quarta-feira, 4 de maio de 2011

Considerações sobre Indústria, Trabalho e Cotidiano: Brasil - 1889 a 1930, de Maria A. Guzzo de Decca


Já que os últimos dias foram marcados por postagens relacionadas ao trabalho, industrialização e movimentos sociais urbanos, resolvi tecer alguns comentários sobre este livro paradidático da Editora Atual.
O livro de Maria Auxiliadora G. de Decca, Indústria, Trabalho e Cotidiano: Brasil – 1899 a 1930, é de fácil compreensão e pode ser bem aproveitado com os nossos alunos quando propomos as temáticas da industrialização, formação do operariado e movimentos sociais urbanos ao tempo da República Velha.
A primeira parte do livro trata de situações motivadas pela produção cafeeira no Oeste Paulista a partir da segunda metade do século XIX, onde as estruturas diferenciavam-se muito das demais regiões. Ali notava-se a predominância do trabalho assalariado (de imigrantes), modernos sistema de transporte e armazenamento, além de mecanização parcial da produção. De certo modo, podemos dizer que estava em curso um desenvolvimento capitalista... Bem diferente de outras realidades do país, onde o escravismo ainda prevalecia.


Sabemos que diversos fatores contribuíram para a industrialização de nosso país (e notadamente na região Sudeste)... Entre esses fatores estão o investimento em outros setores de produção após a extinção do tráfico negreiro de 1850, e a possibilidade de investir em fábricas no começo do século XX (principalmente ao tempo da I Guerra Mundial) graças à acumulação de capital gerada pela produção/exportação de café.
De Decca mostra que os grandes lucros auferidos proporcionaram o desenvolvimento industrial... E urbano também. A autora mostra o surgimento das duas classes protagonistas a partir de então, a dos industriais e a do proletariado. Revela a transformação sofrida pelos centros urbanos (não só São Paulo e Rio de Janeiro) com a criação das indústrias e dos bairros operários... Os primeiros industriais foram, de fato, grandes fazendeiros e comerciantes importadores, notadamente os imigrantes que tinham certas facilidades em relação à possibilidade de fabricar produtos que antes eram importados da Europa. Isso tudo somado à sua condição de investidores europeus (endinheirados) favoreceu a criação de gigantescas indústrias. A autora cita alguns que marcaram o início da industrialização em nosso país: Matarazzo, Crespi, Gamba, Diederichsen, Lundgren, Jafet, Weissflog, Klabin... Esses empresários logo se diferenciaram em relação aos demais setores burgueses da população e, em pouco tempo, formaram suas associações de defesa de interesses... O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) surgiu ainda durante a década de 1920...


Os primeiros empresários eram rígidos em relação às normas e disciplina no trabalho. Vilas operárias, como a Maria Zélia, foram criadas também como forma de manter o controle sobre as atividades operárias fora da jornada de trabalho... O modo pobre de viver levou os operários a se identificarem como iguais e, juntos passaram a reivindicar as melhores condições. De Decca faz ainda um levantamento das greves que ocorreram no início do século passado, as perseguições sofridas pelas lideranças, apresentando as tendências político-sociais mais presentes em seu meio: o anarquismo, o socialismo e o comunismo.
A segunda parte do livro apresenta várias reproduções de documentos sobre o período e as temáticas relacionadas à industrialização. Temos fragmentos de textos jornalísticos e de cientistas sociais, fotografias, dados estatísticos, propagandas... Tudo contribui para a apreciação do período, as condições das fábricas (sua estrutura, produção e influência no meio em que se encontravam), o cotidiano dos trabalhadores (moradia, lazer, instrução, alimentação, transporte, saúde, organização sindical...).

Leia: Indústria, Trabalho e Cotidiano: Brasil - 1889 a 1930. Editora Atual.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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