sábado, 26 de janeiro de 2013

Considerações sobre Isidoro de Sevilha e sua época; um pioneiro do enciclopedismo

A propósito das postagens em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/11/mapa-de-isidoro-de-sevilha.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/11/mapa-de-isidoro-de-sevilha-comentarios.html, seguem mais essas considerações.

Isidoro de Sevilha foi o principal intelectual da Espanha ao tempo da Alta Idade Média... Sua época (560-636) foi marcada por disputa político religiosa entre os adeptos dos conceitos do arianismo defendidos pelos visigodos, e os católicos vinculados à tradição romana. Isso à parte, havia ainda as tensões provocadas pelos bizantinos que, com Justiniano, significavam séria ameaça à autonomia local.
A família de Isidoro exilou-se devido às suas diferenças em relação à monarquia visigótica... Devemos considerar que os católicos saíram-se vencedores desse confronto, tanto é que há vários registros sobre a conversão dos monarcas visigodos ao catolicismo... Os familiares de Isidoro destacaram-se por seu engajamento nesse processo.


* Vale enfatizar que vários membros de sua família exerceram importantes ministérios religiosos e foram canonizados. Isidoro tornou-se bispo de Sevilha, tendo substituído o próprio Leandro. Também o irmão mais novo de Isidoro, Fulgêncio, recebeu uma Diocese. E Florentina, irmã de Isidoro, foi uma abadessa responsável por quarenta conventos. As contribuições intelectuais de Isidoro proporcionaram-lhe a canonização em 1598; ele também foi declarado Doutor da Igreja pelo papa Inocêncio XIII, em 1722 (sobre isso, ler http://pt.wikipedia.org/wiki/Isidoro_de_Sevilha).


Os pais de Isidoro faleceram e foi o seu irmão, Leandro, quem teve de dar conta de sua formação... Ela foi marcada por clericalismo e significativos conteúdos de cultura antiga. O Tratado sobre a natureza e suas Etimologias são suas principais obras... De alguma maneira, elas revelam o teor de sua formação intelectual...
Etimologias acaba se constituindo no que podemos chamar de primeira elaboração enciclopédica entre os ocidentais, uma tentativa de sistematizar o conhecimento que se havia elaborado até então... Filosofia, Medicina, Matemática, Direito, Ciências naturais, linguagens e artes domésticas contribuíram para esse trabalho... Ciência, artes liberais e a técnica de então fundamentaram a formulação dos conceitos. A título de registro, o método utilizado por Isidoro baseia-se no “sistema platônico de organização das ideias” (a palavra define a coisa que ela designa).
Enciclopedistas posteriores sempre levaram em conta a obra de Isidoro... Os seus textos foram retomados e complementados com registros de outros naturalistas (como os de História Natural, de Plínio, o Velho; e Maravilhas do Oriente, de Solinus). Rábano Mauro, que viveu entre 780 e 856, foi um dos que retomaram o método etimológico de Isidoro.
Para Rábano, Isidoro afastou-se dos princípios da sabedoria cristã (já que fazia referências a costumes pagãos nos enunciados explicativos dos conceitos)... O racionalismo de Isidoro foi criticado... É por isso que, a vários verbetes compilados pelo seu antecessor, Rábano omitia registros não cristãos e acrescentava elementos bíblicos.
Mesmo mais tarde os naturalistas sofreram duras críticas dos que consideravam imprudente o afastamento em relação aos textos sagrados para que explicações sobre o mundo e seus fenômenos fossem organizadas em manuais... O século XII foi marcado por elaborações de enciclopédias e por esse tipo de debate... O “banco de dados” proveniente de platônicos e aristotélicos era imenso e esse contexto prenunciou o “período mais fértil” do enciclopedismo, que ocorreu durante o século seguinte. Não foram poucos os enciclopedistas do período renascentista que recorreram aos textos de Isidoro.
Enciclopédias foram redigidas em diversas línguas, e não apenas em latim (que era para nobres e membros do clero)... Elas passaram a fazer parte de importantes acervos de universidades e mosteiros...
Não há como não destacar a contribuição intelectual de Isidoro de Sevilha...
A entrada da Biblioteca Nacional da Espanha (Madri) apresenta uma grande estátua do santo, considerado o padroeiro dos historiadores.

Este texto tem como inspiração os registros de Bernard Ribémont (Enciclopédia, a chave para o amplo conhecimento), especial para História Viva, da série Grandes temas, nº41: As conquistas da Idade Média.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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