domingo, 26 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - os planos para as ações tokkotai do dia 16 de agosto

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_24.html antes de ler esta postagem:

Sakane preparou um atentado de grandes proporções para o dia 15 de agosto... Essa data é significativa, pois é o aniversário da rendição japonesa (que para ele não passava de farsa), então, em sua opinião, ela merecia um evento gigantesco para mostrar aos inimigos da Shindo que estavam errados. Com os tokkotai reunidos, decidiu que quinze makegumi deveriam morrer simultaneamente às 15:00 daquele dia... Mas ponderaram que a data também possui significado para os brasileiros católicos (que celebram a Assunção da Virgem Santíssima)... Dessa forma, mudaram as ações para o dia seguinte quando, às 16:00, dezesseis makegumi seriam assassinados.
Todos os “marcados para morrer” receberam bilhetes sobre a sentença tokkotai... As acusações referiam-se ao comportamento dos sentenciados, e normalmente citavam o modo como propagaram abertamente sobre a derrota do Japão na Guerra, ou como falaram mal do imperador e sua família. Todos eram orientados a manterem o pescoço lavado e a aguardar a chegada tokkotai.
Jorge Okazaki, colaborador da polícia, citado no caso dos “sete samurais de Tupã”, estava na lista dos que deviam morrer. Ele era um dos mais detestados makegumi porque, além de auxiliar a polícia nos processos contra os kachigume, tinha um escritório imobiliário que prestava importantes serviços ao homem mais rico e poderoso de Tupã: Luiz de Souza Leão... Okazaki tinha muitas afinidades com ele.
Okazaki era um alvo tão precioso que o próprio Sakane pretendia se encarregar de sua morte, porém o tokkotai Kohei Kato insistiu em se responsabilizar pela tarefa como forma de se redimir do fracassado atentado em Inúbia, quando ele falhou, permitindo que Assano escapasse com vida.
Shuro Ohara era outro “selecionado” na lista dos dezesseis... Sobre ele pesava a acusação de distribuir entre os japoneses os jornais que o Consulado Americano havia providenciado por ocasião de sua “Operação Verdade”.
Chama-nos a atenção o fato de, apesar de a Shindo ter sido desmantelada, as operações tokkotai continuaram a receber dinheiro. Morais faz referências à “Casa Marília”, uma loja de ferragens e, ao mesmo tempo, um mercadinho... Seiiti Hayakawa era um seguidor ferrenho da Shindo Renmei. Por ocasião do encontro no Palácio do Governo na capital, Hayakawa exigiu que as autoridades censurassem os noticiários sobre a derrota japonesa na guerra. Ele era um dos sócios da “Casa Marília” e, mesmo preso em São Paulo, orientava os outros donos da loja a fornecerem os recursos que Sakane precisasse em seus projetos. Assim cada tokkotai recebeu os recursos materiais necessários à ação: facas, armas de fogo, munição, bandeiras... Além da orientação de se entregarem às autoridades tão logo cumprisse sua missão.
Então, na tarde do dia 16 de agosto de 1946, na cidade de Tupã, os tokkotai de Sakane estavam preparados e partiram para os ataques marcados para as 16:00.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais-os.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Sakane em São Paulo e de volta a Tupã; considerações sobre essa cidade e sobre o fotógrafo Masashine Onishi

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-eiiti.html antes de ler esta postagem:

