As pessoas se revoltariam e gritariam impropérios contra os dois, que seriam reconhecidos como “inimigos da Igreja”... Sua casa seria invadida, seus pertences seriam roubados... Seriam implacavelmente “linchados como cães”... Ao refletirem sobre a morte que se aproximava de Ciappelletto, os dois irmãos vislumbravam as piores perspectivas possíveis.
O velho doente ouviu a conversa de seu senhorio e entendeu a confusão em que estavam metidos e, como que querendo remediar a situação, chamou-os para explicar-lhes um plano.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_4.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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