sábado, 22 de dezembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – considerações finais; mais sobre a proposta de leitura; mais (um pouco) sobre Méliès e sua história

Finalizadas as postagens sobre A invenção de Hugo Cabret, quero reforçar que a proposta de leitura possibilita bons trabalhos com os alunos, tanto do Fundamental II como do Médio...
A formatação definida pelo autor é muito interessante e sugere várias atividades. A empolgante aventura vivida por Hugo Cabret nos leva à França do início do século passado e isso é o que mais pode interessar a quem desenvolve estudos de História. Mas é claro que a ideia de selecioná-lo como “material paradidático” contempla a integração de várias áreas do conhecimento... Seu conteúdo é interdisciplinar. Sem dúvida, as várias disciplinas podem proporcionar estudos e atividades inspiradas pelo livro que, como foi sugerido em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian.html, não se apresenta enfadonho para os estudantes.
A partir do livro podemos eleger um “tema gerador” que motivará as atividades de cada aula. Apesar das limitações, a fictícia história do menino Cabret revela-nos aspectos interessantes da primeira metade do século passado: a infância das crianças europeias, filhas de trabalhadores; o movimento social de uma grande metrópole como Paris; a importância das ferrovias, estações ferroviárias (seu cotidiano) e máquinas a vapor; o ofício dos relojoeiros e “cronometristas”; engrenagens e possíveis mecanismos, como o autômato; o início da fotografia e do cinema; a engenhosidade dos mágicos e primeiros cineastas; Georges Méliès (1861-1938), sua apaixonante história e indiscutível contribuição para a “sétima arte”... Pode-se dedicar atenção especial às temáticas da mitologia grega que atraíam a menina Isabelle... Elas propiciam reflexões sobre as vidas de Hugo e Georges (notadamente o Prometeu).
Uma investigação sobre a vida de Méliès dará conta de sua fantástica trajetória... Apesar das insistências dos familiares para que permanecesse no ramo fabril de calçados, desde cedo Méliès interessou-se pela arte da magia e dos espetáculos. Vemos que dedicou sua juventude a isso e, pelo que podemos depreender, foi pioneiro de várias técnicas mais tarde aprimoradas pelo cinema. Logo percebemos que, não sem razão, o livro rende uma merecida homenagem a ele. De fato, o velho cineasta estava esquecido (e até considerado morto) no início da década de 1930... Seu sustento era extraído (como está evidenciado em A invenção de Hugo Cabret) da pequena loja de brinquedos localizada na estação de Montparnasse...
O final do século XIX e a primeira década do século XX foram marcados por intensa atividade de Méliès, que tornou-se reconhecido internacionalmente e exerceu liderança entre seus pares... Mas a indústria cinematográfica, que estava em sua “infância”, já era motivo de competições e exercia pressões e exigências (Thomas Edison é personagem desses acontecimentos) sobre tipos como Méliès... O nosso incansável produtor independente sucumbiu devido às exigências de produção em grande escala e às inevitáveis dívidas que contraía.
Mas o pior dos golpes foi a eclosão da Primeira Guerra... Informações dão conta de que suas instalações (Théatre Robert-Houdin) foram tomadas pelo Exército francês e transformadas em hospital para os soldados feridos. Além disso, centenas de seus filmes foram derretidas pelos militares que, com isso, pretendiam extrair a prata e a celulóide concentradas nas películas... A matéria-prima dos filmes também foi utilizada para a confecção de saltos de sapatos e, certamente, botas para soldados... Lamentavelmente, essa tragédia abalou Méliès, que queimou vários de seus filmes e cenários. Ele “desapareceu” do convívio social... Brian Selznick evidenciou a angústia de nosso personagem nos seus protestos contra o barulho dos saltos nas calçadas de Paris no momento em que era seguido pelo menino Cabret e em sua insistência em não permitir calçados no apartamento onde vivia.
No final da década de 1920, dez anos após o final dos conflitos, Méliès foi “redescoberto” por pesquisadores... Reconhecido e reverenciado por Louis Lumière (considerado um dos “pais do cinema”) foi agraciado em 1931 com o Legião de Honra, premiação que lhe rendeu algum dinheiro e reconhecimento... Já no final de A invenção de Hugo Cabret lemos a referência a esses importantes episódios...
Poucos anos depois, Méliès foi acometido por grave doença e faleceu em Paris. Brian Selznick, como que incorporando o Professor Alcofrisbas, produziu o texto que revela tudo isso que foi registrado no terceiro parágrafo e um pouco da história do genial Georges Méliès. Assim, o livro (com suas ilustrações e palavras) exerce magia semelhante à produzida pelo autômato.
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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