A empolgação de Sakane era demais para Kikawa, Tomari e Negoro... Viram que o rapaz concentrava muito ódio aos makegumi, porém decidiram que o seu campo de atuação devia ser o interior, onde despertaria menos atenção das autoridades policiais.
Quando o principal aparelho da Shindo (da Rua Paracatu) caiu no dia 2 de abril de 1946, Sakane estava entre os que acabaram sendo presos. Já havia sido decidido que ele retornaria para Tupã, mas permaneceu detido por três meses... Depois disso foi solto para responder o seu processo em liberdade.
Mas Sakane não estava disposto a aquietar-se e em 21 de julho daquele ano conseguiu reunir vinte tokkotai. Nessa ocasião planejou os atentados que, embora não resultassem em satisfatórios, empolgaram pelas ações impactantes (bomba na casa de Abe e incêndio na de Suzuki).
(...)
Neste ponto é importante tecermos considerações que o livro faz sobre Tupã, sua gente e o fotógrafo Masashige Onishi... Principalmente porque Tupã foi local de episódios tão degradantes quanto os de Osvaldo Cruz (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_18.html).
Tupã é uma localidade que tem sua ocupação marcada pela contribuição de imigrantes. Os registros dão conta de que sua fundação data de 1929, época em que o pernambucano Luiz de Souza Leão tomou as terras que pertenciam aos índios caingangue... O povoado foi formado e sucessivas levas de imigrantes se instalaram em bairros distintos. Esse foi o caso de espanhóis, japoneses, italianos e letões... Em 1945 a cidade possuía 45 mil habitantes e, desses, metade eram imigrantes. Mais de 25% entre eles tinham vindo do Japão.
A população tupãense levava a vida sem maiores complicações... É claro que as intrigas entre os japoneses despertavam curiosidade e críticas... As revelações que as autoridades policiais faziam deixavam todos espantados... E uma delas foi sobre o fotógrafo Masashige Onishi.
Os investigadores descobriram que era de Tupã que saíam as fraudulentas revistas Life em que montagens deturpavam os eventos finais da guerra. Onishi, que havia feito o histórico retrato dos “sete samurais de Tupã” (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_7337.html) era o responsável pelas falsificações... Sobre ele, sabe-se que era um devotado seguidor da Shindo e dos ideais Yamatodamashii, não se importando em admitir que, caso necessário, lutaria contra o Brasil...
Mas nem mesmo as ousadas falsificações despertaram tanta indignação quanto a série de assassinatos que Sakane vinha planejando. Isso é assunto para as próximas postagens...
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Eiiti Sakane

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_20.html antes de ler esta postagem:

A Shindo Renmei estava agonizando... Quase 30 mil japoneses haviam sido presos e uns 4 mil deles foram fichados e identificados... Não se podia dizer que o movimento ainda contasse com uma direção.
De acordo com Morais, Eiiti Sakane era um dos poucos que ainda atuavam como uma espécie de ronin, um “guerreiro solitário”... Seus planos de ação envolviam correrias e ações espetaculares, como foram os casos do incêndio e da bomba...
O início da História de Sakane no Brasil é como o de milhares de japoneses... Chegou ao Brasil ainda bem jovem (contava 19 anos em 1927). Casou-se com Mosako, que conheceu durante a travessia marítima para o Brasil. Com ela teve três filhos. Trabalhou como lavrador na região de concentração de imigrantes japoneses, Cafelândia e Marília. Sua esposa contraiu tuberculose e teve de ser internada para tratamento em São José dos Campos, cujos ares eram indicados aos que padeciam de moléstias respiratórias. Sakane mudou-se com os filhos para as proximidades, passando a viver em Moji das Cruzes e tornou-se ajudante de caminhão. As constantes viagens pela rodovia Rio-São Paulo permitiam-lhe visitas regulares à esposa.
Depois da cura de Mosako, Sakane retornou para Marília e, trabalhando como atendente de farmácia, teve um aprendizado que lhe garantia o sustento. Mudou-se para Tupã, onde conseguiu trabalho de melhor remuneração numa outra farmácia. A vida prosseguiria sem maiores desvios, não fosse pelos contatos que passou a ter com Kanji Aoki.
Aoki era um dos líderes da Shindo Renmei na região de Tupã e contava com o prestígio e a consideração a ele dispensados pelos membros da colônia japonesa, pois era mestre de artes marciais dotado de controle mental impressionante (conseguia manter-se de pés descalços sobre a lâmina do sabre). Ele tinha formação militar e era muito respeitado também pelo conhecimento intelectual que manifestava.
As conversas que Aoki teve com Sakane levaram-no a perceber que este era mesmo um patriota “dos que se dispunham a dedicar a vida pela causa da Shindo Reinmei”. Os episódios do primeiro dia de 1946 em Tupã (o dos “sete samurais”) foram planejados por Sakane. A liderança que ele exerceu na perseguição ao soldado Edmundo levou Aoki a pensar que era “de quadros assim” que a “Liga do Caminho dos Súditos” precisava... Então encaminhou-o para São Paulo, onde Sakane viveria um contato mais próximo com os dirigentes.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_24.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Considerações sobre o Neocolonialismo - um texto didático

Segue este texto didático para reflexões preliminares acerca do Neocolonialismo.


CONSIDERAÇÕES SOBRE O NEOCOLONIALISMO
O século XIX foi marcado pelo Neocolonialismo. Essa palavra, de modo bem simples, significa “novo colonialismo”. Podemos dizer que foi uma nova etapa do Capitalismo, em que as grandes potências europeias colonizaram territórios da África, Ásia e Oceania.  Essa situação tem suas diferenças em relação à Colonização que ocorreu entre os séculos XVI e XVII (Período Moderno).
A colonização mais antiga está relacionada ao Mercantilismo que os Estados Nacionais praticavam... Podemos chamar a essa fase anterior de Capitalismo Comercial... Os países europeus eram governados por reis que exerciam amplos poderes (ocorria o chamado Absolutismo Monárquico), que exerciam um forte controle na Economia (Mercantilismo). O colonialismo que ocorreu durante o Período Moderno foi impulsionado pelas grandes navegações. Portugal e Espanha foram os principais países colonizadores, metrópoles que exploraram sobretudo o continente americano. O Tratado de Tordesilhas (1494) garantiu a divisão do continente entre os dois países. Mas é verdade que Inglaterra, França e Holanda também realizaram conquistas em terras desse continente... Territórios africanos e asiáticos também sofreram explorações coloniais de Portugal e Espanha. Os governos exerciam o Monopólio Comercial, concedendo a determinados grupos o direito de explorar determinadas atividades extrativistas ou comerciais. Riquezas, como os metais preciosos, foram exploradas dessas terras... Seus povos foram escravizados... Milhões de africanos foram transferidos compulsoriamente para a América... O tráfico de escravos era outro “negócio” altamente rentável.
O “novo colonialismo” pertence a um momento em que as nações europeias haviam superado o Mercantilismo e o Absolutismo Monárquico. Devemos lembrar que o século XVIII havia sido marcado pelo Iluminismo, pela Revolução Industrial, Independência dos Estados Unidos, pelas revoluções burguesas na Inglaterra e França... As sociedades tornaram-se liberais e passaram a ser organizadas por Constituições que limitava o poder político.
Inicialmente os países industrializados conseguiram sanar suas necessidades de matéria-prima e mercado consumidor no próprio continente europeu. Porém, conforme o tempo passou, ele tornou-se insuficiente em relação à concorrência que passava a ser cada vez maior... Sobretudo depois que Itália e Alemanha se industrializaram a partir da segunda metade do século XIX (tardiamente em relação à Inglaterra e França). Essa fase do Neocolonialismo foi marcada por parcerias que os governos firmaram com os grandes conglomerados industriais (verdadeiros monopólios) na conquista das colônias visando novos mercados consumidores, fontes de matérias-primas, mão-de-obra mais barata e áreas onde investir o capital que havia sido gerado anteriormente... Houve, então, a expansão do capitalismo industrial e financeiro... Houve o domínio dos países desenvolvidos sobre os que ainda não haviam desenvolvido indústrias. Dizemos que os países que desenvolveram essas explorações durante o Neocolonialismo exerceram o Capitalismo Imperialista.
Tanto na África, como na Ásia e Oceania podemos notar algumas modalidades desse imperialismo. Havia os territórios coloniais, nos quais o domínio da metrópole era territorial, militar e administrativo. Os governos europeus incentivavam a emigração para essas colônias. Havia os protetorados, nos quais os chefes locais eram mantidos para garantir o controle econômico exercido por uma potência estrangeira. Algumas regiões não passavam de áreas de influência, onde uma potência estrangeira desbancava outras e garantia vantagens comerciais.
Assim como durante o Período Moderno, a fase imperialista do capitalismo contou com a atuação de religiosos (não só católicos) em meio às terras e povos dominados. As culturas locais foram desrespeitadas, reforçando o conceito que os brancos europeus tinham de si mesmos. Pois consideravam-se superiores aos demais e encarregados da missão de “civilizar” os povos conquistados, classificados como inferiores e atrasados... Essa “missão” escondia as verdadeiras intenções econômicas da potência europeia.
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - o debate sobre a questão japonesa na Assembleia Constituinte de 1946

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_18.html antes de ler esta postagem:

Os debates em torno da questão dos imigrantes (e em particular dos japoneses), que ocorreram durante a elaboração da Constituição de 1934 (como citado em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_31.html), voltaram por ocasião da Assembleia Constituinte de 1946... A situação do confisco dos bens dos japoneses era tema de discussões e alguns deputados defendiam sua devolução, já que a guerra havia terminado e o mais produtivo, para o país, seria o retorno à normalidade... Outra preocupação de constituintes era em relação à necessidade de “braços para a lavoura”, algo que seria amenizado com a estabilização completa do trabalho imigrante.
Mas principalmente após os episódios de São Paulo, em que as autoridades haviam realizado o encontro que resultou em favorável ao pessoal da Shindo, houve um sério descontentamento em relação ao tipo de iniciativa citado anteriormente. Miguel Couto Filho (assim como seu pai em 1934) era um dos mais radicais, e via em qualquer benefício aos japoneses uma ameaça ao país...
Assim, com o apoio dos representantes comunistas (entre eles o escritor Jorge Amado, Luis Carlos Prestes, Carlos Marighella e Gregório Bezerra), Couto Filho conseguiu o arquivamento da “questão japonesa”... Os episódios em São Paulo levaram esses e outros constituintes a defenderem a expulsão dos membros da Shindo Renmei, que consideravam uma organização mafiosa. Alguns consideravam, ainda, que os japoneses estavam mesmo dispostos a levarem a sério o “projeto de conquistar o mundo”.
Comunistas, como o ex-sargento José Maria Crispim, não se conformavam como o governo paulista havia tratado tão bem os “criminosos japoneses” e, em referência a movimentos operários da época, não aceitava dialogar com operários grevistas... Não passa despercebida a posição de representantes paulistas na Assembleia sugerindo maior cautela no trato da situação dos imigrantes japoneses.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-eiiti.html
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Um abraço,
Prof.Gilberto

“A Revolução dos Bichos” – Relações com a História

Depois das narrativas sobre o filme Revolução dos Bichos neste blog, seguem essas linhas sobre algumas analogias que podemos fazer:



