sábado, 31 de dezembro de 2011

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Primórdios da imigração japonesa

Sugiro que acesse http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_7337.html antes da leitura deste texto.

O relato sobre os “sete rebeldes” de Tupã nos leva a pensar sobre o seu passado e de que forma teriam se articulado para chegarem aos episódios que vivenciaram no início de 1946. O mais surpreendente é que fazia poucos meses que se conheciam... O texto leva-nos a entender que eles representavam uma significativa parcela da colônia japonesa que estava vivendo no limite da angústia por permanecerem numa terra estrangeira em que sofriam todo tipo de preconceito. É claro que o que os unia eram convicções ideológicas que, em breve, pretendo tratar aqui...
Morais nos remete a 1908, quando ocorreu a chegada da primeira leva de (165) famílias japonesas ao Brasil. Após desembarcarem no porto de Santos foram encaminhados à Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás, em São Paulo. De lá eram direcionados para o oeste paulista para o trabalho nas fazendas cafeeiras.
Havia um acordo entre os governos do Brasil e do Japão em relação à imigração. Mais 3434 famílias japonesas imigraram para cá nos anos seguintes, o que corresponderia algo em torno de 15 mil pessoas... A época da primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou um crescimento impressionante da colônia japonesa, e no período 1917- 1940 mais 164 mil japoneses entraram no Brasil.
A lista de traumas vivenciados pelos colonos é imensa... O sonho alimentado pelas promessas de um ambiente paradisíaco onde pudessem iniciar uma nova vida se tornava pesadelo tão logo começavam o cotidiano de árduo trabalho nas fazendas, morando em casebres e estranhando os gordurosos hábitos alimentares dos brasileiros, dos quais sofriam todo tipo de preconceito e discriminação. Os homens eram maldosamente chamados de “bodes” e as mulheres de “macacas”... Sofriam todo tipo de desprezo...
As autoridades governamentais, embora inicialmente favoráveis à imigração, eram praticamente ausentes em meio às cidades que surgiam e cresciam no oeste paulista. Os colonos japoneses eram abandonados à própria sorte... Assim, foi natural que cooperativas por eles criadas tomassem a frente na organização da vida. As agências nipônicas responsáveis pela imigração também se encarregavam de prestar assistências e garantir o acesso à terra... É claro que os japoneses desenvolveram atividades diversas e aos poucos vários foram "largando a enxada"... Alguns se destacaram em outros segmentos... Gengo Matsui, por exemplo, é citado no livro como alguém que se especializou em projetar filmes nipônicos às comunidades que visitava de tempos em tempos.
Então, apesar dos percalços da integração, os japoneses conseguiam certo alívio nas sociedades que organizavam, já que elas permitiam festivos encontros ocasionais. O autor também faz referências a entretenimentos locais que os estrangeiros se tornaram habitués, como o Jogo do Bicho e prostíbulos na região de Marília.
Políticos constituintes em 1934 apresentaram projetos de lei que inibiam a imigração dos asiáticos por considerarem-na “perigosa” à estabilidade nacional. Dom Sebastião Leme, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, também fazia advertências sobre o modo de vida dos japoneses e sua “incompatibilidade” em relação aos procedimentos católicos. O certo é que a Constituição de 1934 determinou que o contingente de imigrantes japoneses ao Brasil tornou-se limitado por lei a, no máximo, quatro mil por ano. As pressões sobre os colonos estavam apenas começando.
A imagem selecionada para esta postagem foi extraída de http://oriundi.net/site/oriundi.php?menu=noticiasdet&id=9149 (31/12/2011;8:30).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/01/sugiro-que-acesse-httpaulasprofgilberto.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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