domingo, 23 de dezembro de 2012

Filme: A Invenção de Hugo Cabret – considerações

Há este filme A Invenção de Hugo Cabret, dirigido por Martin Scorsese. Teve considerável bilheteria em 2011 e a crítica geral o avaliou positivamente. É possível obter algumas opiniões a respeito em sites voltados para o entretenimento... Podemos notar que as pessoas que acessam as dicas, e dão opiniões a respeito de filmes, recomendam A Invenção de Hugo Cabret... Há, inclusive, quem o considere “o melhor filme de 2011”.
Assisti ao filme nesta última semana... Podemos dizer que as partes técnicas (como os efeitos e cenários que reproduzem a época), além das interpretações, estão muito boas... Mas as pessoas que leram o livro de Selznick talvez não sejam tão generosas em suas avaliações sobre o filme... Muitos dirão que os filmes são “releituras” e não têm como interesse final a reprodução do texto em que se baseiam...
Polêmica à parte, devemos levar em conta que, no geral, o pessoal entendeu o filme como grande homenagem a Méliès e ao cinema do começo do século XX.
Então vamos indicar o filme, vamos indicar o livro... Vamos estabelecer relações e comparações. Ambos suscitam pesquisas... Isso tudo faz parte. Livro e filme tornam-se objetos de estudo. Por que não? Você que apenas assistiu ao filme, leia o livro... O outro, que apenas leu, procure o filme.
Não há como não destacar aqui algumas observações que levam em conta detalhes que sobressaem da comparação entre os resultados (versões fictícias daqueles acontecimentos que marcaram a vida de Georges Méliès em 1931) dos dois gêneros... É claro que este blog tratou do livro e "resenhou" seu enredo, então, de certa forma, a checagem de informações neste caso é mais fácil (preferencialmente ler o livro)... Sobre o filme, apenas algumas considerações. Então, o mais indicado é assisti-lo.
No filme vemos o inspetor da estação contar com um cão enorme e feroz (Maximilian) no combate aos maltrapilhos, larápios e órfãos que circulam pelo ambiente; o homem é retratado como um tipo atrapalhado (também devido a um aparelho que carrega junto à perna; há um momento em que é arrastado por uma composição ferroviária) e apaixonado por uma florista da estação.
O livro leva-nos a imaginar um inspetor severo e disciplinado em seu ofício (é bem verdade que o filme também deixa a mesma impressão), mas nele não há nenhuma referência à florista ou ao aparelho ortopédico. O filme mostra o inspetor trocando ideias com um dos agentes policiais sobre a vida conjugal deste; no livro não há esse diálogo.
Na história narrada por Selznick, o inspetor invadiu os aposentos utilizados por Hugo no momento em que o garoto recolhia o autômato para levar até Méliès... O menino, que estava com a mão direita machucada, não suportou o ataque físico do inspetor e o boneco mecânico caiu... Vemos inspetor espantado com o objeto e (mais tarde) também com a explicação que Hugo deu sobre o seu cotidiano nos ajustes dos relógios da estação... Na versão cinematográfica, o menino não sofreu nenhum machucado na mão e, quando foi descoberto e perseguido pelo inspetor, correu pela estação com o autômato até cair nos trilhos.
No livro, a senhora Emille (dona do café) e o senhor Frick (jornaleiro) são fundamentais para a revelação dos furtos e atividades secretas de Hugo pelos relógios da estação. Não notamos isso no filme... Também a fantasia (que no livro aparece sustentada por Emille) em torno da morte de Claude e seu fantasma foi desprezada pelo filme.
O personagem Etienne inexiste no filme... Este amigo da pequena Isabelle só aparece no livro. Sabemos que ele foi fundamental na trama. Ele possibilitou o acesso de Hugo à biblioteca da Academia de Cinema e o contato com o professor Tabard.
O texto “constrói” um órfão inteligente e determinado, mas também (não fosse pela amizade de Isabelle) quase abandonado à própria sorte... Maltrapilho e faminto, o menino é descrito como mal vestido e sujo (também por isso não recebeu autorização da senhora Maurier para utilizar a biblioteca da Academia de Cinema). Somado a isso, o machucado na mão direita completa um quadro digno de piedade daquele que sofre de dores... Certamente a imagem que temos do menino Cabret revelada pelo filme não é a mesma.
O filme mostra Hugo com a habilidade de abrir fechaduras com um grampo... É dessa forma que ele escapa da cela do gabinete do inspetor... Mas não é assim no livro. Hugo não tem a referida habilidade, e na ocasião citada aguardou com angústia até que a grade fosse novamente aberta para poder fugir... O texto de Selznick atribui a Isabelle essa arte de “destravar os trincos”. Para a surpresa de Hugo, ela faz isso em vários momentos (inclusive revelando o baú onde estavam os vários desenhos de Georges Méliès)... O livro apresenta uma garota autônoma, muito inteligente e cheia de iniciativas.

A cena em que Hugo segue Georges à noite, atravessando o cemitério retrata bem o que imaginamos quando lemos o livro... Mas não entendi por que o filme elimina as reclamações de Méliès contra as batidas das solas dos sapatos de Hugo no piso... Isso instigaria as pessoas a conhecerem um pouco de sua biografia.
Também não seria demais o filme explorar um pouco das referências à mitologia grega que aparecem no livro. O filme mostra de relance a pintura do Prometeu na Academia de Cinema, mas não promove nenhuma reflexão sobre a mesma... As condições existenciais de Hugo e Georges Méliès são tão bem “alinhavadas” pelo texto que acabamos esperando o mesmo do filme.
Indicação (livre)
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 22 de dezembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – considerações finais; mais sobre a proposta de leitura; mais (um pouco) sobre Méliès e sua história

Finalizadas as postagens sobre A invenção de Hugo Cabret, quero reforçar que a proposta de leitura possibilita bons trabalhos com os alunos, tanto do Fundamental II como do Médio...
A formatação definida pelo autor é muito interessante e sugere várias atividades. A empolgante aventura vivida por Hugo Cabret nos leva à França do início do século passado e isso é o que mais pode interessar a quem desenvolve estudos de História. Mas é claro que a ideia de selecioná-lo como “material paradidático” contempla a integração de várias áreas do conhecimento... Seu conteúdo é interdisciplinar. Sem dúvida, as várias disciplinas podem proporcionar estudos e atividades inspiradas pelo livro que, como foi sugerido em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian.html, não se apresenta enfadonho para os estudantes.
A partir do livro podemos eleger um “tema gerador” que motivará as atividades de cada aula. Apesar das limitações, a fictícia história do menino Cabret revela-nos aspectos interessantes da primeira metade do século passado: a infância das crianças europeias, filhas de trabalhadores; o movimento social de uma grande metrópole como Paris; a importância das ferrovias, estações ferroviárias (seu cotidiano) e máquinas a vapor; o ofício dos relojoeiros e “cronometristas”; engrenagens e possíveis mecanismos, como o autômato; o início da fotografia e do cinema; a engenhosidade dos mágicos e primeiros cineastas; Georges Méliès (1861-1938), sua apaixonante história e indiscutível contribuição para a “sétima arte”... Pode-se dedicar atenção especial às temáticas da mitologia grega que atraíam a menina Isabelle... Elas propiciam reflexões sobre as vidas de Hugo e Georges (notadamente o Prometeu).
Uma investigação sobre a vida de Méliès dará conta de sua fantástica trajetória... Apesar das insistências dos familiares para que permanecesse no ramo fabril de calçados, desde cedo Méliès interessou-se pela arte da magia e dos espetáculos. Vemos que dedicou sua juventude a isso e, pelo que podemos depreender, foi pioneiro de várias técnicas mais tarde aprimoradas pelo cinema. Logo percebemos que, não sem razão, o livro rende uma merecida homenagem a ele. De fato, o velho cineasta estava esquecido (e até considerado morto) no início da década de 1930... Seu sustento era extraído (como está evidenciado em A invenção de Hugo Cabret) da pequena loja de brinquedos localizada na estação de Montparnasse...
O final do século XIX e a primeira década do século XX foram marcados por intensa atividade de Méliès, que tornou-se reconhecido internacionalmente e exerceu liderança entre seus pares... Mas a indústria cinematográfica, que estava em sua “infância”, já era motivo de competições e exercia pressões e exigências (Thomas Edison é personagem desses acontecimentos) sobre tipos como Méliès... O nosso incansável produtor independente sucumbiu devido às exigências de produção em grande escala e às inevitáveis dívidas que contraía.
Mas o pior dos golpes foi a eclosão da Primeira Guerra... Informações dão conta de que suas instalações (Théatre Robert-Houdin) foram tomadas pelo Exército francês e transformadas em hospital para os soldados feridos. Além disso, centenas de seus filmes foram derretidas pelos militares que, com isso, pretendiam extrair a prata e a celulóide concentradas nas películas... A matéria-prima dos filmes também foi utilizada para a confecção de saltos de sapatos e, certamente, botas para soldados... Lamentavelmente, essa tragédia abalou Méliès, que queimou vários de seus filmes e cenários. Ele “desapareceu” do convívio social... Brian Selznick evidenciou a angústia de nosso personagem nos seus protestos contra o barulho dos saltos nas calçadas de Paris no momento em que era seguido pelo menino Cabret e em sua insistência em não permitir calçados no apartamento onde vivia.
No final da década de 1920, dez anos após o final dos conflitos, Méliès foi “redescoberto” por pesquisadores... Reconhecido e reverenciado por Louis Lumière (considerado um dos “pais do cinema”) foi agraciado em 1931 com o Legião de Honra, premiação que lhe rendeu algum dinheiro e reconhecimento... Já no final de A invenção de Hugo Cabret lemos a referência a esses importantes episódios...
Poucos anos depois, Méliès foi acometido por grave doença e faleceu em Paris. Brian Selznick, como que incorporando o Professor Alcofrisbas, produziu o texto que revela tudo isso que foi registrado no terceiro parágrafo e um pouco da história do genial Georges Méliès. Assim, o livro (com suas ilustrações e palavras) exerce magia semelhante à produzida pelo autômato.
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 16 de dezembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Menocchio explica sua cosmogonia; o interrogatório o leva a explicar Deus e a origem de tudo o que há no mundo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/12/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html antes de ler esta postagem:

O inquisidor quis esclarecimentos a respeito da cosmogonia de Menocchio antes que pudesse concluir o processo... Assim, a confusão de ideias manifestada pelo moleiro foi o foco do interrogatório que se deu a 12 de maio de 1584.
A primeira questão foi relativa à contradição do moleiro, que em determinada resposta havia declarado a coexistência Deus-caos, mas em outra havia dito que Deus tinha surgido do caos... Em resposta a isso, Menocchio disse que Deus é eterno com o caos, ”mas não conhecia a si próprio e nem era vivo”... Tendo depois “se conhecido”, Deus teria “sido feito do caos”.
Outra questão era sobre a informação de Menocchio sobre Deus ser dotado de intelecto... Então, como é que de início não conhecia a si mesmo? O que fez com que passasse a se conhecer? O que fez com que Ele se tornasse vivo? O interrogado disse que, com Deus, ocorreu o que acontece a todas as coisas de nosso mundo que vão da imperfeição, e/ou estágio simplificado, a uma condição perfeita e mais complexa... Como exemplo, citou a passagem das crianças da condição pré-natal (quando não compreendem a vida) para a de nascidas e aptas ao crescimento e à compreensão das coisas.
A partir dessa resposta, o inquisidor quis saber se esse intelecto divino conhecia todas as coisas e seus detalhes... Menocchio disse que sim, havia o conhecimento de todas as coisas que deveriam ser feitas, e que sabia do homem, mas sem conhecer todos os que nasceriam a partir deste... E deu o exemplo dos pastores que sabem de quais animais de seu rebanho nascerão outros, mas não sabem nada a respeito dos que nascerão... Portanto, admitiu Menocchio, “Deus via tudo” sem saber maiores detalhes do que ainda estava por ocorrer.
Então o inquisidor perguntou de onde o “intelecto divino”, que tinha conhecimento de todas as coisas, teria recebido tais informações... De sua própria essência ou de outra parte? Menocchio respondeu que era o caos que transmitia o conhecimento... Nele todas as coisas estavam confundidas... Mas na sequência esse “intelecto divino” recebeu ordem e compreensão do caos... Aos poucos, tudo (ar, terra, água e fogo) pôde ser distinguido.
Perguntado se Deus não possuía vontade e poder antes que fizesse todas as coisas, Menocchio falou que, em Deus, vontade e poder cresciam na medida em que (Nele) crescia o conhecimento... Depois dessa afirmação, ele explicou que poder e querer são distintos. E exemplificou com situações práticas de nossa existência (o caso do carpinteiro que pretende fazer um banco e que, para isso, precisa de instrumentos e madeira, pois, sem isso, sua vontade é inútil). Sintetizou dizendo que, além do querer, é preciso poder... E assim também é com Deus.
O “poder de Deus”, de acordo com Menocchio, manifestava-se na sua condição de “operar através de trabalhadores”... O inquisidor entendeu que esses “trabalhadores” seriam os anjos, mas perguntou se eles teriam sido feitos por Deus... Menocchio respondeu que eles foram feitos pela natureza, da “mais perfeita substância do mundo”, “assim como os vermes nascem do queijo”... Deus os abençoou e eles “receberam vontade, intelecto e memória de Deus”... E (perguntado que foi) Menocchio completou que Deus poderia ter feito todas as coisas sozinho, mas contou com a ajuda dos anjos e (assim como aquele que sabe construir sua casa recebe o auxílio de ajudantes) tudo se fez em menos tempo.
O inquisidor quis saber se Deus teria feito tudo o que há no mundo se não tivesse existido a substância que deu origem aos anjos... Menocchio respondeu que Deus nada faria se não existisse matéria... Ele ainda teve de explicar sobre a natureza e essência de Deus em relação ao “espírito ou anjo supremo” (o Espírito Santo)... Então, como que a estabelecer uma hierarquia, Menocchio seguiu dizendo que a substância de Deus é a mais perfeita, embora os anjos sejam provenientes da mesma essência... Deus é a luz mais perfeita, e sua substância não é a mesma do Espírito Santo... Cristo é de substância inferior em relação a Deus e ao Espírito Santo... Com essas afirmações, e indagado que foi, Menocchio explicou ainda qual das entidades era a mais poderosa.
Por último vemos o inquisidor perguntando se Menocchio podia explicar se Deus foi feito ou produzido por alguém... Ele respondeu que Deus não foi produzido por outros, mas seu movimento se deve às mudanças do caos, e ocorre da imperfeição para a perfeição... Então, o que move o caos? Menocchio garantiu que ele se move sozinho.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/01/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 15 de dezembro de 2012

“Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder – a presença de tia Helena na casa atordoa Joakim; ele tenta esconder Mika; Mika se mostra curioso pelo planeta onde o amigo vive

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/12/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder.html antes de ler esta postagem:

A campainha tocou... Tia Helena chegou e Joakim viu-se em apuros... Mika, o seu amigo ET, devia ser escondido. Estava claro que tia Helena se espantaria e certamente ficaria amedrontada... A mulher estranharia a presença de outra criança na casa àquela hora... E não era só isso... Era notório que o menino se diferenciava das demais crianças... Sua pele, olhos e boca chamariam a atenção dela. E se ela o visse dar aqueles saltos estranhos?
Joakim precisava convencer o seu sensível amigo a se retirar dali... Então sugeriu que brincassem de esconde-esconde... De algum modo, Mika parece ter entendido a sugestão porque aquietou-se... Ao abrir a porta para a tia Helena, ouviu protestos sobre a sua demora... Além disso, ela quis saber por que o sobrinho estava todo sujo (esbranquiçado pela farinha)... Ao ouvir as perguntas, Joakim inclinou-se duas vezes e respondeu que era um hábito da casa reverenciar sempre que alguém fazia perguntas inteligentes. Sem dar importância a essas palavras, Helena levou-o ao banheiro para limpá-lo da farinha... A desculpa que ele conseguiu arranjar foi a de que se sujou tentando preparar panquecas. Sensibilizada, a mulher prometeu que prepararia panquecas para o almoço.
Joakim seguiu para a parte de cima da casa e viu que Mika não havia tentado se esconder... Em vez disso, estava entretido com uma lente e um livro de dinossauros. Notando que o outro não tirava os olhos do livro, Joakim iniciou uma conversa sobre os dinossauros e explicou que eles já não existiam. O ET perguntou se eles haviam se desenvolvido até se tornarem humanos. Diante de pergunta tão difícil, o garoto nem se lembrou da reverência... Depois Mika quis saber o que eram os sinais (as letras) impressos nas folhas do livro... Ele esforçava-se para “captar alguma mensagem”, mas isso era-lhe impossível. Joakim não sabia como explicar o que eram os sinais, mas decidiu ler em voz alta para o amigo... A partir das informações do livro, iniciaram uma conversa sobre os mamíferos... Joakim estava pronto para falar um pouco sobre isso, porém notou que tia Helena preparava-se para subir a escada...
Antes que isso acontecesse, Joakim desceu e deu a desculpa de que iria brincar no jardim... Notou que a tia funcionava o aspirador de pó para limpar a farinha espalhada pela cozinha e por toda a casa... O menino concluiu que o barulho do aparelho assustaria Mika, e é por isso que retornou às pressas ao quarto... O outro já estava com as mãos a taparem os ouvidos... Aproveitando que a tia estava muito envolvida em seus afazeres, Joakim conseguiu sair com o amigo sem que ela os notasse...
No gramado, Mika voltou a dar saltos de canguru e parecia maravilhado com a experiência... Joakim concluiu que o lugar não era seguro porque de qualquer janela da casa podiam ser observados, então decidiu que seguiriam para o mar... Desde que saíra do quarto, Mika não largava a lente de aumento que utilizou para explorar as gravuras dos livros... Com ela, seguia admirado e investigando as curiosidades do caminho, como um pé de groselhas, outros arbustos e flores...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2013/01/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder-ao.html
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – de modo enviesado, os inquisidores souberam da cosmogonia de Menocchio; quiseram conhecê-la mais detalhadamente

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_28.html antes de ler esta postagem:

No dia 7 de fevereiro de 1584, Menocchio falou que no princípio havia um caos... Os elementos terra, ar, fogo, ar e água eram misturados... Na ocasião em que o moleiro discorria sobre as viagens de Mandeville, o vigário-geral quis saber se o livro não tratava do caos... Mas o interrogado respondeu que sobre isso havia lido no Fioretto della Bibbia...
Ginzburg explica que o Fioretto não trata exatamente desse caos aludido por Menocchio. Em seu capítulo IV (Como Deus criou o homem a partir dos quatro elementos) lê-se que no princípio Deus fez uma “grande matéria” sem forma... A fez em tal quantidade que dela podia “tirar ou fazer” o que quisesse... E foi dela que “retirou o homem formado”. Ginzburg revela aí que Elucidarium, de Honório d’Autum pode ter sido sua fonte para essas interpretações, já que este texto aglutina metafísica com astrologia, e teologia com a “doutrina dos quatro temperamentos”.
Caos é um termo, no mínimo, desconhecido pelas pessoas comuns que faziam parte dos círculos de Menocchio... O Fioretto não trata exatamente de caos e outra possibilidade (mais provável) é que ele conhecesse a ideia a partir de Supplementum Supplementi delle croniche, do ermitão Jacopo Foresti, em que se lê sobre a teoria de que o princípio do planeta teria sido marcado por matéria ”grande e indigesta”, “incerta e inerte”, que reunia “num mesmo círculo” as sementes “discordantes de coisas não bem combinadas”. Ovídio e vários filósofos chamam a essa realidade de caos... Em Supplementum, Foresti apresenta uma cosmogonia que se aproxima dessa teoria... Deus existia em potencial nesse caos e, a partir dele, criou tudo o que existe.
Tendo-se apropriado dessas ideias, Menocchio sentiu-se impulsionado a ensiná-las a todos os que cruzavam o seu caminho... Depoimentos colhidos durante os processos dão conta de que ele explicava que “o mundo era nada” no princípio e que a água do mar (de tanto que se agitou) formou densa espuma... Tal como o queijo se forma do leite e dá origem a vermes... Daquela situação primordial teriam se formado os humanos, dentre os quais Deus que, sendo mais potente e sábio, exerceu poder sobre os demais (que lhe dedicaram obediência).
Os juízos expressos no parágrafo anterior não podem ser atribuídos em sua íntegra e sentido a Menocchio. É que Povoledo (que foi quem deu esse testemunho) relatou o que ouvira de um amigo “oito dias antes”, “caminhando pela rua, indo para o mercado de Pordenone”... Esse amigo teria contado o que ouviu de um conhecido que “havia falado com Menocchio”.
Ginzburg ressalta que, em seu primeiro interrogatório, Menocchio não falou exatamente naqueles termos... Disse que, de acordo com o seu pensamento, tudo era um caos... E que todo aquele volume em movimento “resultou numa massa, assim como o queijo se faz do leite”, “e do qual surgem os vermes”, e esses seriam os anjos... Deus também teria sido criado daquela massa e no mesmo momento... Deus teria sido o mais potente dos “anjos-homens”... Essa ideia e a ideia de caos (como afirmado anteriormente, desconhecida pelas pessoas comuns com as quais Menocchio convivia) haviam sido modificadas e não expressavam com exatidão o “pensamento de Menocchio”... O “modo Menocchio de pensar” foi passado e repassado pelas conversas... As autoridades inquisitoriais ouviram, então, que o processado havia dito que “no princípio este mundo era nada”... Também a “metáfora da espuma formada a partir da água do mar em constante movimento contra as praias e rochedos” não fazia parte do enredo narrado pelo moleiro.
O vigário-geral quis saber o que era a “Santíssima Majestade” que aparecia na cosmogonia de Menocchio... Ele respondeu que a entendia como o “Espírito de Deus, que sempre existiu”... Em outra ocasião explicou que, no dia do Juízo, todos “serão julgados por aquela Santíssima Majestade (...) que existia antes que existisse o caos”... Os depoimentos de Menocchio seguiam mesclando Deus, Santíssima Mejestade e Espírito Santo, mas a essência de sua cosmogonia permanecia... É claro que essa interpretação suscitava muita curiosidade e interrogações das autoridades, que queriam saber de Menocchio se Deus sempre estivera no caos... A isso o interrogado respondeu afirmativamente e confirmou que acreditava que nunca estiveram separados, “nem o caos sem Deus, nem Deus sem o caos”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/12/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_16.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick - o fim

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/12/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian.html antes de ler esta postagem:

Seis meses depois daqueles episódios em que Georges Méliès e sua afilhada Isabella retiraram o menino Cabret da trama que o colocava sob a guarda do inspetor da estação e da polícia, a situação de nossos personagens mudou muito... As páginas do livro nos fazem "notar" o garoto bem vestido e instalado num aposento do apartamento de Méliès... Todos sabiam de sua importante participação na revelação de tão importante fato para a história do cinema... Vemos Hugo pronto para uma noite de gala.
Tabard conseguiu que a Academia de Cinema entregasse uma recompensa em dinheiro para o velho cineasta como forma de reconhecimento por sua vasta obra... Georges Méliès foi generoso com o garoto, que passou a ser membro de sua família. Graças a isso, teve oportunidade de voltar à escola e ao convívio dos amigos Antoine e Louis. Desde as mudanças, Hugo vinha conseguindo fazer o que mais gostava (construir brinquedos com peças de relógio), além disso, começou a frequentar o cinema na companhia de Isabelle com regularidade...
Seu quarto era bem organizado e nesse ambiente podia ler vários livros que conservava... Nas prateleiras também podiam ser muitos brindes que ele colecionou por ocasião da Exposição Mundial na cidade. As peças que Bruno mais valorizava eram o autônomo (consertado por ele e Méliès) e o caderninho de desenho de seu pai.
(...)
Todos se arrumaram para a noite de gala... Hugo não se esqueceu de levar cartas de baralho e objetos para truques de mágica... Isabelle não largava uma câmera fotográfica que havia ganhado do tio, e com ela garantia fotografias de todos... O velho Georges estava dignamente trajado e, sobre o seu terno, ostentava a antiga capa, que havia sido reparada por Jeanne... A noite era de celebração da vida e obra de Georges Méliès, um evento promovido pela Academia de Cinema... Não foi por acaso que Isabelle reservou quantidade maior de rolos de filmes antes de serem conduzidos por automóveis encomendados especialmente para eles.
Méliès estava visivelmente emocionado ao chegar ao local e comentou a respeito do quadro que havia pintado há muitos anos para a Academia... Logo que Hugo deu a entender que sabia da obra, Georges explicou que era alusivo ao mito de Prometeu... Notando que as crianças conheciam a história, emendou que ao final suas correntes foram partidas e ele se tornou livre novamente.
No auditório, Tabard fez as apresentações destacando a homenagem a Georges Méliès. Falou da sua importância como pioneiro do Cinema, e que seus filmes (e ele próprio) eram dados como "definitivamente desaparecidos"... Neste ponto do discurso, destacou o trabalho de Etienne e da ajuda das duas crianças no trabalho de pesquisa em depósitos, arquivos e coleções particulares... Enfatizou que recuperaram mais de oitenta filmes, além de descobrirem material inédito ainda por revelar...
Tabard foi muito aplaudido ao anunciar o “Universo de Georges Méliès”. Na sequência as luzes se apagaram e os filmes recuperados foram exibidos um após o outro... Várias ilustrações são apresentadas e elas dão conta do que a platéia assistiu... Criaturas marinhas contracenando com humanos no fundo do oceano; figuras angelicais sobre os telhados de uma cidade numa fria noite de muita neve; uma mulher com uma estrela de grande cauda ornando sua cabeça; uma carruagem puxada por um estranho cavalo...
Uma viagem à Lua foi o último filme da sessão... Isabelle se emocionou e ouviu com atenção o tio Georges ser chamado ao palco e proferir um pequeno discurso em que disse que aqueles convidados elegantemente vestidos eram vistos por ele como “bruxos, sereias, viajantes, aventureiros e magos”. Os via como sonhadores... A cerimônia chegou ao fim e alguns convidados seguiram para um restaurante... Ali Isabelle fez várias fotografias e Hugo exibiu-se com seus truques de mágica que atraíam várias pessoas.
É neste momento que Georges Méliès apresenta o menino como Professor Alcofrisbas... Hugo quis saber de onde vinha aquele nome e Méliès explicou que se tratava de um personagem de vários de seus filmes, nos quais aparecia como explorador, alquimista, mágico, assim como o menino Cabret...
(...)
Ao final Hugo mostra que havia, então, “encarnado” o Professor Alcofrisbas. Concordou que o autômato havia salvado sua vida... E que a transformação permitiu-lhe construir um novo "autômato" (o livro)... Um objeto que podia contar essa história narrada (cento e cinquenta e oito ilustrações, vinte e seis mil cento e cinquenta e nove palavras)... A última sequência de ilustrações nos apresenta a grande Lua cheia sendo tomada, aos poucos, por uma escuridão total.
É o fim.
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

sábado, 8 de dezembro de 2012

“Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder – Joakim fica sabendo que a tia Helena chegará em breve; Mika faz bagunça na cozinha; reage histericamente à interrupção de sua diversão; diz que estar sonhando

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O telefone tocou... Mika demonstrou-se mal humorado... Assustou-se e disse que havia “um barulho em seu ouvido”... Joakim tentou explicar da melhor maneira que conseguia que a situação não era de desesperar ninguém. O garoto entrou em casa para atender à chamada... Era o pai que queria saber como o filho estava se virando com a solidão... Procurou tranquiliza-lo dizendo que logo a tia Helena chegaria.
É claro que Joakim começou a pensar sobre a circunstância que vivenciaria com a chegada da tia... Mas não chegou a concluir sobre qualquer alternativa porque sua visita também decidiu entrar e dirigir-se à cozinha... Ali Mika derrubou um saco de farinha, que se espalhou e tornou o ambiente esbranquiçado... Joakim observou tudo pacientemente enquanto dava um jeito de se despedir do pai e, dizendo que estava tudo bem, desligou o telefone... O garoto olhou à sua volta e viu que o amigo espacial havia provocado um tumulto que não passaria despercebido pela tia Helena.
Joakim viu que devia fazer alguma coisa, mas notava que o outro dava saltos e praticamente flutuava em meio à nuvem de farinha... Então perguntou o que ele estava fazendo... Naturalmente Mika não entendia o que podia haver de errado na situação, se limitou a rir... Estava se divertindo... Joakim pegou-o pela cintura e o colocou no chão. Mika começou a chorar... Sua lamentação tornou-se aterrorizante, pois começou a gritar com intensidade cada vez maior... Preocupado, Joakim tentou mudar o humor do outro, mas estava difícil. Então fez as mais diversas caretas, saltou em uma perna só, imitou galos... Notou que, além de parecer bobo, não conseguia silenciar o amigo. Pegou um punhado de farinha e jogou para o alto, mas os decibéis da gritaria alcançaram os maiores índices...
Quase que ao acaso, Joakim começou a fazer cócegas na cabeça de Mika... Então ele se acalmou. Joakim imaginou ter encontrado a fórmula definitiva para a histeria de Mika, parou com as cócegas... Então o outro reiniciou sua choradeira e gritaria. Joakim recorreu às cócegas na nuca e carinho no rosto do amigo... E foi assim que o silêncio voltou à cozinha.
Calmamente, Joakim explicou ao amigo do espaço que em seu planeta não podiam desperdiçar comida... Mika respondeu que, ali, tudo para ele era um sonho e, sendo assim, "tudo podia"... O menino terráqueo falou que o outro não podia estar sonhando porque ele morava ali e estava bem acordado... Então Joakim ouviu que Mika precisava retornar logo ao seu planeta antes que acordasse, sob o risco de não encontrar mais o caminho de volta para casa.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/12/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder_15.html
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 2 de dezembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – Hugo passa por um tremendo apuro na estação; revela ao inspetor e a policiais a sua história de permanência nos aposentos do tio Claude; Georges Méliès acolhe o menino Cabret

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_30.html antes de ler esta postagem:

Hugo foi levado para a cela onde o inspetor detinha os que provocavam confusões e furtos na estação. Ele garantiu à senhora Emille e ao senhor Frick que o menino não escaparia dali. Depois de se despedir dos lojistas, o inspetor ligou para a delegacia de polícia e na sequência disse que era melhor Hugo confessar porque voltaria com outras pessoas que podiam ser mais ríspidas do que ele.
Uma ilustração de duas páginas nos mostra o menino apreensivo e acuado no interior da jaula... Em seu pensamento surgiam hipóteses acerca de seu futuro... Talvez fosse encaminhado para a polícia, ou para um orfanato... Nunca mais veria Isabelle e nem Georges Méliès... Assim, um bom tempo se passou até que o inspetor retornasse ao seu gabinete com dois policiais. Um deles intimidou o menino dizendo que se ele não quisesse falar, seria encaminhado para a delegacia. Ao abrirem a cela, o menino Cabret viu a oportunidade de escapar novamente, e foi isso o que fez, seguindo para a estação.
A estação estava lotada e, em sua fuga, Hugo esbarrava nas pessoas... Sem ter noção de para onde seguir, o menino acabou sendo derrubado por pessoas apressadas... Suas dificuldades aumentaram porque ele caiu sobre sua mão machucada... Sofrendo de dores (e muito confuso) pretendia alcançar a saída, mas acabou caindo sobre os trilhos. Foi por pouco... Uma enorme composição automotiva seguia em sua direção... O garoto estava sem forças para reagir, então ficou imóvel vendo o colosso aproximar-se para decretar o seu trágico fim. Uma sequência de ilustrações mostra-nos o trem se aproximando ao mesmo tempo em que o maquinista freava para evitar o pior... Vemos que no último instante, Hugo foi puxado pelo seu casaco. Um vapor tremendo foi liberado sem que os passageiros percebessem qualquer incidente, já que esses estavam chegando ao seu destino.
O menino ficou novamente sob o poder do inspetor e dos policiais, que o algemaram... Ele estava zonzo e sofrendo de dores...
Nova sequência de ilustrações mostram-nos como que uma visão do garoto. Da mais completa escuridão surgem estrelas, uma meia Lua e um cometa daqueles dos painéis de tecido de Méliès... Aos poucos eles vão se tornando cada vez mais claros e então sabemos que o menino abria os olhos... Ele estava vendo a capa de Uma viagem à Lua que Méliès estava usando. O velho cineasta chegou ao gabinete do inspetor acompanhado de Isabelle... Foi ela quem teve a ideia de seguir até a estação para procurar o amigo.
O inspetor explicou que Hugo foi flagrado roubando leite, era acusado de outros furtos na estação, e devia explicações sobre a utilização do apartamento do cronometrista, e a posse dos cheques-salários do funcionário desaparecido... A senhora Emille e o senhor Frick também estavam presentes no gabinete do inspetor... O menino sentia-se pressionado, mas o velho Georges o tranquilizou e pediu-lhe que contasse o que sabia.
Então o menino Cabret contou ao inspetor que o cronometrista Claude era seu tio e que ele era o seu aprendiz... Falou sobre os hábitos etílicos do tio e que ele havia desaparecido... Revelou que desde então tinha de manter os relógios funcionando, e fazia isso em segredo... Contou que eventualmente roubava leite e croissants para não passar fome.
Depois disso, o inspetor soltou uma gargalhada julgando absurda a história que acabara de ouvir. Ele não acreditava que um garoto franzino como aquele pudesse manter os enormes relógios funcionando... Até então, o inspetor não sabia da morte de Claude... Foram a senhora Emille e o senhor Frick que confirmaram o ocorrido.
Ao inspetor restava saber o que era aquele objeto estranho que Hugo tentava subtrair do apartamento... Hugo explicou que não estava roubando e que, como deixou o boneco cair, ele estava quebrado novamente... Neste ponto o velho Georges interveio em favor do menino, dizendo que “ninguém pode roubar o que já lhe pertence”...  Disse ainda que os dois consertariam a máquina novamente e que daria um jeito de pagar à senhora Emille pelo leite e croissants roubados.
Nova sequência de ilustrações mostram Georges Méliès envolvendo as duas crianças em sua capa e se retirando daquele ambiente... Vemos o rostinho de Hugo recuperar uma fisionomia de satisfação.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/12/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_10.html
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 1 de dezembro de 2012

“Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder – as perguntas podem ser mais valiosas do que respostas “inteligentes ou corretas”; pontos de vista diversos merecem nossa consideração

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder-uma.html antes de ler esta postagem:

Chupando o polegar, Mika quis saber por que Joakim “estava de cabeça para baixo”... Joakim exclamou dizendo que era o outro que se encontrava “de ponta cabeça”... Para Joakim o ponto de vista de Mika era bem o contrário do seu, tanto é que o garoto recém-chegado pedia ajuda para “subir até o chão desse planeta”... Depois de os dois se encontrarem na mesma posição, Mika fez comentários sobre “subir” e “descer”. O menino que veio do espaço fez referências à nossa Lua e questionou Joakim sobre o que os de seu planeta diziam quando pretendiam viajar até aquele satélite... Dizer que “subiam” para a Lua devia encontrar afirmação diferente para relatar o destino final, pois, na verdade, as pessoas “desciam” à Lua... Mika argumentou que, do espaço, “subia” até o nosso planeta.
O garoto do espaço experimentou a grama... Naturalmente Joakim achou isso inusitado e ofereceu-lhe uma maçã, que foi mordida pelo interessante visitante. Joakim perguntou se o outro gostou do que provou... Mika fez uma reverência... Joakim quis saber o porquê daquele gesto e ouviu de Mika que em seu planeta as perguntas inteligentes são reverenciadas. Joakim sabia que entre nós a reverência é um cumprimento... Seu novo amigo disse que, então, isso (a reverência como cumprimento) antecipa uma pergunta inteligente.
O terráqueo gostou do que ouviu e reverenciou por considerar a resposta de Mika muito inteligente... Mas Mika falou que mesmo uma resposta inteligente ou correta nunca merece uma reverência... Justificou que “quando se inclina, dá-se passagem”, e “nunca devemos dar passagem a uma resposta” porque ela é sempre (e apenas) “um trecho do caminho”... Só a pergunta ”aponta o caminho para a frente”.
O dia estava amanhecendo e Mika quis saber da estrela que ilumina o nosso planeta... Joakim falou sobre o Sol... E ouviu de Mika que “todo Sol é uma estrela e todas são sóis”... Há relatividade nisso, já que nem todas têm planetas girando em torno... Sendo assim não há viventes que possam chamá-las de Sol...
O encontro das duas crianças nos faz pensar... Joakim troca ideias sem preconceitos, como é próprio das crianças. Certamente a maioria dos adultos teria comportamento bem diferente se estivesse no lugar do menino... Como é que o visitante sideral compreendia e falava a mesma língua? Não seria um invasor com “planos de destruição e dominação” do planeta? Não seria mais prudente eliminá-lo? Em vez disso tudo, Joakim estava mais interessado em conhecer o outro, observar o seu modo de ser e aprender com ele...
Chamava a atenção da criança terráquea o interesse de Mika em querer conhecer a força gravitacional do lugar onde acabara de chegar... Fez isso dando saltos espetaculares, o que indicava que conhecia gravidades mais intensas.
Os atos de Mika eram bem observados por Joakim, que percebia que o outro chupava o polegar enquanto estava imerso em pensamentos; abanava os dedos quando explicava algo; ouvia as respostas atentamente; fazia reverência às perguntas... E pensava outras perguntas.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/12/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder.html
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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