Não há como ler Revolução dos Bichos, de George Orwell, ou assistir ao filme nele inspirado, sem relacioná-lo enquanto uma fábula sobre a trajetória do Socialismo que tantos sonharam tornar-se realidade, mas viram com decepção a experiência soviética resultar em totalitarismo com Stalin.
Assistimos ao velho idealista porco Major revelando seus sonhos e princípios. Logo pensamos em Lênin... Entre os animais há aqueles que consideram uma loucura, algo descabido, alcançar uma realidade sem o explorador (representado pelo fazendeiro Jones, que além de maltratar os animais, possui vícios degradantes como a preguiça e a bebida)... Um deles é a égua Mollie, que acha bom quando é enfeitada pelos humanos e não vê como poderia fazer isso sem eles. Muitos bichos percebem as revelações do Major como perigosas e improváveis... O rato, por exemplo, não sabe se conseguirá viver “sem negociar”. Mas também vemos Jessie, que é a cadela esperançosa de uma nova realidade para os explorados, e há Boxer que é o cavalo disposto a sacrificar-se pelo sistema... Não é preciso muito esforço para enxergar aí a complexa cadeia de reações daqueles que fazem parte da “camada social não dirigente” quando se deparam com as motivações para a mudança...
A revolução ocorre... Ela é o resultado de uma crise... O modelo existente não tinha como prosseguir. Jones se endividava, não tinha como pagar os credores e se mantinha com o seu procedimento degradante... A realidade torna-se insustentável para os explorados... Também aí a História é refletida...Tantas crises a humanidade vivenciou e que resultaram em movimentos sociais... Impérios como o dos Romanov (só para ficarmos com a temática em questão) foram derrubados.
O velho Major morreu e se tornou um ícone... Entre os insurgentes vitoriosos temos duas correntes: Snowball, que pode ser o Trotsky do pedaço; e temos Napoleão (o Stalin) e seu staff, que tem em Squealer o principal integrante.
Snowball pretende preparar melhor os membros da sociedade que surge... Quer que dominem leitura e escrita, que conheçam e defendam o Animalismo (Socialismo)... Ele foi decisivo na formação de seu exército de animais (o “exército vermelho”) para a luta contra os ataques que a fazenda sofreu... E sempre se mostrou disposto a tornar a sociedade mais eficiente e dar prosseguimento à Revolução, levando-a às outras fazendas (internacionalismo).
O porco Napoleão tornou-se o líder máximo com a ajuda de Squealer... Podemos dizer que eles passam a comandar o “Partido” que chefiará a nova realidade... O “Comando Supremo” criou uma poderosa guarda liderada pelo enorme rottweiler Pincher... Tratou de perseguir Snowball (assim como Stalin perseguiu Trotsky e tantos outros que considerava inimigos políticos). Sem opositores, Napoleão modelou a sociedade a partir de seus interesses. Anulou qualquer possibilidade de a Revolução expandir-se às outras fazendas... Bem ao contrário disso, procurou “garantir as conquistas do Animalismo internamente”. O “serviço de propaganda” realizado por Squealer possibilitava o controle das mentes dos governados.
Os governados dedicavam-se às tarefas que acreditavam torná-los livres... Porém percebiam que seu cotidiano era de trabalho árduo e que suas condições de vida tornavam-se cada vez mais degradantes... Enquanto sequer tinham o que comer, os porcos (“vanguarda” da Revolução) ficavam com as provisões de leite e, além de não trabalharem pesado, permaneciam no conforto da sede da fazenda... O cavalo Boxer era o que podemos chamar de “operário padrão”. O Sistema chamava a atenção de todos para a sua abnegação no trabalho... O pobre Boxer acreditou nos dirigentes e que o seu trabalho era essencial para o Animalismo. Agonizante foi enviado ao Matadouro de Cavalos numa negociação de Napoleão com os inimigos da Revolução... É bem isso o que ocorreu no Socialismo costurado por Stalin... Algo que se repetiu em todo o leste europeu... À classe dirigente os privilégios; ao povo o árduo trabalho, anulação das liberdades individuais e migalhas.
Assim como Stalin, o Napoleão de Animal Farm desviou-se dos princípios do Animalismo... Alterou esses princípios por vaidade pessoal... Com a ajuda de Squealer e da repressão impôs novos princípios. Negociou com os antigos inimigos e converteu-se na figura repleta de vícios que o Animalismo rejeitava. Devemos levar em consideração que as atitudes deploráveis eram heranças do modo de vida do explorador, bem caracterizado em Pilkington, um tipo sem escrúpulos (a ponto de envolver a própria esposa em negociatas) quando a proposta é levar vantagem ou “passar para traz” aqueles que representam alguma ameaça... Dessa forma destruiu-se e destruiu a esperança dos que sonhavam com o igualitarismo.

Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 18 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - o massacre em Osvaldo Cruz

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Se você pensa que o que aconteceu com Takeiko representou a manifestação brutal coletiva de pessoas que transpiravam ódio contra o imigrante japonês, deplorará os fatos da narrativa que segue.
Muitos dos que assistiam ao massacre que Takeiko sofria sentiam-se contagiados e passaram a invadir casas de famílias japonesas, arrastavam-nas às ruas para espancar. Mulheres, crianças, jovens ou velhos não escapavam da ira de pessoas que, no cotidiano, eram pacatas...
Japoneses eram capturados a laço, humilhados e surrados. O panorama era de “histeria coletiva” e o prefeito (Valdemar Pio de Oliveira) e o delegado (Eduardo Paixão) tentaram, através do serviço de som (com suas cornetas típicas das cidades interioranas), acalmar as pessoas e solicitar que elas voltassem às suas casas... Mas foi em vão... O teatro de horrores prosseguia e os japoneses eram jogados de um lado para o outro, para o alto, atirados ao chão, atingidos com pauladas e com objetos perfurantes.
O médico Osvaldo Nunes passou a socorrer os feridos. Sua atitude foi reprovada pelos mais violentos, que tentavam impedi-lo. O doutor empunhou uma arma e fez ameaças aos ensandecidos. Conseguiu levar alguns feridos para a delegacia, onde esperava protegê-los, e tratou de ligar para a Companhia do Exército em Tupã.
Havia uma grande preocupação em relação à chegada das crianças de famílias japonesas sitiantes para o período escolar que se iniciaria... Felizmente elas foram protegidas a tempo. A brutalidade cessou após a chegada dos militares...
O lamentável episódio fez o pessoal da Shindo Renmei se unir ainda mais em torno de suas convicções, seus militantes consideravam os makegumi (mais precisamente Abe e Suzuki, que haviam escapado dos recentes atentados) responsáveis pelo massacre nas ruas de Osvaldo Cruz.
Surpreendentemente, no começo de 1947 chegou à Delegacia da cidade uma Ordem de Prisão contra Abe. Essa deve ser considerada a vingança da Shindo... E só pode ser entendida a partir dos laços políticos que ela estabelecia com Ademar de Barros, político populista eleito ao governo do estado. Em sua campanha eleitoral ele conseguiu o apoio da Shindo em troca de certas promessas.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_20.html
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Prof.Gilberto

"Corações Sujos", de Fernando Morais - assassinato de Nego; início da "selvageria" em Osvaldo Cruz

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O caminhoneiro Pascoal de Oliveira (conhecido como Nego) viajou de Bastos a Osvaldo Cruz... No caminho sofreu uma fechada de outro caminhoneiro, que quase provocou sua morte...
À noite, após o jantar, Nego foi bebericar no Bar de Chico Costa. Lá pelas 22:00 chegou Kababe Massame, o caminhoneiro que se envolveu no acidente... Nego aproximou-se dele para tirar satisfações, mas foi atingido por um punhal de golpe certo no coração. Esse assassinato provocou episódios horrendos envolvendo brasileiros, que queriam vingar a morte de Nego, e japoneses nas ruas de Osvaldo Cruz.
O velório de Nego foi marcado pela presença de muitos brasileiros indignados. Diversos deles estavam armados com porretes... Queriam vingança, e alguns seguiram para a Vila Califórnia, pois ficaram sabendo que Massame se refugiara lá. De fato, foi encontrado numa latrina, de onde foi arrancado a pauladas... Massame só não morreu graças à intervenção do delegado de polícia.
O caso bem podia encerrar-se por aí, mas no dia seguinte outro episódio desencadeou nova selvageria... No Bar do Ponto a conversa de brasileiros era sobre os atentados promovidos pela Shindo Renmei na cidade e o crime que vitimou o motorista Nego... Takeiko Massuda não suportou as ameaças que ouviu dos indignados que se diziam dispostos a descarregar “em qualquer japonês” o ódio acumulado... Takeiko não se intimidou e respondeu que para ele a morte de Nego não fazia diferença, já que “além de brasileiro era preto”... Para ele, a “morte de vagabundos” era um benefício.
Evidentemente os ânimos se acirraram. O dono do bar ouviu ameaças mais agressivas e provocações sobre a sua capacidade de “macho o suficiente” para matar brasileiros. Ele, que detinha o mais alto grau como lutador de judô (faixa preta nono Dan), mesmo estando cercado de brasileiros irritados, encarou-os. Inicialmente apenas um foi para cima do japonês, mas ele foi facilmente dominado com golpes certeiros... Na sequência mais e mais brasileiros cercaram o dono do bar... Mas só com o envolvimento de dezenas de opositores dando pancadas é que o japonês foi imobilizado, mãos e pés amarrados, arrastado pelas ruas.
O degradante espetáculo aumentou a temperatura da agitação dos que se envolviam diretamente ou dos que assistiam ao massacre que Takeiko sofria.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_18.html
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - atentados contra Abe e Suzuki

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Takeiko Massuda era mestre em artes marciais... Ele possuía o Bar do Ponto, em Osvaldo Cruz, um local em que o pessoal kachigume se encontrava. Dizia-se que o bar também se prestava a proteger tokkotai em treinamento ou foragidos. Foi no Bar do Ponto, na noite de 22 de julho de 1946, que Sakane decidiu que era momento de acabar com as vidas de Abe e Suzuki. As duplas organizadas anteriormente atuariam novamente, sendo que Yiama e Itikawa iriam incendiar a casa de Suzuki; Kato e Yoshida explodiriam a casa de Abe.
Takeiko Massuda era mestre em artes marciais... Ele possuía o Bar do Ponto, em Osvaldo Cruz, um local em que o pessoal kachigume se encontrava. Dizia-se que o bar também se prestava a proteger tokkotai em treinamento ou foragidos. Foi no Bar do Ponto, na noite de 22 de julho de 1946, que Sakane decidiu que era momento de acabar com as vidas de Abe e Suzuki. As duplas organizadas anteriormente atuariam novamente, sendo que Yiama e Itikawa iriam incendiar a casa de Suzuki; Kato e Yoshida explodiriam a casa de Abe.
José Pombalino era um tipo que contava com vários jagunços... Ele ofereceu os serviços de seus matadores ao amigo Yutaka Abe, mas este, pacato e religioso que era, recusou a vingança.
O atentado à casa do farmacêutico Suzuki foi potencializado devido às garrafas de álcool que ele armazenava em um dos cômodos... Mas também este se deu em fracassado porque Suzuki saiu atirando nos terroristas, que fugiram em disparada.
A cidade estava em polvorosa, pois muitos brasileiros se revoltaram contra as ações lideradas por Sakane... Uma semana depois ocorreria o assassinato de um caminhoneiro brasileiro... Ele foi morto com um punhal por um japonês.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_18.html
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Osvaldo Cruz, episódios que antecederam uma tragédia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_10.html antes de ler esta postagem:

Na cidade de Osvaldo Cruz menos da metade de seus 12 mil habitantes era de japoneses. Porém, nessa localidade os seguidores da Shindo eram tão radicais que, além dos ataques aos makegumi, eram conhecidos por ameaças que faziam aos brasileiros (a quem chamavam de gaijin) de tornarem-se subjugados tão logo o Japão concretizasse seu vasto império.
Ao que tudo indica, apenas Izuyo Suzuki (farmacêutico) e Yutaka Abe (engenheiro) não pertenciam aos quadros da seita em Osvaldo Cruz. Suzuki era um tipo mais discreto; Abe propagava suas convicções mais abertamente. Diferentemente da maioria dos membros da colônia nipônica, Abe passara boa parte de sua vida em Minas Gerais, onde nasceram os seus filhos. Ele era tão “descolado” das tramas que envolviam makegumi e kachigumi que um de seus filhos, Shiguemizu, tinha o nome cristão de Marcelo. Sua família havia se convertido à Igreja Batista.
Os problemas de Abe com a Shindo Renmei surgiram depois que a associação promoveu um encontro no clube japonês (bunka) para discutir a situação da pátria-mãe após a guerra. Abe não titubeou ao manifestar-se, esclarecendo que não acreditava em nenhuma das afirmações propagadas pelos nacionalistas... Foi confrontado publicamente por San-It Chimen, madeireiro e corretor de imóveis também conhecido por ser o principal líder da Shindo Renmei em Osvaldo Cruz... Abe deixou a reunião do bunka acompanhado pelo farmacêutico Suzuki antes que ela terminasse... Ouviram os mais diversos impropérios e ameaças da assembléia.
Abe, de certa forma tinha confiança para assim proceder... Ele tinha autorização policial e por isso andava armado. Sua casa era bem iluminada e cada membro de sua família também possuía uma arma. Logo teremos notícias sobre atentados que sofreram... Mas é importante conhecermos um pouco dos ataques anteriores aos que eles viriam a sofrer...
(...)
Era o enfermeiro Eiiti Sakane (um dos “sete samurais” dos episódios em Tupã contra o cabo Edmundo que havia profanado a bandeira japonesa) que articulava os planos de ação dos tokkotai na região. Em julho de 1946 ele incumbiu Sueto Yiama, Kazuto Yoshida, Kohei Kato e Kohei Itikawa de assassinarem dois makegumi de Osvaldo Cruz, que viviam no distrito de Inúbia. Um deles era Assano, que deveria ser executado por Kato e Yoshida; o outro era o sitiante Maramatsu, cujo assassinato ficou ao encargo de Yiama e Itikawa... Toshimi Assano, que os tokkotai acreditavam ser farmacêutico, era um bem sucedido advogado com excelente relacionamento com autoridades, era intermediário em negócios de compras e vendas de terras e, graças ao domínio de vários idiomas, acompanhava empresários em viagens aos Estados Unidos.
De fato, quando Assano sofreu o atentado, estava atendendo no balcão da farmácia de seu filho. Os tokkotai atiraram em sua cabeça e fugiram, o tiro fez um estrago considerável, mas não foi fatal... Já o atentado contra Maramatsu não se concretizou porque ele estava viajando.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_17.html
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Prof.Gilberto

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Filme: A Revolução dos Bichos – é o fim.

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/filme-revolucao-dos-bichos-o-lider.html antes de ler esta postagem:


Os porcos aproveitavam o seu momento favorável e bebiam o mais que podiam do uísque trazido por Pilkington... Na sequência, Squealer segue bêbado até a parte do celeiro onde estão os mandamentos do Animalismo, ele faz as alterações pretendidas, cai da escada com a tinta e tudo, e adormece ao relento... Pincher chega e o alerta que Napoleão está morrendo... Squealer responde que ele também padecia do mesmo fim. Porém nenhum dos dois morreu... Permaneceram no vício da bebida enquanto exploravam os outros animais nos trabalhos de reconstrução do moinho.
Boxer teve um acidente de trabalho e foi encontrado caído próximo ao moinho. É Jessie que vai ao seu socorro... O cavalo não conseguia respirar, só conseguia pensar se havia realizado trabalho suficiente para garantir a continuidade da obra. É recolhido ao celeiro onde permanece aos cuidados de Jessie... Squealer anuncia que Napoleão, líder leal, cuidaria de enviar Boxer a um hospital, assim, ordena que Jessie volte ao trabalho. No dia seguinte a cadela desperta o amigo dizendo que o caminhão do hospital havia chegado para levá-lo, mas Boxer estava tão cansado que não conseguia levantar-se.
Todos seguem para despedir-se do leal amigo que, a muito custo, entrou no caminhão... Quando o caminhoneiro e seu ajudante fecharam as portas os animais tiveram a surpresa ao lerem que o veículo era do Matadouro de Cavalos. Boxer seguiu para a fábrica de cola... Inúteis foram os esforços dos amigos que queriam retirá-lo de lá. Na casa da fazenda, Pilkington se mostrava satisfeito com mais este negócio lucrativo e depositava grande quantia sobre a mesa... Napoleão dizia que preferia o pagamento em uísque.
Jessie e o burro conversavam sobre a necessidade de se retirarem com o maior número possível de animais da fazenda... A Revolução havia se perdido... Squealer continuava com sua campanha anunciando “Vida longa à fazenda animal!”, “Vida longa a Napoleão!”, “Napoleão está sempre certo”... Ele queria fazer crer que Boxer havia sido vítima do traidor Snowball...
Pilkington traz a esposa para juntos beberem com Napoleão e o fiel Squealer... É uma cena medonha, mas o homem faz um brinde e vira a tigela dos porcos na própria boca. Ele carrega Napoleão de elogios enquanto o leva a ingerir grandes quantidades de uísque. O porco decide que a fazenda voltará a se chamar Manor... Jessie observa a bebedeira e não vê diferença entre os convivas... Ao se retirar acompanha o bode e o burro em mais uma leitura das regras do Animalismo. Eles veem que outro item foi alterado: onde se lia que todos os animais são iguais, notaram a emenda “mas alguns são mais iguais que outros”.

Jessie não perde tempo, sabe que tudo está perdido para os animais sob a liderança de Napoleão e Squealer... Retira os colegas que estão na sessão de cinepropaganda, onde uma fita apresenta uma ária em que patos e gansos cantam, enquanto ovelhas desfilam em honra a Napoleão, que surge uniformizado e sobre duas patas, como se homem fosse...
A cantoria prossegue “quatro patas bom, duas pernas melhor!” No encerramento o grande líder anunciava o fim das ameaças à fazenda, pois ele ordenou a fabricação de armas para a construção de muralhas que protegeriam o modo de vida da fazenda... A revolução chegou ao fim e todos são livres.
Os amigos de Jessie partem com ela para o esconderijo... Ali permaneceriam afastados das perseguições dos capangas de Napoleão... Aguardaram por muito tempo até terem certeza do momento correto para o retorno. Voltaram na certeza de Napoleão e seus seguidores terem se afogado na própria loucura... A fazenda estava destruída, mas entre os escombros havia sobreviventes (inclusive um dos filhotes de Jessie)...
A vida prosseguiu e novos donos chegaram à fazenda. A esperança renascia...
Este é o fim.
Indicação (livre)

Um abraço,
Prof.Gilberto

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