Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio.html
antes de ler esta postagem:
Antes da narrativa propriamente dita, Pânfilo
fez reverência ao criador de tudo o que existe... Dessa forma esperava que, em
tempos tão difíceis, todos fixassem em Deus a esperança... Esperava mesmo que o
grupo se lembrasse que deve louvores ao criador. E prosseguiu dizendo que, por
bondade, Deus no concede a graça e a força para suportarmos os sofrimentos e
cansaços da existência temporal. Completou afirmando que durante a vida os
mortais se entregam aos prazeres e dedicam-se aos impulsos materiais... Mas,
uma vez que se voltam a Deus, ainda que tenham se desviado dos caminhos do Bem,
iludidos por forças opostas à Majestade de Deus, podem experimentar a
eternidade e a beatitude porque Deus atende aos que Lhe enviam sinceras
preces...
Sua novela se inicia
destacando a figura de certo Musciatto Franzesi, famoso e bem sucedido
comerciante da França. Empossado cavaleiro, deveria acompanhar o irmão do rei,
o senhor Carlos Senterra, a uma audiência solicitada pelo papa Bonifácio...
Percebendo que alguns de seus negócios necessitavam de ajustes, resolveu
delegar as resoluções a diferentes pessoas... Quase tudo foi prontamente solucionado,
mas restava o caso de cobranças relativas a empréstimos que fizera a
borgonheses... Levando em consideração a reputação de briguentos e desleais dos
de Borgonha, não sabia de ninguém que fosse mau o bastante para encarar aqueles
devedores.
Depois de algum tempo, Franzesi decidiu oferecer o encargo ao senhor
Ciappelletto que, apesar de baixo, era “bem proporcionado e de bom parecer”...
Pânfilo explicou que faziam um trocadilho com o nome dele, e o chamavam de “senhor
ciapperello”... A ideia de depreciá-lo com o apelido não era levada em conta
por ele... Tratava-se de um tipo extremamente materialista... Como escrivão de
notas, tinha por hábito falsificar documentos sempre que solicitado, e não
tinha escrúpulos, pois era com satisfação que não puçás vezes produzia notas
falsas gratuitamente... Ciappelletto dava falsos testemunhos sempre que
solicitado para esse fim... Tipo distante da moral... Sentia satisfação em
provocar discórdias e escândalos entre parentes e conhecidos... Não poucas
vezes tomou parte em assassinatos... Não frequentava a igreja, vivia
blasfemando e zombando dos sacramentos. Tinha muitos vícios! Larápio, abusado com
as mulheres, mentiroso, beberrão, comilão e desonesto nos jogos de azar. Em
síntese, Ciappelletto seria a encarnação do que poderia haver de pior em um ser
humano.
Musciatto considerou,
então, que este Ciappelletto fosse mesmo a pessoa mais preparada para fazer a
cobrança junto aos borgonheses. Chamou-o e comunicou-lhe o seu intento com a
promessa de ceder-lhe favores e boa paga... O notário percebeu que a partida do
comerciante representava uma drástica alteração no panorama local e que os
negócios diminuiriam... Isso significava também redução das oportunidades para
incorrer em atos imorais. E foi isso o que pesou para que ele aceitasse o “emprego”...
De posse da procuração e de cartas favoráveis do rei, partiu para Borgonha.
Praticamente desconhecido
na região, executou sua tarefa mostrando-se bondoso para com todos...
Instalou-se em casa de dois irmãos florentinos que, como tinham respeito pelo
senhor Musciatto, estenderam a consideração ao inquilino. O tempo passou e o já
idoso Ciappelletto adoeceu, sendo muito bem tratado pelos dois irmãos, que
providenciaram médicos e criados... Os médicos viam que o velho adoecido estava
mesmo muito mal, e que seu estado era consequência de vida muito desregrada.
Os dois irmãos pensaram
sobre como deveriam proceder e se preocuparam com o fato de, mandando-o embora,
caírem em descrédito junto à comunidade, pois seriam censurados por desalojarem
um velho (doente e à beira da morte) contra o qual ninguém apresentava nenhuma
desaprovação... Ao mesmo tempo os dois sabiam, pelos relatos médicos, que
Ciappelletto, dono de biografia repleta de abusos, não teria condições de
confessar-se e, sendo assim, não receberia nenhum sacramento da Igreja...
Sabiam que, sem a absolvição religiosa, ele seria lançado às valas comuns... Certamente
a situação provocaria uma reação violenta... As pessoas se revoltariam e
gritariam impropérios contra os dois, que seriam reconhecidos como “inimigos da
Igreja”... Sua casa seria invadida, seus pertences seriam roubados... Seriam
implacavelmente “linchados como cães”... Ao refletirem sobre a morte que se
aproximava de Ciappelletto, os dois irmãos vislumbravam as piores perspectivas
possíveis.
O
velho doente ouviu a conversa de seu senhorio e entendeu a confusão em que
estavam metidos e, como que querendo remediar a situação, chamou-os para
explicar-lhes um plano.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_4.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto